A Esquizofrênica

By RebeccaAUGM

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Lucy, uma adolescente de dezesseis anos que vive em uma clínica de reabilitação desde os seis anos de idade... More

Minha prisão.
Minhas ataduras.
Meu jardim - Parte I.
Meu jardim - Parte II.
Minha ferrugem.
Meu acordo.
Meu pôr do sol.
Minha surpresa.
Meu medo.
Meu problema.
Meus defeitos
Meu pai
Meu mundinho
Meu grito
Meu aroma.
Minha nova dor.
Minha visita.
Meu cadeado.
Minha discussão.
Minhas cócegas.
Mais que isso.
Minha sorte.
Meus Remédios.
Regressando.
Minha mãe.
Minha ligação.
Pequeno troféu.
Sanidade.
Meu sol.
Frankie.
Meu encontro.
Meu.
Minhas cores.
Pronta.
Minha mudança.
Especial.
Vozes.
Penumbra.
Meu sedativo.
Minha chuva.
Minha boia.
Minha família.
Minha destruição.
Minhas gramas.
Minha hora.
A verdade.
Meu furacão.
Acabou?
A Esquizofrênica.

Começando a entender.

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By RebeccaAUGM

— Meu Deus, onde você está Kloe?

A enfermeira arfou se inclinando para frente, segurando na parede o impulso do choro.

— Por Deus, — exclamou. — que saudades, Kendy. — será que ela ainda era a mesma?

— Não fuja da minha pergunta, pequeno troféu!

Sim, ela era a mesma. A enfermeira só não tinha certeza se ela mesma continuava...

Kloe não fugiu, respondeu onde estava esperando a mulher vir ao seu encontro tão rápido quando jogou o endereço de sua localidade para fora de sua boca.

Flyn apenas... Não estava acostumada a ter essa bolha em seu peito prestes a estourar, e a cada minuto que se passava a fina película que forma a bolha se expandia e Kloe sentia como se estivesse sufocando. A bolha ocupando todo seu pulmão impossibilitando-a de respirar, e por mais agonizante que seja essa espera, a sensação era boa por que ao menos sabia que a espera finalmente iria acabar.

Estava feliz, só não estava acostumada com isso.

— Preparada? — a mulher inundou o quarto com suas ondas acobreadas, encontrando uma Lucy de regata preta e short jeans, descalça. A menina ergueu seus olhos do chão para a enfermeira, e Flyn pôde ver que sua resposta era um ''não'' sonoro, mesmo o quarto estando em total silêncio.

Lucy não está preparada para ser feliz.

Qual é?! Ela apenas é... Franca. Quem está preparado para ser feliz? A gente nunca está preparado para o que queremos. É como perguntar, agora, para você que está lendo: se você soubesse, ainda no útero de sua mãe, como seria sua vida depois de nascer, você estaria preparado?

Eu permaneceria no útero, para ser sincera.

Mas assim como eu sai do ventre da minha mãe, Lucy saiu de seu quarto e percebeu que mesmo vendo as mesmas coisas pela milésima vez, nada parecia igual. Ou talvez fossem! Talvez ela que não seja mais a mesma.

Kloe entrelaçou seus dedos com os da garota e sorriu para a mesma. Dank não soube o que fazer, então apenas seguiu-a pelo corredor até a porta que dava para o pátio, mas antes de ser aberta a enfermeira largou a mão de Lucy e a deixou seguir sozinha.

O que poderia dar tão mal? Só o habitual, e isso já era... Habitual.

Dank empurrou a porta e adentrou no pátio.

Olhares pousaram em si, e Lucy teve vontade de olhar para o chão e andar rápido para o jardim.

Esse era o seu habitual.

Mas lá também teria pessoas. Decidiu por andar lentamente, seus olhos varrendo as pessoas que a olhavam. Lucy não sabia o que acontecia depois daquilo, nunca ficara para descobrir. Então as pessoas voltaram aos seus afazeres. Uns liam, outros riam, uns conversavam, outros calavam. Apenas seguiam suas vidas. Talvez conversando sobre ela, mas o que poderia acontecer de tão ruim? Ser criticada ou rotulada? Poupe-me. Essa era a menor de suas preocupações de Dank, e agora, enfrentando isso, percebeu que o pior não era o que os outros falavam dela, mas sim o que ela falava sobre si mesma.

Varrendo os olhos sobre o local tingido de marrom e branco, percebeu que era só isso, mas que ela não era apenas isso.

O lugar era amplo com diversas mesas espalhadas pelo local, pacientes, pessoas com aparência normal, jovens como ela, e velhos, jogavam e conversavam. Uns com seus enfermeiros do lado, outros apenas conversando entre si enquanto seus enfermeiros faziam a mesma coisa. Uns três ou quatro paramédicos ficavam no local, seus corpos rígidos como esculturas rígidas nas extremidades da sala dando suporte como colunas que seguram a estrutura.

Uma menina vestida de preto com cabelos ruivos sorriu para a esquizofrênica e acenou. Os olhos de Dank foram para o braço elevado da garota, analisando os cortes que cobriam seu pulso. Um garoto que estava ao lado da ruiva, seus cabelos loiros, parecia normal com suas olheiras sustentando seus olhos azuis arregalados ao olhar para Lucy. Seu braço se fechou ao redor da ruiva sorridente.

Um ato de carinho?

Um ato de possessividade?

Um ato de proteção.

Ele estava tentando a proteger de Lucy.

Não.

Ele estava tentando a proteger da esquizofrênica.

Seus olhos assustados gritavam isso!

A ruiva beijou o braço do menino, inerte ao fato de que aquele ato não era de fato para ela, mas sim para a esquizofrênica.

Um aviso para ela sair dali.

Um aviso de que ela ainda era esquizofrênica.

Dank sentiu uma onda de ácido subir de seu coração para sua garganta. Antes, ela arfaria e vomitaria. O ácido subiu para seu nariz, e por fim, para seus olhos, molhando suas retinas.

Sua visão do casal foi interrompida por cobre, e sentiu seu rosto sendo enterrado no pescoço de sua enfermeira. Sentiu um soluço romper por sua garganta e escancarar seus lábios. Kloe deixou a menina molhar seu pescoço e ombro, mas não durou poucos minutos. Flyn franziu os lábios.

Sua menina era forte.

Quando Lucy percebeu que chorava, rosnou baixinho no pescoço da mulher.

Ela não iria deixar que aquele garoto a atingisse tão fundo.

Parou de chorar.

Não limpou os olhos e muito menos o rosto.

Queria que ele visse!

Queria que todos vissem!

Ergueu a cabeça e alinhou o queixo. Sua mente pesava toneladas, mas sustentou. Sua visão parou no rosto orgulhoso da enfermeira, e isso bastava. Virou-se para a direita e deixou o casal analisar sua face vermelha e úmida. Eles estavam chocados. A esquizofrênica chorava?

Agora, sim.

Lucy deixou seus cabelos chicotearem o ar enquanto caminhava até a mesa em que a menina antes sorridente e o menino medroso estavam, apoiou suas mãos enfaixadas lá.

— Sim, eu sou a esquizofrênica. — e pela primeira vez ela sorriu cinicamente ao notar o susto de alguém ao seu olhar. — Eu sou Lucy Dank, e mesmo tendo esquizofrenia ainda tenho humanidade. — sua voz saia leve, mas pesava nos ouvidos do menino, fazendo seu coração rachar. — Agora eu me pergunto: Você tem?

O garoto se levantou ameaçando Dank com sua altura e corpo forte, sua mão capturou seu pulso enfaixado, apertando.

— Olh... — Kloe o interrompeu, aparecendo ao lado da garota de gelo.

— Agora eu me pergunto: Quem é o violento? — o menino loiro a soltou como se a pele branca de Lucy tivesse queimado sua mão, ou apenas sua humanidade.

A garota não ficou no local para ver o que aconteceria depois, suas mãos impulsionaram as portas que davam para o jardim e esperou a enfermeira a seguir com seu jaleco branco de costume e seus fios de cobre emoldurando seu rosto.

— Des... — a maior começou, mas não terminou.

— Não se desculpe por aquele imbecil, — a cortou — ele é só mais uma pessoa estúpida, e essa é a menor das minhas preocupações. — a garota falou aquilo mais para si mesma do que para sua ouvinte.

— E quais suas outras preocupações? — o pequeno troféu a incentivou na ideia de sobrepor o incidente com aquele energúmeno.

Uma sirene tocou acima de sua voz.

— Comer. — é isso. — Acho que comer é sempre uma prioridade, não acha? — franziu o cenho, o inicio de uma risada iniciando nos lábios.

Flyn gargalhou encaixando seu braço no da menina como velhas amigas.

— Com certeza é. — e içou a menor de lá, voltando pelo pátio e virando a esquerda, dando no refeitório.

Uma onda de pessoas inundava o local passando pelas mulheres como se as mesmas não estivessem ali. Acho que todos acreditavam na mesma coisa que Lucy. A comida é mais importante do que seus problemas e pessoas estúpidas.

O lugar era bem maior que o pátio, quase o triplo de seu tamanho. Cinco mesas longas ocupavam o lugar paralelamente e um imenso balcão transitava diversos pratos de comida etiquetados com os nomes dos pacientes em plaquinhas. Um vidro substituía a parede lateral como uma janela, e isso era bastante legal.

Dank nunca vira tantas pessoas! Não sabia ao certo se gostava disso ou não, ou talvez não seja questão de não gostar, mas sim achar irritante o fato de ter tanta agitação quando não se sabe ao certo o porquê de cada pessoa estar fazendo isso.

Talvez a resposta, seja apenas para ter algo à que se ocupar e saber que isso é mais uma preocupação para sobrepor as outras. Então talvez, a outra preocupação não seja comer em si, mas sim ter outra coisa para fazer, uma coisa melhor; ou pior, em outros casos.

— Acho que eu não deveria estar aqui. — falou baixinho no ouvido da mulher.

Verdadeiramente, ela não deveria mesmo! Kloe estava quebrando regras, e isso não passava despercebido para Lucy.

— Talvez não devesse mesmo. — seu olhar foi parar no maxilar tenso da garota ao seu lado analisando o local, mas sorriu quando a menina encontrou seus olhos, estava apavorada! — Mas quem liga? — o olhar de Lucy não suavizou com essa tentativa falha da enfermeira de fazer piada. — Vamos. Aqui, agora, você é Lucy Dank, não a esquizofrênica, ok? — céus...

A menina concordou em um aceno de cabeça, então as duas foram procurar um lugar para sentar, e quando acharam pessoas abriram espaço para elas. Não por medo. Abriram espaço para elas sentarem entre eles.

Kloe deixou Dank na mesa entre as pessoas que logo engataram uma conversa qualquer, e foi buscar a comida de ambas. Quando voltou para a mesa analisou a face leve da menina achando graça de algo que alguém falou, e a viu corar ao seu olhar e isso a agradou, pois dessa vez foi Lucy que reagiu ao seu olhar, e não Flyn ao dela.

— Ei! Você é a Lucy, não é? A esquizofrênica? — um homem na volta dos 40 anos perguntou.

A menina parou, olhou para o prato de comida e pensou em negar, mas não tinha como, pois estava etiquetado seu nome no prato. Ela era isso. Isso era ela. Então sorriu ao olhar para o rosto sorridente do homem na expectativa de uma resposta.

— Sim, sou eu. — engatou um riso, mas saiu mais como uma tossida. — Eu tenho esquizofrenia. — o homem ainda esperava. — Então sim, eu sou a esquizofrênica.

E dessa vez não houve nada para atrapalhar. Não teve impasse, não teve medo, não teve nada; só algo pequeno que começava a fazer cócegas no coração de Lucy. Algo que ela não sabia identificar, algo pequeno que se expandia a cada risada que saia de sua boca. O nome disso era felicidade. Algo inusitado e que nunca aconteceu, só entre ela e Frankie. Era uma verdade! Verdade na qual Dank não teve receio de acreditar, porque agora ela não era a esquizofrênica chamada Lucy Dank, mas sim Lucy Dank, a esquizofrênica, e começou a entender isso.

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