Ponto 16 - Necrolurgia III

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Na metade do caminho para a hospedaria encontrou Helen vindo ao seu encontro.

— Capitão, péssimas notícias, Mors e Alef sumiram.

Eu sabia — pensou enquanto indicava ao guarda para retirar os selos de Helen que ficou agradecida.

— Onde estão o Chi-jo Wallace e Demetorios?

— Vasculhando o quarto deles.

Quando chegaram ao local, o guarda foi liberando os chevalies de seus selamentos. Rayner não encontrou o Chi-jo nem o Ovazir.

Droga.

Buscou em todos os cantos do quarto de Alef e Mors, precisa encontrar alguma pista.

— Capitão encontrei isto aqui — estendeu um pedaço de papel escrito na caligrafia inclinada do Chi-jo Wallace.

— Helen, vá com o guarda Rodurean e busque as armas de todos, adentraremos as cavernas.

— Entendido — ela sorriu quando saiu correndo.

*

Os olhos de Alef não conseguiam mais observar as cenas cruéis que aconteciam na sua frente. Mas não podia fazer nada, tudo o que ali acontecia fazia parte dos planos de Morthy.

— Mate-o! — exigiu a voz.

— Não posso, se eu tentar fazer isso, todos da seita vão me caçar e me vender como escravo.

— Não farão isso se você matar todos eles, se não tiver ninguém, então não será caçado.

Ignorou a voz quando viu mais uma criança ser levada para a mesa de pedra. O pobre menino se debatia e gritava. Era inútil todo aquele esforço, as pessoas ali era muito mais fortes que ele.

Morthy vestia sua batina vermelha com bordas douradas e seu chapéu cônico, a vestimenta do sacerdote vermelho, seu cargo dentro da seita. Se aproximou do garoto amarado a mesa, a criança gritava muito, Morthy tinha uma estaca de metal em sua mão, passou para Abdu que enterrou ela no peito da criança, no local onde estava localizado o Sanctum.

O Nekomin saiu daquela sala. No quarto ao lado todas as crianças estavam encolhidas e choramingando, esperando a sua vez de virarem experimento nas mãos daqueles dois homens cruéis, não restavam muitas, o número havia se reduzido rapidamente. Ele não sabia se usariam todas elas, só queria que acabasse logo.

Necrolurgia — uma Injecturgia suja, assim como a Curaquemia chamada infectoquemia e a Selanteh Maldição.

Todas as ramificações horríveis, como essas que existiam nas Inclinações, eram banidas e proibidas se serem ensinadas. A Necrolurgia rouba Eyn Sofh, Natureza, personalidade, Regalias e várias outras coisas que se necessite e as insere em um objeto ou corpo. Haviama mais aplicações para elas, mas Alef não sabia. Alguns dos guardas recitavam palavras de um Ritual ao redor da poça. Ele não sabia se tudo aquilo daria certo, estava com medo.

Morthy e Abdu estavam naquele processo desde que as crianças começaram a ser trazidas. Os gritos sessaram, outra criança morreu.

— Ei — disse uma voz no meio das crianças, — você é o Alef certo?

A garota o olhava cheia de suplicas em seus olhos, ele sentiu vontade de sair correndo daquele lugar.

— Por favor nos ajude — seus olhos estavam avermelhados e cheios de lágrimas.

Ao lado dela havia outra garota, era a sua criada que não desgrudava da menina de olhos pequenos. Não distante estavam os dois filhos da senhora Gray, em seus rostos alvos uma expressão de puro horror estava marcada.

— Nos ajude por favor, não queremos morrer — disse a menina suplicando.

As outras crianças começaram a suplicar também.

— Fiquem quietos! — disse um dos homens que vigiava.

Alef estava estático e morrendo de medo. Aquilo era tão horrível. Todos ali morreriam no processo de Necrolurgia de Abdu.

— Alef! — bradou Morthy, o coração do Nekomin deu um pulo em seu peito e suas pernas tremeram. — Traga a garota.

Seus olhos amarelos focaram em Midori que se encolheu.

— Q-que garota? — respondeu.

— Não seja mais estúpido do que é. Você sabe qual é a garota.

A mão dele se moveu na direção dela que começou a gritar e a criada se agarrou ela de forma protetora.

Não conseguiu chegar perto, aquilo era loucura demais. Sentiu uma mão pesada em seu ombro.

— Você é um inútil.

O sacerdote vermelho pegou Midori pelos cabelos e arrastou. A criada berrava para que a soltassem, estava agarrada nela se recusando a soltar. Morthy apenas ria da tentativa inútil da menina.

O Nekomin apenas seguiu e ficou em um canto nas sombras. A sala estava cheia de cadáveres e no meio dela a poça com o líquido prateado. A garota se debateu e o pé de Morthy lhe acertou o estômago, em seguida chutou com mais força a outra que se agarrava a ela. A criada bateu contra a parede e tentou se levantar debilmente, mas não conseguiu.

Os cabelos de Midori novamente foram agarrados. Abdu se aproximou e enterrou no ombro dela uma estaca prateada.

Seu grito de dor foi tão alto que Alef tapou os ouvidos embaixo do capuz.

— O que vão fazer comigo? — a menina choramingou enquanto era jogada sobre a mesa de pedra.

— Garantindo que tudo ocorra da maneira correta. A vitalidade das outras crianças estão nas estacas e você será o involucro.

— Do que?

— De algo esplêndido, algo que nos levara a "Ela".

Outra estaca foi colocada no outro ombro. A garota foi segurada pelos braços e pernas enquanto era despida, seus gritos de dor e horror não paravam, assim como suas lágrimas. Estacas começaram a ser colocadas no peito dela e em sua barriga. Alef perdeu a conta de quantas foram colocadas. Sangue escorria da mesa quando, por fim, eles terminaram.

A garota ainda estava viva, mas não se mexia. Adbu começou a desenhar palavras no ar com o dedo, elas brilhavam. Aquilo significava que ele estava executando um tipo de Injecturgia.

— Coloquem a garota na poça — disse ele.

Os homens que a seguravam fizeram o ordenado. O Corpo dela afundou no líquido prateado e se contorceu soltando gritos animalescos.

Alef se encolhia cada vez mais. Seus ouvidos tapados e mesmo assim podia ouvir, desviava o olhar da crueldade.

Aquilo estava errado, mas ele era um membro da seita e deveria seguir o que seu mentor dizia. Briz'Morgana queria que ele se tornasse um sacerdote e ele atenderia os desejos dela. Foi salvo por ela, por isso vivia pelos desejos dela.

— Me tirem daqui! — gritou a garota em desespero. — Isso queima! Queima! Por favor!

Seu apelo foi ignorado, a única coisa que recebeu foram as vozes em coro das pessoas ao seu redor que louvavam a Abyssal. O líquido prateado da poça desapareceu, a única coisa que restou foi o corpo desacordado de Midori.

O Ovo da Fada Negra (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora