Ponto 15 - Entrelaçados II

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Midori se aproximou junto de Rayner e as criadas.

— O que você... por que seu cabelo está amarrado assim? — ela começou a rir.

Eric se aproximou e ficou sobre um joelho na frente dela.

— Zenhorita.... dezculpe... eu... eu....

— Está tudo bem. Fico feliz por ver você aproveitando o tempo livre. Estava preocupada que tivesse ficado o tempo todo no portão da residência do Paxhas. Ajudem ele garotas — pediu para as criadas que o amparassem.

— Isso não é justo — disse uma das criadas, — Eric deveria ter nos convidado também.

— É que nom estava nos blanos — disse ele.

Sutura cambaleou até Rayner que a amparou antes que caísse.

— O que você está fazendo? — disse ela embriagada. — Você tem culpa.

— Tenho? — ele ergueu uma sobrancelha.

Ela fez que sim com a cabeça, seus olhos fixos nos dele. As pernas dela fraquejaram, mas ele não deixou ela cair.

— Eu posso sozinha — Sutura se afastou, mas não conseguiu ficar em pé e caiu sentada. Rayner foi até ela e a pegou no colo. — O que está fazendo? — passou os braços ao redor do pescoço dele.

— Te carregando.

— Mas me carrega como se eu fosse uma dama, eu não sou uma dama — ela começou a rir e passou o dedo no rosto dele que estava com uma barba rala e dourada como o cabelo, — você tem olhos que parecem mel, eu adoro mel.

Aos poucos os olhos dela fecharam e acabou dormindo.

*

Um sorriu se abriu nos lábios de Rayner. Sutura quando bebia ficava mais desinibida, e até mesmo engraçada. Se aproximou de Helen que dormia escorada em uma árvore.

— Chevalie Helen! — disse num tom alto.

— Sim capitão! — ela levantou em um pulo.

— Não durma na rua, vamos para a hospedaria e... por que pelos Arkhons você está fedendo tanto a cerveja?

— Aconteceu um acidente — ela coçou a cabeça sorrindo. — A Su tá bem?

— Sim, só acabou adormecendo. Quando chegarmos na hospedaria vá direto domar um banho, sinto cheio de cerveja de longe.

— Que malvado — ela deu de leve um soco no braço dele.

Quando por fim chegaram, Rayner colocou Sutura deitada na cama. Era tão pequena e tão leve. Sentiu vontade de cuidar dela, de protegê-la, mesmo sabendo o que ela era muito mais forte que ele. Havia algo naquela garota que o atraia. Tirou uma mecha do cabelo negro do rosto dela e tocou suavemente as costuras. Aquilo sempre foi um mistério para ele, onde ela as teria conseguido e por que as matinha no corpo. Quando afastou a mão do rosto dela, a mão dela segurou na dele, os finos dedos dela se entrelaçaram com os dele. Ela ainda dormia.

Notou que as mãos dela eram calejadas, aquilo era um sinal de alguém que treinou arduamente para se tornar forte, assim como ele.

Tocou no cabelo dela, mas parou, estava sendo atrevido demais. Entretanto algo havia lhe chamado a atenção, a orelha dela estava sem o brinco que ficava sobre a parte superior, que agora ele percebia ser diferente de orelhas comuns, era pontudas.

Que curioso. Ela as esconde. Será que tem vergonha delas serem assim? Seria uma pena, pois são tão bonitas.

O brinco estava preso no cabelo dela, retirou com cuidado do meio dos fios e colocou ao lado da cama.

Escutou um barulho atrás de si, Helen havia entrado no quarto, estava com os cabelos pingando.

— Atrapalho? — ela perguntou olhando do capitão para a porta.

— Não — ficou em pé, — tire a roupa dela para que durma confortável, e não mencione que fiquei ao lado dela até que você tenha voltado do banho.

— Certo — disse Helen ainda meio tonta.

Ele deixou o quarto e seguiu para o seu.

*

Alef seguia andando atrás de Morthy que seguia dois soldados Rodurean, os mesmos que haviam colocado os selos no sacerdote vermelho, e os mesmos que haviam retirado os selos dos dois. O Nekomim se sentia tão leve e a apreensão que os selos causavam sumia aos poucos. Suas facas haviam sido devolvidas.

Usavam a ocultação para acompanhar os guardas que faziam parte da seita. Cada vez mais desciam os corredores de uma daquelas cavernas, um labirinto de caminhos que os prisoneiros de Tanglodon faziam para extrair os mineiros das rochas. Alef temia se perder, por isso não desgrudava os olhos dos guardas que queriam mostrar para Morthy, algo que haviam encontrado.

Queria poder usar o Eyn Sofh e ir em alta velocidade, mas se Morthy não fazia isso é porque havia algum motivo, e Alef não ia perguntar o por que.

No final do túnel havia uma parede de pedra. Alef achou que era um tipo de truque, uma armadilha, e desfez a ocultação pronto para enfrentar aqueles guardas.

— Se acalme, jovem — disse um dos guardas.

O homem foi até um dos lados da parede e pressionou em uma ranhura. A parede começou a se tornar blocos sólidos que se empilharam lado a lado na lateral do túnel.

Barreira curiosa, da Natureza rocha, e é bem-feita, que tipo será que ela deve ser?

Os guardar adentraram e Alef e Morthy os seguiram. Um dos guardas refez a parede por onde haviam entrado. A câmara era bem iluminada, com archotes nas paredes, mas o mais estranho de tudo era uma grande poça de água bem no meio. Ao se aproximar notou que não era água, mas sim um líquido prateado.

— O que é isso? — perguntou Morthy.

— Não sabemos, mas não se parece com nada que conhecemos.

Como se conhecessem alguma coisa — Alef observou as paredes, havia uma pintura nela. Ele reconhecia, pois já havia visto em muitos lugares que a seita estava, a mulher com uma criatura monstruosa saindo da barriga dela.

— Vocês que desenharam isso?

Os guardas negaram. Segundo o que Alef sabia sobre a pintura, significava a Abyssal que deu origem ao mundo, a mulher seria a Origem Zero, aquela que todos da seita buscavam, aquela que alguns chamava de Maya, Shakti, Sophya. E a criatura seria o mundo em si, o monstro cheio de problemas que cresce e se expande.

Morthy se aproximou da poça com líquido prateado.

— Tome cuidado, sacerdote, se cair dentro disso ai, será seu fim.

Alef sentiu uma grande tentação de empurrar Morthy ali dentro e ver ele se debatendo enquanto morria, então em seguida fugiria e voltaria pra Briz'Morgana.

Morthy assentiu para os guardas, pegou um frasco da bolsa e um par de luvas. Mergulhou o frasco no líquido prateado e retirou examinando contra a luz dos archotes de cristal. Sentou em um canto da caverna e retirou mais coisas de sua bolsa. Ele ficou naquilo durante muito tempo, estava analisando o líquido prateado.

O Ovo da Fada Negra (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora