A Esquizofrênica

By RebeccaAUGM

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Lucy, uma adolescente de dezesseis anos que vive em uma clínica de reabilitação desde os seis anos de idade... More

Minha prisão.
Minhas ataduras.
Meu jardim - Parte I.
Meu jardim - Parte II.
Minha ferrugem.
Meu acordo.
Meu pôr do sol.
Minha surpresa.
Meu medo.
Meu problema.
Meus defeitos
Meu pai
Meu mundinho
Meu grito
Meu aroma.
Minha nova dor.
Minha visita.
Meu cadeado.
Minha discussão.
Minhas cócegas.
Mais que isso.
Minha sorte.
Meus Remédios.
Regressando.
Minha mãe.
Minha ligação.
Pequeno troféu.
Sanidade.
Meu sol.
Frankie.
Meu encontro.
Meu.
Minhas cores.
Pronta.
Começando a entender.
Minha mudança.
Especial.
Vozes.
Penumbra.
Meu sedativo.
Minha chuva.
Minha boia.
Minha família.
Minhas gramas.
Minha hora.
A verdade.
Meu furacão.
Acabou?
A Esquizofrênica.

Minha destruição.

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By RebeccaAUGM

— Pai. — chamou.

Já havia escurecido e eles continuavam na mesma posição.

— Oi.

— Um dia eu vou sair daqui?

Oh.

Ele não sabia o que responder, essa pergunta o pegou de surpresa golpeando sua garganta, então estalou um beijo na bochecha da filha e respondeu:

— Mas é claro, Lucy. — gostava de pensar assim. — Você só precisa estar pronta.

A menina se distanciou um pouco, realmente se sentando em seu colo já que antes estava praticamente deitada em seu peito.

— E quando eu estarei pronta?

Gale esticou o braço e delineou a curvatura da orelha da filha, levando uma mecha de cabelo consigo e deixando lá.

— Você vai saber.

— Quando eu vou saber?

Uma sombra de sorriso passou pelos lábios grossos do homem e os cumprimentou.

— Quando você souber a verdade sobre as mentiras que lhe rondam.

A mão de Gale estava na nuca de Dank, seu polegar na glote da mesma pode a acompanhar engolir com dificuldade. Lucy abriu a boca, mas não soube o que falar.

Jesus, a verdade estava na sua cara!

Então levou as mãos para os olhos e os fechou, apoiando a testa no ombro do pai.

Existem certas verdades que nós não queremos enxergar, mas é só quando a vemos que realmente seremos livres.

Às vezes, não queremos ser livres.

Às vezes, não queremos saber o que realmente queremos.

Então fechamos os olhos e tentamos não pensar naquilo.

Não pensar na verdade.

— Kloe, não me enrole! — a ruiva exclamou do outro lado da linha.

A enfermeira mordeu o canto dos lábios tentando tirar de lá uma resposta, mas antes mesmo de falar alguma coisa um par de braços enrolou sua cintura e a puxou, fazendo-a chocar as costas em seu peito enquanto lábios variam seu pescoço.

— Eu juro por Deus que vou ai mesmo lhe estrangular, sua cachorra acobreada!

Pronto, Kendy virou um bicho! E ao ter a ligação encerrada na sua cara Kloe soube que a irmã viria, mas não conseguia raciocinar direito aonde iria se esconder com Gale a distraindo.

— Cachorra acobreada, hein?! — brincou, estalando um beijo na orelha da mulher.

Flyn se encolheu em um arrepio virando-se na intenção de beija-lo, mas ao ver Lucy se aproximando atrás do homem se distanciou, corando.

Merda.

— Nem se incomodem, senhores. — Dank fazia um coque com o próprio cabelo enquanto se aproximava. — Vou para o meu quarto.

Antes que a menina passasse pela porta e saísse do jardim, Fletcher a chamou.

— Ei, senhora. — chamou, a menina se virando.

— Senhorita, por favor. — seu pai riu estendendo o braço, quando a menina o pegou ele a puxou, enrolando-a em um abraço enquanto beijava seu cabelo.

— O senhor tem que parar de se aproveitar da sua força e parar de puxar as pessoas. — a menina refletiu, ele rindo contra seu cabelo e ela se encolhendo em seu abraço.

— Agora pode ir.

Quando a porta se fechou, Fletcher levou seu olhar de volta à mulher na sua frente e acabou por cobri-la com seu corpo, seus beijos em seu ombro. Quando nenhum sinal de vida ela deu, falou:

— Por favor, não fique assim. — levantou seu queixo e trouxe seu olhar corado para si. — Ela entende e aprova.

Kloe entendia isso, mas era estranho. Deveria ser!

— Parece tão fácil para você. — sussurrou, revezando a atenção de seus olhos com seus lábios.

Fletcher puxou o canto da boca para cima em um sorriso galante.

— É por que é. — deu de ombros. — Agora deixe de besteira e me beije.

E assim foi feito.

