Com passos calculados e leves caminho até a frente, as pessoas batem palmas. O pastor me convida para subir no altar e me posicionar ao lado de sua esposa, encima do altar. Assim eu faço me tremendo.
— O motivo de ter chamado essa linda jovem aqui é para dar uma bela saudação a todos. A partir de hoje, desse exato momento, ela voltará a fazer as atividades da igreja segundo o seu chamado.
Uma boa parte da igreja sorri pra mim, inclusive meus pais que estão emocionados.
— Que todos se fiquem de pé, vamos fazer uma oração em favor dela para que o nosso Deus venha abençoá-la de forma estonteante. E meus amados irmãos, vamos apoiar os nossos jovens pois eles serão os futuros obreiros dessa casa. Ore pelos jovens perdidos e desanimados, ore para que Deus venha trazê-los pra esse altar.
Não foi como se duas ou três pessoas orasse, foi à igreja toda. Iria ser uma breve oração, mas esqueçam disso. Eu posso ver todos os irmãos e irmãs de pé, com as mãos estendidas para cima, todos clamam a Deus. E eu só consigo agradecer pela oportunidade, e vejo o quanto foi boba de ter demorado tanto para tomar essa decisão. A melhor decisão da minha vida, com certeza.
A oração encerra e, sem querer, acabo soluçando. O pastor passou a palavra pra mim, cochicho uma música para o meu irmão e caminhei para pegar o microfone.
— Quero saudar a todos com a paz do Senhor Jesus, amém? – digo em fim, ele responderam e batem palmas para o Rei Jesus. – Vou louvar com um hino, quem souber pode me ajudar.
Enquanto começa a introdução nos instrumentos, fecho meus olhos.
Depois que cantei, chorei e me senti renovada. Entendi que ficar longe não foi uma demora boba, era a parte do processo. E eu sei que tudo poderia ter acontecido depressa, mas se tivesse sido assim eu não teria aprendido que o processo é longo e doloroso, mas o importante é que não estamos sozinhos.
Devolvo a palavra para o pastor que encerrou o culto. Enquanto esperava minha família, a cada segundo eu recebia abraços de irmãos que estavam felizes pela minha volta triunfal. Isso pra mim tem muita importância, é bom saber que eles também torciam por mim.
— Oi! — comprimento Christian alegremente. Confesso que ainda não estar acostumada em encontrar ele e sermos amigos, mas me esforço para me sair bem.
— Oi Jéss – ele sorri e aperta minha mão.
— Tudo bem contigo? Fiquei feliz em te ver tão bem na presença de Deus.
— Estou ótimo, melhor só no céu — rimos. Brincadeira de cristão, ele realmente esta transformado. — Cantou lindo, parabéns! Você tem futuro no ramo da música.
— Louvado seja o nome do Senhor Jesus.
Ele de repente pareceu estar querendo me dizer alguma coisa a mais, e ao mesmo tempo parece ter medo de algo. Ou de mim.
— É. Eu vou indo, meus pais devem estar me esperando lá fora. Volte sempre, tá?
Virei-me pra sair, e antes de avançar um passo senti sua mão segurar a minha.
— Espera. Eu queria que... Você quer sair comigo amanhã? – ele se atrapalhou todo, mas por fim disse de uma vez.
Minha cara passou de canto, para espanto. Ele me chamou pra sair, e por que motivo eu sairia com ele? Porque somos amigos, talvez. E, espera. Ele esta sendo tímido? Ai meu Deus que fofo, e que medo.
— Sair com você tipo um encontro? — pergunto com os olhos semicerrados.
— Se você quiser, quer dizer si... Não, não é só como amigos — ele se atrapalhou todo outra vez. Eu prendi o riso.
— Poxa Chris! — faço uma cara de pena. – Não vou poder ir. Vamos viajar amanha, mas podemos marcar pra quando eu voltar.
Vejo o desanimo em seu olhar, eu também ficaria se o Isaque... Quer dizer, se isso acontecesse comigo.
— Também, como eu me esqueci — ele bateu a mão na testa a deixando vermelha.
— Sem vergonha Chris, não precisa dela comigo. Podemos ir depois, se não for incomodo — tento concertar para não ficar constrangedor.
— Será uma honra – sorriu.
