— Deveria ser mais simples, tipo uma NoAni que se desdobra para aquirir sua forma original e depois se compacta para ser mais fácil de carregar, as tendas poderiam seguir a mesma lógica.
— Isso facilitaria mesmo, quem sabe alguém não esteja pensando o mesmo que você nesse momento.
— Espero que seja um Injecturgista — disse ela com um sorriso.
— A propósito, eu não sabia que a Mandíbula Escarlate aceitava trabalho como guias, ouvi Mors e a Senhora Grays falarem sobre isso.
— E não aceitam. Mas Jamalist disse que era um caso especial.
Aquela mulher abre a boca demais, — pensou irritada, eram dois desconhecidos e aquela senhora falava de tudo muito casualmente.
— Você não se sente inquieto nesse deserto? — perguntou Sutura olhando para o horizonte, ela havia visto outras vezes aquele espectro feito de pó de ferro, os olhos vermelhos como sangue as vezes fitavam ela, as vezes fitavam outro ponto do acampamento. Mas felizmente nada havia acontecido até agora, e nenhuma outra tempestade ou múmia haviam surgido.
— Me sinto muito inquieto, é como se estivéssemos sendo observados o tempo todo.
Ela assentiu, aquela sensação não sumia, ainda mais quando lembrava do espectro.
— Ter o Eyn Sofh selado — disse ele, — é claustrofóbico, me sinto exposto e isso me faz lembrar do passado, quando ainda era um escravo.
A garota pensou nisso por um momento, se tivesse o Eyn Sofh selado provavelmente ficaria paranoica, se sentir vulnerável era o que menos queria, então entendeu como Alef deveria estar se sentindo.
Eu não deveria simpatizar com esse estranho, pode ser tudo um truque para me pegar de guarda baixa.
— Alef — disse Mor se aproximando junto de Demetorios, — a Senhora Gray com sua grande bondade ordenou a retirada dos selamentos de nossos corpos, o estimado Ovazir Demetorios nós fará a gentileza.
O velho Rodurean desenhou inúmeros símbolos no ar e em seguida os selos que haviam em Alef apareceram e em seguida se desfizeram. Imediatamente Sutura usou sua Aura de percepção, Alef fluiu seu Eyn Sofh, mas em seguida o obstruiu, parecia estar se certificando de que estava livre dos Selos.
— Obrigado — disse o Nekomin fazendo uma mesura.
Demetorios nada respondeu, apenas olhou demoradamente para Sutura. Era para ela tomar cuidado com aqueles dois.
— Creio eu que seria prudente fazer uma ronda nos arredores do acampamento — disse Alef olhando para longe, — não seria bom sermos pegos de surpresa.
Assim como fomos pegos com aquelas múmias — pensou Sutura olhando para o mesmo lado que ele.
— Vou falar com a Senhora Gray sobre isso — disse Demetorios.
Os chevalies estão temerosos e sua moral não anda muito alta, duvido que algum deles vá se candidatar a explorar os arredores sozinhos.
— Pode deixar que eu faço isso — disse Sutura.
E posso encontrar aquele espectro e descobrir do que se trata.
— Menina, não seja imprudente — Demetorios raramente demonstrava tanta preocupação para com ela, normalmente ele confiava nela, mas agora estava diferente.
— Pode deixar que vou com você — disse Alef.
— Não creio que isso seja o recomendado — disse o velho Rodurean, — não sei quem realmente são vocês, ainda mais você que se esconde atrás de uma máscara.
— Meu rosto não é muito agradável, Ovazir.
Demetorios tinha uma expressão de descrença, o que já era esperado diante daquela situação. Alef puxou a manga do sobretudo e mostrou o braço moreno cheio de cicatrizes, algumas era mais profundas que outras.
— Eu sou um Nekomin, e ganhei essas cicatrizes por todo o meu corpo, inclusive em meu rosto — havia um grande pesar em seu tom de voz.
É como eu com essas costuras no corpo, mas no meu caso, eu não sei como as consegui e não tenho como me livrar delas. Se o rosto dele for assim como o seu braço, posso entender o sentimento que o faz querer escondê-lo.
Sutura também escondia o rosto quando começou a viver com Rafgalla, mas sua Chi-jo era terrível e não a deixava fazer isso.
Não tenha vergonha do que é — a voz de sua Chi-jo ecoou em sua mente. Sempre ficava brava quando ela dizia isso, pois Rafgalla era a própria personificação da beleza, e ela não sabia o que era ser olhada com nojo por ser feia, ou por ter o rosto estranho. Se o rosto dele for realmente marcado com cicatrizes... eu não deveria simpatizar, mas eu nunca encontrei ninguém com o corpo marcado, talvez ele entenda como eu me sinto.
— Está tudo bem, Demetorios — disse ela dando um tapinha no grosso braço dele — eu vou fazer a ronda e o Alef pode vir comigo.
— Tem certeza?
— Sim, eu sei me cuidar — sorriu confiante.
— Entendo — se voltou para o Nekomin, — se você fizer algo a essa menina pode ter certeza que preferirá morrer do que ser pego pelas minhas mãos.
— C-certo — disse Alef visivelmente assustado, estava um pouco encolhido perante o grande homem a sua frente.
A garota não pode deixar de rir, era um pouco reconfortante ter alguém preocupado com ela.
— Vamos — disse Sutura se dirigindo a uma das barreiras que cercava o acampamento, Arky ficou em pé quando ela se aproximou, Alef fez uma mesura para Demetorios e Mors, e a seguiu.