A Esquizofrênica

By RebeccaAUGM

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Lucy, uma adolescente de dezesseis anos que vive em uma clínica de reabilitação desde os seis anos de idade... More

Minha prisão.
Minhas ataduras.
Meu jardim - Parte I.
Meu jardim - Parte II.
Minha ferrugem.
Meu acordo.
Meu pôr do sol.
Minha surpresa.
Meu medo.
Meu problema.
Meus defeitos
Meu pai
Meu mundinho
Meu grito
Meu aroma.
Minha nova dor.
Minha visita.
Meu cadeado.
Minha discussão.
Minhas cócegas.
Mais que isso.
Minha sorte.
Meus Remédios.
Regressando.
Minha mãe.
Minha ligação.
Pequeno troféu.
Sanidade.
Meu sol.
Frankie.
Meu encontro.
Meu.
Minhas cores.
Pronta.
Começando a entender.
Minha mudança.
Especial.
Vozes.
Penumbra.
Meu sedativo.
Minha chuva.
Minha boia.
Minha família.
Minha destruição.
Minhas gramas.
A verdade.
Meu furacão.
Acabou?
A Esquizofrênica.

Minha hora.

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By RebeccaAUGM

Quando Lucy acordou Kloe estava deitada no sofá segurando o celular enquanto seu rosto carregava um sorriso.

Gale.

— Hum. — sentou-se na cama. — Como está meu pai? — seu sorriso malicioso enquanto se espreguiçava não entrou no campo de visão da enfermeira, o celular, ou melhor, seu pai, tinha toda sua atenção.

— No trabalho. Ele está bem. — soltou, inerte. — Oh. — agora sim. — Luc... — foi cortada pela voz sonolenta da menina.

— Pare com isso, ok? Eu gosto. — sorriu. — Gosto de te ver feliz e meu pai também. Gosto de ver vocês dois felizes, juntos. — assinalou.

Flyn levantou-se do sofá deixando seu celular lá e abraçou a garota, acariciando seus cabelos.

— Gosto de lhe ver assim. — a voz da enfermeira falhou. — Feliz, sorrindo, rindo, ou o que quer que seja. — riu nervosa, se engasgando com suas próprias lágrimas.

Orgulho.

Era isso que ela sentia.

Viva.

Era assim que Lucy se sentia.

Depois de comer algo a menina rumou para o jardim, passando pelo pátio cheio de gente com tanta convicção em seus pés quanto à certeza de estar viva, de respirar e expirar. Tentou não pensar no que as pessoas achavam ao lhe ver praticamente correndo igual uma doida a caminho do jardim. Afinal, quem seriam eles para julgar? Rompeu pela porta do jardim ofegando. Estava animada e ultrajada por ver tantas pessoas aglomeradas naquele bendito jardim, mas não queria entrar na roda; rumou para longe das pessoas e alcançou um lugar isolado, quase perto do alojamento dos enfermeiros da clinica, mas perto o suficiente de uma menina encostada no tronco de uma árvore, os cabelos vermelhos combinando com o sangue que andava por sua pele.

Oh!

Dank paralisou, seu calcanhar subitamente pinicando como se as gramas estivessem tentando alertar Lucy para ir embora. A ruiva não gemia ou gritava, sua expressão era vazia ao se arranhar; sua coxa direita sangrava, sujando a grama com suas lágrimas vermelhas.

O corpo também chora.

E agora o choro da menina não existia, eram somente lágrimas, lágrimas essas que estavam sujando a grama. Lágrimas de sangue.

A garota de cabelos pretos olhou para o braço da menina sentada para a mão, e não encontrando nada seus olhos regressaram para o pulso acariciando o local com seus olhos negros; a menina sentada pareceu sentir, virando o rosto vazio para a esquizofrênica, e agora sim gemeu rancorosamente em choro, desmanchando-se em lágrimas.

Seu chamado de socorro.

Lucy reconheceu aquela garota, era a mesma do refeitório que a acenava enquanto sorria.

Um sorriso pode esconder tantas dores...

Seus joelhos arderam ao ralar na grama novamente como se as mesmas não quisessem Dank ali, quisessem a afastar. Lucy sentou-se em cima de seus calcanhares no lado esquerdo do corpo da garota, sua mão direita pousando em cima da mão da menina de cabelos vermelhos que por sua vez estava com as unhas cravadas em sua coxa ensanguentada. Seus olhos se comunicavam, mas a esquizofrênica nada falava, só deixava sua mão lá parando a da menina que antes arranhava sua coxa realizando acordes, tocando a música de sua dor, ambas as mãos descansando em cima do sangue quente. Lucy deixou a menina chorar, seus olhos escuros impassíveis não vacilaram ao encarar a dor em seus olhos. A dor e Dank já eram velhas conhecidas.

— Obrigada. — ouviu os lábios cansados da menina, sussurrar.

— Obrigada pelo quê? — sua voz era dura, não repreensiva, mas tensa pelo que tinha em mãos.

— Por me fazer chorar.

Dank não soube o que pensar, ou melhor, soube, mas não sabia o que falar.

De nada...?

— Eu estava explodindo. — soluço. — E ninguém notava. — outro soluço, pendendo a cabeça para o lado como um peso morto. — Eu queria que percebessem. — tossiu. — Muito. Eu precisava. — outra tosse, engasgou com suas próprias lágrimas. — E não é para chamar atenção dos outros, você a cima de todos sabe. — voltou a olhar para a esquizofrênica. — É para chamar a própria atenção. — fungou. — É para saber que você está viva quando todos acham que você está morta. Quando até você mesma começa a achar isso. — acesso de tosse, dessa vez se engasgando com as palavras não ditas.

A garota em chamas definiu Lucy naquele momento, e agora Dank soube colocar em palavras sua própria verdade. A ruiva não devia explicações para a esquizofrênica, sabia disso, mas a explicação não era para a Lucy, mas sim para si; devia a si mesma uma explicação, e agora, colocando em palavras, parecia ridículo.

— Isso parece ridículo. — soltou uma tosse risonha, tirando a mão ensanguentada de baixo da mão da morena, limpando os olhos com o antebraço — Mas eu só precisava saber que eu estava viva.

A menina que ainda sangrava depositou a mão suja de sangue em cima da de Dank que continuava quieta.

— Naquele dia quando eu olhei para você, eu vi que as pessoas estavam enganadas. — Oh! — Todos viam você como uma pessoa com a humanidade morta, uma pessoa quebrada mais do que todos por aqui, um exemplo para não ser seguido, caso contrário acabariam como você. — sorriu. — E por um momento, eu quis isso.

Lucy engoliu, tirando os cabelos pretos dos olhos com o antebraço já que a mão estava suja de sangue.

— Não sou um bom exemplo a ser seguido.

— Quem é? — a ruiva continuou. — Mas você provou que todos estavam enganados, Lucy. — queria a convencer. — Você é melhor que isso tudo.

Dank expirou profundamente.

— Vocês tem que parar de dizer isso.

— Vocês quem? — a ruiva perguntou olhando para coxa e empurrando para a grama o excesso de sangue que lá estava.

A esquizofrênica não respondeu.

Frankie.

— Ninguém. — tragou a saliva como uma dose de mentira.

— Essa é a verdade? — seus olhos eram uma metamorfose de cores.

— Não. — apoiou a mão suja de sangue nas gramas e se levantou.

A menina a imitou, fazendo uma careta de dor ao apoiar a perna ferida no chão.

— Agora você se sente viva? — Dank perguntou para a ruiva.

Por que ela queria ataca-la com essa pergunta?

— Não. — soprou uma mecha vermelha de cabelo de seu rosto. — Agora eu sei que estou.

A ruiva não falou mais nada, seus olhos marejaram ao responder a pergunta da esquizofrênica e de lá rumou para a entrada do jardim. Bem, tentou. Lucy observou a garota machucada dar quatro passos mancando e cair de joelhos no chão na tentativa do quinto. Seus cabelos beijaram o vento ao correr para ajudar a menina. A ruiva tentou se esquivar, não queria ajuda, mas o corte foi fundo e não conseguiria apoiar o lado direito no chão, então Dank a abraçou de lado e a segurou pelas costelas, forte, levantando-a do chão e a puxando para si, ajudando-a a andar.

— E você? — depois de uns passos, perguntou. — O que faz para se sentir viva? — observou o perfil da esquizofrênica enquanto a mesma a ajudava a andar.

Tentou facilitar jogando a perna direita para frente enquanto pulava com a esquerda.

— Antes, me machucar. — puxou uma longa respiração, a caminhada não era longa, mas não era muito perto. — Agora, eu apenas sei. — passou o antebraço do braço livre pela coxa da menina que ainda jorrava sangue. — Os cortes pelo meu corpo já são suficientes para eu saber que se sentir viva dói, mas viver... Viver é outra coisa. — arfou, depois de um tempo a menina começou a pesar. — É o que eu estou fazendo agora.

Elas estavam chegando à porta de entrada, as pessoas começavam a olhar e murmurar, por um instante a ruiva se sentiu como Lucy, e almejou sumir.

— Me ajudar lhe faz viver? — riu descrente.

Dank parou de caminhar e consequentemente a menina, as garotas se encararam, então a esquizofrênica falou:

— Não. — continuou. — Fazer o que eu quero e não o que os outros desejam, me faz viver. Fazer o certo mesmo que os outros pensem que é errado, me faz viver. Não perder meu tempo querendo viver, me faz viver, por que desde que eu saí do ventre da minha mãe eu estou vivendo, mas às vezes eu me perco nisso, e outras vezes as pessoas me fazem esquecer.

A ruiva tragou sua saliva a seco e então gemeu em força, dando impulso para frente e se apoiando em Dank.

Isso era tudo.

Lucy empurrou a porta com um braço e com o outro puxou a garota para frente afim de que a mesma pudesse entrar. Brutamontes vestidos de azul brotaram e tiraram a esquizofrênica de perto da menina, dando suporte para a mesma; a ruiva firmou-se e soltou:

— Meu nome é Melissa, mas pode me chamar de Mel. — esperava uma resposta da esquizofrênica.

Lucy pensou se algum dia a chamaria de Mel... Então apenas acenou afirmativamente com a cabeça, mas ambas sabiam que aquilo não era uma apresentação, mas sim uma despedida.

Os paramédicos a levaram para longe arrebentando o cordão que se instalou entre seus olhos e corações. Quando a sirene tocou uma onda de pessoas saindo do jardim entrou pela porta se espalhando pelo pátio, passando por Lucy como se a mesma fosse uma rocha no meio de um rio, seus olhos escuros ainda acompanhando Melissa sendo levada. Os cabelos vermelhos dela soltando faíscas ao ser carregada nos braços de um paramédico, seus cabelos ficando mais escuros à medida que o outro homem apertava o êmbolo da seringa que foi aplicada em seu braço; a chama se tornando brasas quando a agulha abandonou sua pele, seus olhos que estavam em Lucy se fechando ao virar o corredor, sua cabeça caindo pelo peso do mundo.

Lucy imaginou gramas em seus pés lhe prendendo no lugar enquanto a onda de pessoas escoava em suas costas, seus olhos na poça de sangue que a ruiva deixara no chão. Quando levantou os olhos, uma Kloe pesarosa a observava do corredor que os paramédicos levaram Mel. Agora eram seus olhares que se sustentavam; a sirene já havia sido soou novamente, observou a enfermeira assentir com a cabeça.

Era a hora da esquizofrênica.

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