Flyn e Gale aproveitaram o tempo que tinham juntos, abraçados, sem sair do lugar, apenas se beijando eventualmente entre a conversa que eles engatavam uma por cima da outra. A enfermeira tinha a vaga impressão de assuntos importantes pendentes para serem falados, mas nada chegava a sua boca, por que nas vezes que o assunto se atrevia Gale tomava a frente e ocupava a boca da mulher com a sua.

E foi em um desses beijos.

Em uma dessas interrupções.

Que Kendy e seu marido chegaram.

A ruiva abriu a boca, mas nada falou não querendo interromper o momento raro a seu ver.

Por que era isso: raro. Kloe com um ser humano do sexo masculino? Sua irmã fugia de testosterona como os mosquitos fogem de repelente!

Esse momento tão intimo de sua irmã era raro aos olhos de Kendy.

E era errado aos olhos de Matthew.

Sua menininha com um homem? Não podia ser!

Desde os 13 anos fora criado com a família Flyn, enquanto Kendy era quase da sua idade, Kloe ainda era uma criança!

Ele via a menina como um ser assexuado. Era incapaz de imaginar aquela garotinha que corria para ele pedindo para brincar, com outro homem que não seja ele ou Mark, o pai da menina.

Matt estava completamente boquiaberto ao ver a mulher beijando outro, então pigarreou, e com uma cotovelada a mando da mulher ao seu lado forçou um sorriso ao notar pares de olhos lhe olhando com surpresa.

— Matthew? — Kloe chocou-se, sua saudade quase transbordando pelos olhos. — Aquele garoto branquinho que dava em cima da minha irmã e me ignorava totalmente quando eu pedia para brincar?

Gale estava totalmente inerte segurando-a pela cintura, e também estava inerte a esse fato.

— Cadê aquela pequena ferinha que fugia de testosterona como o diabo foge da cruz? — alfinetou.

Oh!

O casal ouvinte corou, e as mãos de Gale foram para seus bolsos enquanto fingia interesse nas árvores do outro lado do jardim.

Matt levou outra cotovelada.

A enfermeira correu para seus braços e abraçou seu corpo forte.

— Meu Deus, você não parece mais aquele garoto esquelético que roubou minha irmã de mim.

Oh sim, ela também sabia alfinetar, mas a enfermeira esqueceu que isso era uma ferida em seu peito e que não cutucou somente Matt, mas também a si.

O trio composto pelas irmãs Flyn e pelo atual marido de uma delas tiveram um passado juntos.

Mas não tiveram futuro.

O fato de Kloe fugir de garotos tinha um por que, mas só ela sabia desse maldito motivo.

Depois que sua irmã e seu amigo começaram a namorar com 16 anos, ela tinha 12. Mesmo sem querer ou sem perceber, depois que eles começaram a se relacionar ou até mesmo antes disso, sua irmã foi se distanciando dela junto com Matt, e ele ''roubou'' não só sua irmã, mas sua infância e adolescência.

Flyn virou uma mulher antes do tempo.

Responsabilidades eram jogadas em cima apenas dela.

Agora não eram duas... Era apenas uma.

E o que Kendy não fazia direito, ela tinha que fazer; até mesmo o que sua irmã nem queria fazer, ela o tinha. O que Kendy estragava, Kloe levava a culpa e tinha que ir lá e consertar.

Uma menina de 12 anos virou uma de 29.

Sua irmã perdeu muito e quando teve consciência disso depois da morte de seus pais fez o que os mesmo faziam antes de morrer: a culpava. Por algo que nem era culpa dela!

Mas diferente do casal, a enfermeira nunca os culpou.

Mas igual a eles, se culpou.

— Kloe...

Mas a mulher não queria mais falar sobre isso.

O que ela falaria?

Não se desculpem?

A enfermeira sabia bem o conceito e definição da palavra ''desculpar''.

Mas por mais que Kloe não queira os culpar, não iria os impedir de fazer tal coisa. Eles nunca a impediram.

— Esse é Gale Fletcher. — puxou pela mão o homem que se fingia de desentendido, então o mesmo trajou um sorriso. — Ele é pai da Lucy, Kendy. — sorriu, a irmã se lembrou, mas não sabendo o que pensar.

Gale sorriu orgulhoso.

— Quem é Lucy? — Matt perguntou, confuso.

O que ela iria dizer para o situar?

''A esquizofrênica que a minha irmã é enfermeira. Aquela que eu te falei se lembra?!''

Era absurdo pensar isso, e falar seria ainda mais.

— Eu sou Kendy, irmã da Kloe. — Gale amplificou o sorriso olhando para a mulher ao lado de rabo de olho enquanto resgatava a mão estendida de sua irmã e beijava as costas da mesma.

— Prazer em conhecê-la. — a irmã de Kloe estava da mesma cor do cabelo.

Ao olhar cúmplice para a irmã, Flyn riu ao perceber a expressão da mesma.

— Gale Fletcher? — Matthew sabia ser cordialmente rígido.

Gale sorriu prepotente o cumprimentando com um aperto de mão.

Estava tendo um combate ali, e pelo olhar castanho de Matt não se sabia ao certo o vencedor.

— Sou Matthew Hall, marido de Kendy e amigo de infância dessa pequena fera. — indicou a enfermeira com um olhar terno, abraçando a esposa pela cintura e enfiando a outra mão no bolso.

Brutamontes...

A disputa estava acirrada, e pelo maxilar divertido de Gale, Kloe pôde ver que ele estava bem preparado.

— Suas escolas foram nomeadas as melhores do país.

Oh sim, ele sabia.

Seu sorriso arrogante enquanto enlaçava a cintura de Flyn e a enganchava abraçando seu corpo era impagável! Fletcher a beijou no cabelo.

— Oh céus. Você é o dono das escolas 'Olhos de ouro'? — Kendy estava embasbacada.

''Ah. Esse é seu trabalho.'', Kloe refletiu.

— Olhos de ouro, onde não aceitamos nada menos aos olhos dos pais e no futuro dos seus filhos. — recitou o slogan da escola, rindo brevemente. Podia ser uma proposta ridícula de publicidade, mas funcionava e ele acabou gostando.

Matthew o fitava com os olhos brevemente semicerrados.

Ele é bom!

— Vamos colocar nossos filhos na sua escola! — riu, se animando nos braços do marido.

Gale piscou para ela.

O que...?

Hall enganchou a mulher contra seu corpo.

Brutamontes...

Pela primeira vez Kloe se pronunciou, afastando seu corpo do homem ao lado e pigarreando.

Todos estavam apenas se entreolhando como se um quisesse pular no pescoço do outro... E isso incluía sua irmã que olhava diretamente para Fletcher.

Aquilo estava muito estranho.

— Parem com isso. — se pronunciou com as mãos na cintura, varrendo os olhos pelos rostos confusos.

— O q... — Kendy ia falar. Ia.

— Vocês. — apontou para os dois homens serrando os olhos. — Parem com essa briguinha ridícula, seus brutamontes!

— Pequen... — cortou Matt com sua voz.

— Não me chame de pequena! — exclamou, ultrajada.

Jesus.

Ela virou uma fera.

— Parem com esse impasse, ostentação de posses, ou o que quer que seja. — ela ficava tão fofa irritada...

Gale foi o primeiro a rir, levando uma tapa forte no braço e logo depois prendendo o riso.

Matt olhou, rindo, e depois foi à vez de Kendy rir também.

Fletcher tossiu, libertando a gargalhada e Matt explodiu em outra, ambos indo se cumprimentar com um abraço de um só braço e batendo os ombros.

— Idiotas. — Kloe falou se virando para ir embora.

— TPM, maninha? — seu riso começava com um gritinho e ia se silenciando; era estranho, mas engraçado, então a enfermeira começou a rir também.

Quem olhava de longe como Lucy que estava na porta, era um grupinho de loucos rindo até chorar.

E eles estavam em uma clínica de reabilitação!

Mas quem era ela para julgar, não é mesmo?

Estava adorando ver seu pai rir, mas era estranho, e isso era engraçado.

Seu pai estava parecendo tudo naquela situação, menos normal, e ela amou aquilo.

Então uma risada explodiu no inicio da porta e todos pararam, confusos, virando para olhar a menina de cabelos pretos, a pele branca se transformando em vermelha pelo riso.

Quando a garota percebeu apenas ela ria, então seu riso foi morrendo aos poucos enquanto suas mãos se dirigiam para a boca surpresa pela atenção.

Não sabia ao certo quem estava mais surpreso.

Dank, por rir.

Kloe, por pela primeira vez ver a menina mostrando as emoções e principalmente algo tão forte como uma risada. A enfermeira sabia o quanto isso significava, nunca havia visto a menina gargalhar antes.

Kendy, surpresa pela menina que antes nem sorria, e agora estava rindo!

Matt, por não saber quem é a garota e pela quantidade de cicatrizes que a mesma tem pelo corpo.

E Gale, por todos os motivos anteriores; estava explodindo!

Fletcher colidiu contra Lucy explodindo em um abraço forte, levantando-a para que a mesma se encaixasse contra seu corpo e ele pudesse a sentir apertada em seu abraço.

— Minha menina está rindo! — falou no meio de um riso nervoso enquanto a apertava.

— Pai. — sua voz estava falha. — Pai, o senhor está me apertando. Muito. — explodiu em um riso e ele a soltou de relance como se a mesma estivesse em brasas.

E realmente estava.

Uma faísca colidindo com outra.

Uma bomba sendo pressionada contra outra.

Uma explosão que atingiu diretamente o muro que separava Lucy da realidade, uma destruição que Dank pôde ouvir em forma de riso, seu muro desmoronava e atingia o chão a cada emoção.

Naquela noite pôde ouvir um pedaço de seu muro caindo quando deitou na cama e sonhou com Frankie.

Lucy estava à mercê.

Estava quente.

Estava desprotegida.

Estava pronta para descobrir a verdade.

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