Despeço-me dele e entro no carro dos meus pais, esperamos por Tiago e, não demorou muito para ele aparecer. Estou me corroendo de curiosidade e, a cada dez segundos meu pai faz mais suspense.
— Fico feliz em saber que você voltou Jéssica.
— Na verdade eu nunca fui a outro lugar papai.
— Papai? Quanto tempo você não o chama assim – ela cochicha pra mim, eu respondi com um sorriso.
— Como você nunca saiu? Mal se aproximava do altar – papai diz sem entender minha resposta.
— Assim mesmo, uai! — que óbvio, ri. — Nunca deixei de orar, mesmo às vezes não sabendo o que falar exatamente. Nunca deixei de louvar, por mais que eu só cantava no chuveiro e no quarto. Ninguém me viu fazer nada, mas Deus viu. E eu não fiz porque eu me decepcionei com o povo, isso é retardado, mas é a verdade. Teve também fraqueza da minha parte, eu recebi muitas oportunidades de reerguer, mas o medo me impossibilitou de levantar. Então continuei me arrastando, até que alguém me deu as mãos e me deu ajuda para levantar.
Nem percebi quando foi que comecei a chorar. Meu pai estacionou na garagem, descemos.
— Cinco minutos para chegarem à mesa, iremos continuar com essa conversa.
Cada um segue para o seu quarto, e eu não caminho, eu sou levada levemente pelo meu corpo. Eu estou leve, me sinto leve. Troco de roupa o mais rápido que consigo, uso um vestido de ficar em casa e desço. Marcos já esta na mesa.
— Mano, está mesmo com fome, em? — rimos.
— Meu estomago está nas costas, também estou curioso sobre aquela conversa — diz com a mão apoiando o queixo.
— Sinto que temos bastante coisa pra falar, então pode continuar querida — o papai disse depois que todos se acomodaram.
— Então — começo. — Eu só buscava a Deus com uma intenção, ser abençoada com alguma coisa.
— Seja específica — diz minha mãe me interrompendo.
— Eu queria um violão — digo sem jeito. — Só ele poderia me dar um.
E também buscava o amor da minha vida – isso é o acréscimo de tudo, mas não direi isso. Nunquinha.
— Eu buscava coisas que, não faz sentido obter agora. Se bem que um violão faz, mas isso é fato. Senti-me sozinha e excluída de tudo, e tentei procurar soluções em outras coisas. Fui motivo de zombaria na escola, e o causador de tudo era o Christian, e o pior de tudo era que...
— Que você gostava dele — minha mãe me interrompeu outra vez completando a frase de maneira errada.
— Quê? – praticamente gritei chocada. Como ela sabia? – Como assim mãe?
— As mães sabem das coisas, e também eu te ouvi orar sobre ele uma vez. E também vi você viajar nele, de longe.
Todos me olham, eu só queria que o mundo acabasse agora.
— Que absurdo! Mas essa história é passada, tipo, há dois anos – digo totalmente desconcertada. – Eu chorava muito, até pensei em me matar. Minhas “amigas” nunca foram do tipo que se importa, e eu nunca contei nada. Hoje tenho amigos virtuais que pra mim são como anjos do céu. Além disso, eu odiava vocês por preferirem eles a mim. Mas enfim né, águas passadas, bola pra frente.
— Filha? — a mãe me olhou com olhos lagrimejados e eu abro meu melhor sorriso. Quero que saibam que esta tudo bem, afinal, esta mesmo. — Eu lamento tanto, sempre quis me aproximar, mas você não permitia sempre se afastando. Eu deveria ter insistido, mas não fiz, e então te deixei pra lá, tentei chamar sua atenção com isso. Mas tudo piorou, nossa relação foi para o ralo.
— Sinceramente a senhora só piorou a situação, mas olha só. Pelo menos serviu para um amadurecimento, e experiência própria. Vamos erguer nossas cabeças e seguir em frente, o que passou já não importa mais, vamos viver o novo.
— QUE ASSIM SEJA — papai e Marcos disseram juntos e bateram palmas rindo.
— Sendo assim ministra, vamos dar um abraço, em família — Tiago diz segurando minhas mãos por cima da mesa.
Ministra? Eu recebo Deus.
Levantamos e nos abraçamos, foi a gota d´água. O papai chorou, mamãe chorou, eu chorei, Tiago tentou ser forte, mas acabou se rendendo. Foi um abraço de laços perfeito.