Ponto 16 - Necrolurgia VIII

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Apesar da situação caótica, Sutura sorriu por causa da pergunta de Helen. Ela não era uma aranha, muito menos sua Azkura seria algo assim, talvez Banshee fosse algo pior, mas não acreditava nisso, Banshee era linda.

— Não sou — respondeu e em seguida se voltou para Alef. — Me responda por que não lutou com tudo? Você disse que faria isso!

— Você me lembra "ela".

— Quem é "ela"?

— A pessoa que retirou os grilhões das minhas pernas, Briz'Morgana, a Serafim Negro.

A pele dela se arrepiou, já tinha ouvido sobre essa pessoa antes. Era alguém que Rafgalla chamava de incomoda, inconveniente, presunçosa e exibida. Mas até sua Chi-jo era assim as vezes, o que poderia concluir era que ambas tinham algumas histórias juntas que acabaram virando problema.

— Ela — hesitou, já sabia a resposta para o que perguntaria, mas, mesmo assim, teria que ter certeza, — ela faz parte da seita?

— Sim. Ela me salvou. Me libertou dos Unalus malditos. Eu era um escravo que só apanhava, um brinquedo nas mãos do meu dono, assim como minha irmã gêmea. Eu a vi ser morta — os olhos dele eram cheios de dor e tristeza, ali escondia um ódio e um enorme desejo de vingança, — não pude salvá-la, eu a vi gritando e chorando em um ritual macabro...

— Alef! — Sutura segurou em seus ombros. — Por que deixou que matassem todas aquelas crianças? — uma expressão confusa surgiu no rosto dele. — Por que deixou que algo odioso como aquele que aconteceu com sua irmã, acontecesse com essas crianças?

Uma lágrima escorreu de seus olhos, mas agora parecia que algo havia mudado dentro dele. Ela imaginava que Alef no fundo não se sentia bem com a situação em que estava. Ele era como ela, dois medrosos, mas que tinham que encarar a vida e o destino.

*

O dedo indicador de Rayner desenhava círculos enquanto ele se movia pelos tuneis acompanhado de três chevalies. Por ter se precipitado na hora de partir da hospedaria ele esquece de fazer um procedimento importante, agora tentava compensar essa falta. Quando ele terminava o cântico não proferia o nome da Arthe, apenas deixava que os círculos se fixassem em seu braço que não era uma NoAni. Isso que ele fazia era chamado de "Gatilho".

Seu Maester — Tucidicles — havia contado a ele que Arthes era a pior Inclinação que existia, não era nada pratica de ser usada pois requeria círculos demais e cânticos. Enquanto se proferia um cântico, seu inimigo poderia cortar a sua garganta. E para se ter uma certa vantagem haviam dua formas de contornar essa situação, uma delsa era de não precisar recitar o cântico e apenas desenhar os círculos e, por fim, proferindo o nome da Arthe. A segunda era desenhar círculos com todos os dedos da mão enquanto recitava o cântico e terminava falando o nome da Arthe. Rayner não conseguiu fazer nenhuma das duas coisas, seu Maester conseguia usar todos os dedos da mão para desenhar e não precisava recitar cânticos, suas Arthes eram quase instantâneas quando ele usava.

Porém, Tucidicles sabia um outro método, um que era conhecido por um grupo pequeno de pessoas. Apenas os que se aprofundaram completamente no Eynluniuum. Ele dizia que Bodarhima acreditava que deveria existir um quarto Ensinamento no Eynluniuum, o grande sábio achava que seu sistema ainda estava incompleto e por isso passou o resto da vida tentando terminar de desenvolvê-lo. Mas por causa do Olum, quase tudo que o sábio fez, desapareceu.

O Gatilho era um desses conhecimentos desaparecidos. Seu Maester aprendeu com uma pessoa que aprendeu com outra, e assim foi passando o princípio adiante.

Rayner conseguiu aprender esse princípio perdido que consistia em criar a Arthe e deixá-la engatilha em seu braço, e quando fosse usada apenas seu nome ser proferido e então disparada.

— Vocês sabem que podem acabar morrendo — disse Rayner para os homens que o acompanhava.

— Seria uma honra para mim — disse Jairo passando a mão na cabeça calva.

— Somos chevalies, seguimos o nosso adorado capitão até o fim do mundo se for preciso — disse Marcos, a longa trança negra balançando por causa da corrida.

— Uma batalha ao seu lado é tudo que queremos — disse Banjo.

Os três chevalies estavam empolgados pela luta que os esperava. Rayner só respirou fundo, achava que eles eram tolos demais por seguir um capitão como ele. Não era um Hoen muito forte e muitas vezes suas emoções acabavam por dominá-lo.

Seu Maester sempre batia com um bastão de gelo em sua cabeça toda vez que ele se exaltava durante o treinamento.

Pare de ser um cabeça de quente — dizia ele enquanto fumava um cigarro fedorento — se concentre no seu inimigo e pense só nisso.

E ele tentava e na maioria das vezes falhava.

— Tentem não morrer, certo? Vou ficar na linha de frente. Jairo, as barreiras são por sua conta. Marcos, a cura está em seu encargo, e Banjo, tente não me acertar com suas Arthes.

— Vou tentar — Banjo sorriu, seu bigode claro com pontas finas se alargava por conta do sorriso.

— Algum de você já enfrentou um Portador antes? — Rayner perguntou e os três responderam de forma negativa.

— Não é assim tão simples dar de cara com um Portador — disse Jairo. — Tem histórias que dizem que Portadores atraem uns aos outros por causa das Azkuras. E quando a senhorita Sutura apareceu ela portava sua agulha negra, mas dessa vez era diferente, a arma parecia viva.

— É uma Azkura? — Banjo perguntou.

— Peço para que mantenham isso em segredo — disse Rayner, — vocês sabem como é a vida de um Portador quando alguém que quer muito uma Azkura descobre uma pessoa que possui uma.

— Sabemos capitão — disse Marcos, — não contaremos a ninguém, todos os chevalies que vieram de Lagoa de Prata passaram a admirar a Costureira das Sombras.

— Não faríamos nada para prejudicá-la, ela é uma garota formidável — disse Jairo.

Realmente, são bons homens.

Se sentia mal por levá-los a uma possível morte, mas, por outro lado, tinha uma boa sensação por tê-los ao seu lado.

O Ovo da Fada Negra (Completo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora