Por trás do gelo [Em revisão]

By juleaina

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PLÁGIO É CRIME! Independentemente da sua idade, é um ato totalmente desprezível e ilegal. Dê orgulho a si mes... More

Prólogo
Capítulo 1 - Despedidas nunca são fáceis
Capítulo 2 - Próxima parada: cama!
Capítulo 3 - Novas aventuras nem tão desejadas assim
Capítulo 4 - Iniciação oficial em uma nova cidade
Capítulo 5 - Primeira festa, primeiro erro
Capítulo 6 - Pegadinhas do Universo
Capítulo 7 - Que os jogos comecem
Capítulo 8 - Meninas também sabem trocar pneus
Capítulo 9 - A advocacia está no DNA
Capítulo 10 - Machistas não passarão
Capítulo 11 - Existe amizade entre cães e gatos
Capítulo 12 - Memórias ruins aparecem a qualquer hora
Capítulo 13 - Partidas de hóquei são ótimas para fazer novas amizades
Capítulo 14 - Nunca dê o primeiro gole
Capítulo 15 - Quando as coisas começam a fluir
Capítulo 16 - Quebre regras pela sua melhor amiga
Capítulo 17 - Barmans nem sempre são confiáveis
Capítulo 18 - Por um bem maior
Capítulo 19 - Espírito competitivo masculino
Capítulo 20 - Sequestros são menos assustadores em filmes
Capítulo 21 - Jogue como uma garota
Capítulo 22 - Passeios noturnos
Capítulo 23 - Madrugadas são ótimas para compartilhar segredos
Capítulo 24 - Mudamos de acordo com nossos hormônios
Capítulo 25 - Caixa de mentiras
Capítulo Extra, por Apolo - Autocontrole
Capítulo 26 - Piranhas na piscina
Capítulo 27 - Dando o sangue
Capítulo 28 - Família
Capítulo 29 - Há oceanos entre nós
Capítulo 31 - Nem toda surpresa é agradável
Capítulo 32 - Às vezes nem pizza melhora o dia
Capítulo 33 - Avalanche de azar
Capítulo 34 - Bolas de vôlei atraídas por cabeças avoadas
Capítulo 35 - Quando o dia começa uma merda, mas acaba maravilhoso
Capítulo 36 - Pedidos de desculpas seguidos por novas interações
Capítulo 37 - O grande dia

Capítulo 30 - Surpresas de aniversário

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By juleaina


Se eu fosse uma teórica de conspirações, eu apostaria todas as minhas fichas que Sally sabia de alguma coisa e não havia me contado. A muda de roupas casuais em cima da minha cama a denunciava.

Apolo me pediu para trocar de roupa e assim que subi, dei de cara com uma saia rodada e que mostrava o que deveria esconder bem exposta para que não houvesse riscos de eu não vê-la. Se Sally Daphe del Vicent achava que eu usaria aquilo, ela estava muitíssimo enganada.

Fazia alguns minutos que eu estava indignada encarando a peça de roupa e me perguntando porque diabos eu tinha aceitado sair com o Maddox, já que claramente eu estava pipocando o meu cérebro em busca de alguma coisa que escondesse ao menos a minha bunda e me deixasse bonita ao mesmo tempo.

Era frustrante saber que meu gosto estilístico era uma merda e que eu dependia totalmente de Sally para situações do tipo, e olhando para o conjunto inteiro, dava para notar o porquê dela sempre ser a quem eu recorro em emergências de moda.

Apesar de a saia ser um insulto à minha timidez, era preciso que eu desse o braço a torcer para a blusa branca de gola e algodão que ela escolheu, além da minha jaqueta jeans escura favorita, o que era um golpe baixo de sua parte. A bota de cano médio e couro sintético que ela separara foi a sua última cartada para caso eu me recusasse a usar aquilo, visto que eu simplesmente amava aquele calçado, além de achá-lo confortável.

Alguns minutos depois eu já estava ao lado de Maddox, usando a bendita saia e implorando aos céus que não me presenteassem com uma ventania inconveniente que mostraria ao mundo partes que eu preferia guardar para mim mesma.

Apolo nos levou até um carro alto e preto em frente a nossa casa, o que me deixou curiosa a respeito do seu próprio, e é claro que eu não consegui me conter e acabei perguntando.

Ele abriu a porta de carona para mim e eu fui obrigada a esperá-lo dar a volta e se acomodar no banco de motorista antes de me responder.

– Se você está falando do Porsche, Whitford, ele era do meu irmão.

Embora eu estivesse meio frustrada por Apolo não olhar para mim, nem por um mísero segundo, enquanto falava, eu estava duplamente mais confusa em relação ao que ele havia falado.

– Era? – Indaguei. – Como no verbo passado?

– Sim, exatamente como no passado. – Suspirou. – O carro foi o presente do Tito de dezessete anos, assim como o apartamento foi o meu, ambos dados pelo nosso pai. Só que como você já deve imaginar o porquê, nós os devolvemos.

Era sensato, apesar de triste. Eu mesma faria o mesmo se eu estivesse na mesma situação dos gêmeos, e pela maneira a qual Maddox se calou, percebi que isso o afetava mais do que ele deixava transparecer. Eu podia ser uma garota curiosa e ter um filtro cerebral defeituoso, mas eu sabia respeitar o tempo e o espaço das pessoas, então simplesmente calei a boca e coloquei no rádio, a fim de não ser subterrada pelo silêncio que se instalou entre nós.

Só que ao contrário do que eu esperava, tudo piorou quando Oceans começou a tocar, e além de acusar os Cosmos de possuírem um humor sádico, eu me perguntei aonde diabos foi parar o nosso momento de ontem. Digo, há algumas horas nós estávamos escutando a mesma música hipnotizados nos olhos um do outro e agora esse desconforto besta.

Apolo parecia meio tenso enquanto dirigia, até sua postura estava mais rígida e ele não demonstrava indícios de querer conversar sobre absolutamente nada.

– Ok, Apolo. – Falei alto e firme o bastante para que ele olhasse para mim. – O que diabos está acontecendo aqui? Se você está tão desconfortável assim com a minha presença, por que me chamou? Juro que estou me segurando para não cair fora daqui, e é só porque eu provavelmente morreria se tentasse pular do carro em movimento.

Ao contrário do eu imaginava, o Maddox se virou para mim como se eu tivesse acabado de agredi-lo e estava tão pálido quanto eu naturalmente já era. Ele apertou ainda mais o volante e expirou todo o ar de seus pulmões antes de me responder.

– Desculpe. Eu só estou nervoso.

– Por que você está... Você vai me matar, não é? – Arregalei os olhos. – Apolo, eu juro que eu não queria ter quebrado o seu perfume, mas ele estava na beirada do seu armário e...

– Céus! Não! – Ele olhou para mim e eu notei que ele tinha um sorriso nos lábios. – Mas quanto ao meu perfume, você me deve outro.

Relaxei no banco de carona e respirei fundo, aliviada.

– Se você não quer se vingar de mim, então por que está tão nervoso?

– Porque eu não sou muito fã de mudanças, e talvez, só talvez mesmo, porque eu não prevejo o futuro, essa noite pode mudar muita coisa. E embora possam ser boas, também podem não ser, entende? – Apolo empalideceu novamente, além de tagarelar assim como eu quando aflita.

E foi aí que eu percebi que ele também era humano apesar de tudo, apesar de sempre parecer perfeito e essas coisas todas. Então, como a boa alma que sou, e livre de segundas intenções, propus que jogássemos aquele jogo de pergunta e resposta.

– Sério, Whitford? A sua imaginação foi tirar férias?

– Você tem alguma outra ideia?

– Bem, não.

– Então pronto. Eu começo. – Me ajeitei no banco para ficar sentada de frente para ele. – Signo?

– Gêmeos. – Estremeci, por que logo um geminiano, Cupido? – Irônico, né?

– Você não imagina o quanto. – Murmurei. – Filme e livro favorito?

– Beleza Americana e Laranja Mecânica.

– Por que você furou o pneu de Sirius logo nos meus primeiros dias? – Tudo bem, talvez eu tinha segundas intenções sim. – Sinceramente, hoje em dia eu nem ligo mais, só que sério, foi meio sem sentido. Você nem me conhecia direito!

Apolo pareceu desconfortável, se remexendo no banco e apertando o volante exageradamente forte.

– Essa é uma história engraçada, Withford. – Ele falou, mas eu duvidava muito que fosse, já que eu poderia ter sofrido um acidente e morrido, sabe como é. – Não fui eu quem fez aquilo.

Quando eu tinha doze anos, eu era péssima em história. Péssima mesmo, ao ponto de não saber quem era Martin Luther King ou até mesmo Gandhi. Então, ao terminar a minha prova, eu saí da sala com a certeza de que iria tirar um perfeito F, era tanta certeza que avisei a Vovô e Art sobre meu fracasso. Qual não foi a minha surpresa ao receber um A- e ficar como uma das maiores médias da sala? Sim, era esse o nível de choque em que eu estava.

– O qu... mas.. eu... – Gaguejei e me embolei com as palavras.

– Olha, Whitford, eu admito que eu queria o máximo de distância de você e tudo o mais, só que fazer isso com você? Sabendo dos riscos de um acidente acontecer e você ficar gravemente ferida? Não, eu não sou mimado e idiota a esse ponto. Então lamento por ter desiludido você, só que não fui eu. – Apolo disse ainda sem tirar os olhos da estrada, enquanto eu tinha uma expressão patética na cara.

– Mas... mas se não foi você, quem foi? Tinha o anel com seu nome!- Murmurei. – Céus, Apolo, eu te expulsei do carro e você não fez nada!

– Eu sei, e aquilo foi hilário, embora surpreendente. Eu não sabia que você tinha tanta força assim. – Falou sorrindo, só que rapidamente ele fechou a cara e começou a murmurar. – Eu dei aquele anel à Kristen, ela queria essas bobagens de anel de compromisso e eu dei. O que foi um erro, porque mesmo um ano depois ela ainda o tinha e o usou como forma de me incriminar.

– Por Ares, eu vou quebrar a cara daquela vaca. – Resmunguei baixo.

Apolo não respondeu, só ficou rindo de mim e eu sinceramente nem importei. Cacete, qual é o problema daquela garota? Eu mal sabia quem era o Maddox quando cheguei! E ele era, tecnicamente, meu meio irmão! Apoiei minha cabeça na janela e fiquei resmungando até o momento em que chegamos em um lugar cheio de pessoas, feixes de luzes e música alta, embora eu não pudesse dizer qual era.

Continuamos seguindo até um portão enorme preto e de ferro, onde tivemos nossa passagem liberada depois de Apolo tirar um crachá de dentro da blusa. Não consegui identificar muito bem os aspectos exteriores, pois além de estar de noite, os vidros de carro eram escuros, de modo que eu só conseguia enxergar pontos de luz e sentir a vibração da música que tocava por ali.

Assim quando terminamos de estacionar, o Maddox desceu do carro e foi até a mim, abrindo a minha porta. A minha vontade era, sinceramente, de dizer que eu sabia abrir e fechar portas, mas ele estava sendo tão agradável que eu não podia fazer aquilo.

Ele nos levou até uma construção alta e igualmente preta, onde haviam seguranças fiscalizando a passagem de pessoas de acordo com as autorizações que possuíam. Um garoto tentou passar por eles usando dinheiro, mas foi levado por outros seguranças para um lugar que eu não fazia a mínima ideia.

Quando foi a nossa vez, jurei que aconteceria algo semelhante, mas os caras sorriram para Apolo e começaram a bater papo. Acho que ele percebeu que eu já estava impaciente e apresentou o seu crachá e me deu um também, o qual tinha o meu nome e a minha foto da licença de dirigir. Eu não sabia como Apolo a conseguira, porque eu deixava aquela aberração trancada a sete chaves, mas eu iria acabar com quem a tinha passado a ele.

Nós entramos e eu fiquei encantada, e intrigada, com a quantidade de salas com estrelas e nomes gravados. Não era preciso muito para saber que estávamos na área dos camarins, só que eu realmente queria saber porquê estávamos ali e para que show Apolo havia me trago. Também não era preciso muito para saber que estávamos prestes a assistir um. Pegamos um elevador e assim que chegamos ao décimo andar, as portas se abriram.

– Puta que pariu. – Eu evitava xingar muito, em parte porque vovô detestava e eu acabei criando o costume de raramente soltar palavras feias sem ser na minha cabeça, mas no momento em que as portas se abriram e revelaram o que havia ali, eu não pude deixar aquelas três palavras apenas no meu subconsciente.

Nós não estávamos em um camarim ou algo do tipo, estávamos em uma sala enorme com sofás, pufes e até um mini bar instalado perto de algumas mesas. Além de tudo isso, a parede, que teoricamente deveria ser de concreto ou tijolos, era totalmente de vidro, de modo que nós podíamos ver perfeitamente não só o enorme palco exatamente em paralelo ao lugar, como também a quantidade absurda de pessoas ali em baixo. Embora eu estivesse seguindo Apolo, não deixei de analisar a parte de fora nem por um segundo, observei várias cabines que estavam lotadas e eu não fazia ideia do porquê.

Eu estava tão concentrada em absorver cada detalhe de lá que acabei me esbarrando nas costas de Apolo, que, ao invés de revirar os olhos ou me chamar de estúpida, me posicionou ao seu lado e eu percebi porque havíamos parados. Não queria ser ingênua para supor que os únicos amigos de Apolo eram os mesmos que os meus, só que a realidade me atingiu em cheio assim que ele me apresentou às três pessoas que estavam sentadas em um dos sofás bem na nossa frente.

– Whitford, esses são Dave, Nicole e Lizzy. – O Maddox apontou para cada um enquanto os apresentava, logo pude associar o garoto baixinho, cheio de tatuagens coloridas e quase careca como Dave, a garota de longos cabelos rosa e verde claro como sendo Lizzy e a outra menina de cabelo curto e franjinha como Nicole. Ela e o garoto eram extremante parecidos, como se fossem irmãos ou algo do tipo. – Pessoal, essa é a Brise.

Eu demorei a esboçar reações porque, sejamos francos, eu não era lá o exemplo ideal de sociável e extrovertida, então o sorriso que lancei a eles estava entre um sorriso de um sociopata e de uma lhama.

Sim, lhamas sorriam e o Animal Planet estava aí para sanar dúvidas.

– Ei, nós já nos conhecemos! – Exclamou Nicole, me deixando confusa.

– Sério? De onde?

– Dos meus sonhos, gata. – Ela piscou para mim e eu ruborizei na hora. Apolo soltou uma gargalhada e foi abraçar a garota.

– Sou o David, mas todo mundo gosta de reduzir o meu nome para Dave, então você pode me chamar assim também. – Ele sorriu para mim de maneira simpática e retribui o gesto, gostando dele imediatamente.

Já Lizzy não parecia muito feliz em me ver ali, tanto que seus olhos claros me analisavam minuciosamente e me deixavam desconfortável com tanta intensidade direcionada a mim. Ela se levantou e veio em minha direção, parando a poucos centímetros do meu rosto.

– Arctic Monkeys ou The Strokes? – Juro pelos raios de Zeus que seus olhos indicavam que caso eu desse a resposta errada, esse seria o meu ultimo erro.

Eu poderia mentir e dizer que preferia um ao outro, mas eu não podia deixar meus princípios de lado só porque uma garota arrogante e assustadora esperava que eu o fizesse.

– Não tem como compará-los, apesar de terem semelhanças, as duas bandas têm mais diferenças entre si. As músicas são bem diferentes, tanto em conteúdo lírico quanto em arranjos musicais. – Falei simplesmente. Desde muito nova vovô me ensinou que nenhuma banda é extremamente igual ou diferente, cada um era cada um e eu levei isso para todas as bandas que eu eventualmente conheci. – Mas de todo modo, eu prefiro Oasis.

Dei de ombros, esperando que Lizzy fosse me lançar um olhar gélido ou até mesmo um monólogo sobre como uma era melhor que outra ou algo assim, mas a garota sorriu e pulou no meu pescoço me esmagando contra si.

– Gostei dela, Apolo, realmente gostei. – Lizzy olhou para o Maddox e depois colocou os braços sobre os ombros de Nicole e eu percebi que elas eram um casal.

Maddox não pode responder, já que Ernandes apareceu do nada nos abraçando de uma vez.

– Já estava na hora! – Ele abriu um sorriso enorme. – Estão prontos para a melhor noite de suas vidas?

Ernandes estava animado, mas foi respondido com resmungos.

– Você sempre diz isso, vovô. – Nicole resmungou.

Ela havia chamado Ernades de avô? Cara, como Apolo não me disse nada? Eu precisava ter um conversa séria com ele, embora eu soubesse que ele não devia explicações a uma garota pateticamente apaixonada por ele.

Céus, eu não estava me reconhecendo.

– E toda vez eu estou certo. – Ernades sorriu e se virou para mim. – Achei que demoraria menos para nos vermos, Brise, mas de todo modo, fico feliz que tenha vindo.

Ele soava sincero e eu relaxei mesmo não percebendo que estava meio tensa, pessoas novas tinham esse efeito sobre mim.

– Obrigada, eu não sabia que você estaria aqui, mas também estou feliz por reencontrá-lo. – Sorri novamente. – Você trabalha por aqui também?

– Eu sou produtor musical na maior parte do tempo e dono de cafés nas horas vagas. – Falou por fim, sem deixar o sorriso morrer. Ele se voltou para os outros. – O que ainda estão fazendo aqui? Desçam e curtam os shows!

Eu entendi aquilo como uma ordem e acho que os outros já estavam acostumados com isso, porque só pegaram, cada um, uma garrafa de água e se encaminharam para o elevador. Me despedi de Ernandes e os segui.

Logo quando saímos do prédio, fomos para a área do show propriamente dito e foi aí que me toquei que ainda estava no escuro sobre quem iria tocar.

– Quem irá se apresentar hoje? – Perguntei a ninguém em especial, mas como Apolo estava ao meu lado, foi ele quem respondeu.

– Quando eles começarem a tocar, você vai descobrir. – Bufei como uma criança mimada e percebi que ele tinha um sorriso nos lábios. Bastardo.

À medida que adentrávamos naquela massa de desconhecidos, eu ia ficando cada vez mais para trás e isso me deixava meio constrangida, pois eles paravam sempre para que eu não me perdesse por aí. Repentinamente, Apolo se virou para mim e entrelaçou nossas mãos. Ele não demonstrou emoção alguma, nem disse nada e a única coisa que eu pude fazer foi tentar fazer com que meu corpo se locomovesse mesmo com tanta coisa acontecendo dentro de mim.

Me senti em um episodio de Bob Esponja, um em que ele se esquecia de tudo, inclusive o seu próprio nome, e pequenos Bobs que cuidavam do seu sistema nervoso entraram em pane e começaram surtar em seu cérebro. O contato da minha mão com a de Apolo me fez ter certeza que minha massa cerebral estava sendo palco de pequenas Brises eufóricas e sem saber como agir racionalmente. A única coisa que eu conseguia distinguir eram as batidas frenéticas do meu coração e no meu intimo eu me amaldiçoei por ser tão idiota.

Digo, aquele gesto não passava de uma tentativa para que eu não me perdesse por aí, mas mesmo assim o meu lado racional era substituído pelo empírico e eu me agarrava a remota chance de ser por outra razão.

Continuamos andando e eu finalmente descobri o que havia nas grandes cabines espalhadas pelo local. Algumas vendiam produtos artesanais, outras roupas e haviam também aquelas que cuidavam da parte alimentícia. Até mesmo um estúdio de tatuagens tinha por ali.

Cravei meus olhos em uma vitrine improvisada e segui até lá com Apolo em meu encalço, só então pude perceber que apenas Dave estava com a gente naquele momento.

Deixei-os na entrada, agarrei um pacote e me encaminhei para um dos provadores dali. Fui até o caixa e saí de lá usando meias calças pretas, pouco me importando por estar basicamente vestida para um funeral.

Que se dane, ao menos a minha bunda estava protegida e era isso que me importava.

Demos poucos passos até que Apolo parou e entrou no pequeno estúdio que eu notara antes.

Ele falou com um dos caras e pouco tempo depois estava deitado sobre uma das macas sem camisa. Precisei reunir todo o meu autocontrole para não encará-lo parcialmente despido e acabar babando.

– O que você está fazendo? – Perguntei meio incrédula.

– As pessoas costumam chamar de tatuagens e exatamente isso que eu vou fazer. – Revirei os olhos e cruzei os braços.

– Disso eu sei, idiota. Eu quis dizer o que você está fazendo aqui. Sempre foi tão impulsivo? – Retruquei.

– Geralmente não. – Deu de ombros.

– Então por que está fazendo uma tatuagem?

– Porque eu quero, agora senta aí. Ainda temos um tempinho até o show começar.

Sentei em uma das cadeiras a contragosto e esperei por tempo o suficiente para desvendar o que Apolo estava tatuando. Debaixo de sua costela esquerda, um pequeno navio estava ganhando formas, e pelos seus lábios apertados, supus que estava doendo mais do que ele imaginou que seria.

Dave estava conversando com uma garota na entrada e parecia tão interessado na conversa que nem quis me intrometer, de modo que fiquei em estado vegetativo por mais algum tempo, até que em um súbito impulso eu me sentei em uma maca recém liberada e chamei um dos tatuadores até a mim. Tirei minha jaqueta e a joguei no chão.

– O que você está fazendo? – Apolo tentou se erguer para me ver, mas recebeu um olhar feio do cara que o tatuava.

– As pessoas costumam chamar de tatuagem. – Sorri vitoriosa e, só para o deixar irritado, cochichei o que eu queria no ouvido de Marcus, o cara que iria me tatuar.

Pouco tempo depois ele me mostrou o desenho que fez e todo meu corpo se iluminou, era mais do que perfeito.

Quarenta minutos depois Apolo já tinha acabado e já estava vestido, enquanto eu ainda estava em frente ao espelho adorando a minha primeira tatuagem.

No meu antebraço esquerdo havia um floco de neve médio e um par de patins unido a uma das pontas do floco pelos cadarços. Não havia ficado nem grande demais nem invisível e eu só conseguia sorrir enquanto a encarava. Marcus envolveu meu braço com um plástico e me deu algumas recomendações antes de me ajudar a colocar minha jaqueta novamente.

Apolo não havia falado nada e Dave havia sumido com a garota com quem conversava, de modo que éramos nós dois novamente, como já estava virando rotina.

– Eu não acredito que você fez isso, Whitford. – Ele falou um tempo depois.

– Nem eu. – Falei sorrindo.

A verdade era que eu nem queria pensar sobre como meu pai reagiria ao meu ato impulsivo, meu avô seria o menor dos meus problemas, já que ele mesmo tinha feito a sua primeira tatuagem com apenas quinze anos.

Apolo entrelaçou nossas mãos novamente e novamente meu coração entrou em um estado caótico, batendo tão forte que chegava a doer. Dessa vez ele nos guiou até um dos palcos e fomos adentrando toda aquela gente até que nos encontramos novamente com Lizzy, Nicole e Dave, que nos receberam alegremente.

– Até que enfim! – Lizzy berrou sobre a música eletrônica. – Vão tocar mais algumas músicas e já já o Albert entra.

Parei a garrafa de água que eu estava segurando próxima a minha boca e congelei.

– Que Albert? – Perguntei mesmo sabendo a resposta.

– Um dos guitarristas dos Strokes, ué. – Ela franziu as sobrancelhas. – Achei que você fosse fã deles.

Eu gritei tão alto e pulei em seu pescoço que tenho certeza que a sua duvida foi rapidamente dissolvida. Nicole se juntou ao nosso abraço e começamos a pular em círculos conforme o ritmo da música, ainda abraçadas.

Pouco tempo depois Albert começou o seu show com In Transit e eu estava no céu, garotas animadas curtindo a música alta e livre de preocupações. Apolo pareceu meio rígido no inicio, mas lá pela quarta música ele já estava cantando ao nosso lado.

– Ele está fazendo o show de abertura. – Ele berrou no meu ouvido.

Assenti meio decepcionada, porque isso significava que ele não tocaria muita coisa e pelo tempo que ele estava no palco, já deveria estar quase no fim.

Bem como eu disse, ele anunciou a sua ultima música e logo nos primeiros acordes meu coração congelou.

Olhei para os lados e basicamente quase todos os casais estavam agarrados, isso incluía Nicole e Lizzy e até mesmo Dave, que estava com a mesma garota do estúdio de tatuagens. Comecei a me mexer desconfortavelmente, até que Maddox estendeu sua mão para mim em um pedido silencioso.

Aceitei sem hesitar e ele me puxou para sim, colocando suas mãos na minha cintura e eu os meus braços em seu pescoço. Apolo me olhava intensamente enquanto eu me perdia nos seus olhos brilhantes e de um castanho claro e verdes tão lindos quanto o próprio Olimpo.

– You know that something Inside of you. [Você sabe que tem algo dentro de você.] – Ele se abaixou e começou a acompanhar a letra surrando em meu ouvido, deixando uma onde de calafrios sobre o meu corpo. – Still plays a part In what i do, always. I'm here for you. [Que ainda desempenha uma parte no que eu faço, sempre. Eu estou aqui para você.] – Apolo cantou essa ultima parte tão intensamente que eu senti no fundo da minha alma que eu poderia negar para mim mesma que ele não possuía nada em relação a mim, mas ele não estava disposto a negar seus sentimentos.

Havia pouco espaço entre nós, mas fiz questão de me agarrar a ele tão fortemente que não havia mais nada ali a não ser o ritmo acelerado de seu coração contra o meu também eufórico. Eu não sabia dizer se ele estava de olhos fechados, já que eu mesma estava e tentava não tropeçar e fazer com que nossa dança fosse rumo ao fracasso.

– I'm here if you're scared, to go through anything just reach out in front of you, always. Won't you stay near? So close we played it as if we cared. Don't stop now that we're almost there. [Eu estou aqui se você está como medo de passar por qualquer coisa que chegar à sua frente, sempre. Você não vai ficar perto? Juntos nós jogaremos isso, como se nos preocupássemos. Não pare agora que estamos quase lá.] – Eu não iria parar mesmo. De todas as vezes que eu achei que finalmente iríamos nos beijar, essa com certeza era a maior delas, uma vez que qualquer movimento que eu fizesse nos levaria até os lábios um do outro. – Oh, i'm here for you. [Oh, eu estou aqui por você.]

Tirei a minha cabeça que estava deitada em seu peito, e me permiti perder-me novamente dentro de seus olhos. Apolo abraçou a minha cintura e se inclinou ainda mais para mim, de modo que eu conseguia sentir o cheiro de canela que saía de sua boca entreaberta.

– Até que enfim eu encontrei vocês! – Gregory berrou alto o suficiente para que mesmo com a música alta, pudesse ser ouvido.

Apolo e eu nos soltamos a contragosto e só então pude perceber que ele estava com Samantha ao seu lado. Greg pareceu entender o que estava acontecendo, pois logo seu sorriso animado murchou.

– Greg, cara, eu amo você, - O Maddox começou a dizer. – mas eu realmente quero arrancar as suas bolas nesse momento.

Sam veio nos abraçar e nosso amigo ficou nos pedindo desculpas, constrangido. Sua não-mas-sim-namorada o puxou e começaram a dançar ao nosso lado.

– Sabe, Whitford, - Apolo me abraçou pela cintura novamente e olhava fixamente em meus olhos. – eu estou ficando cansado de ser interrompido toda vez que vou beijar você.

Mordi meu lábio inferior e fracassei miseravelmente em tentar esconder o sorriso involuntário que surgiu na minha boca.

– Eu também, Maddox.

Logo após falar isso e ver que ele também sorria, joguei meus braços em volta de seu pescoço e finalmente pude agarrar seus cabelos com minhas mãos, no momento seguinte colei meus lábios aos seus.

A priori, nós dois estávamos sendo horríveis naquilo, mas não demorou muito e acabamos descobrindo o nosso ritmo e, a partir daí, eu soube exatamente qual era a sensação de estar no paraíso.

Beijar Apolo era como comer chocolate na TPM, correr descalço na praia e cair em uma banheira quente em um dia frio de inverno. Era surreal e maravilhoso, era como ter o prazer de fazer algo que você precisasse desesperadamente e finalmente o fez. Cada célula da minha pele ardia como se estivesse sobre brasa quente, gritando por um socorro que apenas o Maddox era capaz de fornecer.

Nós nos beijamos uma, duas, três, dez vezes e não parecia o suficiente para suprir todo o tempo que não fizemos isso. Eu não queria, mas tivemos que nos separar, já que ambos precisávamos de oxigênio e tal, no entanto, continuamos agarrados e Apolo me surpreendeu ao me levantar do chão, abraçando-me com força.

Eu não fazia ideia de quanto tempo ficamos nos beijando, só que supus ser muito quando, assim que olhei para o palco novamente, vi os integrantes de The Neighbourhood tocando Afraid.

– Por Zeus, Apolo! – Exclamei maravilhada. – Você me trouxe ao show de uma das minhas bandas favoritas? – Sorri abertamente e quis socá-lo por ser tão maravilhoso. Ele deu de ombros com um sorriso torto.

– A primeira vez que você foi para casa você estava usando uma blusa deles. – Eu não me lembrava disso, o que significava que ele havia tido interesse em mim logo no início da minha vida na Califórnia. – Por que você está sorrindo como uma maníaca?

– Você já gostou de mim desde a primeira vez que meu viu. – Meu maxilar já estava ficando dolorido de tanto rir, mas algo dentro de mim me dizia que eu ainda sorriria muito naquele dia. – Só ficou fazendo charminho, mas você gostava de mim!

– Claro que não. – Apolo franziu o cenho e fez biquinho.

Revirei os olhos e assim que fiz menção de sair do seu abraço, ele aumentou a força de seus braços em minha cintura.

– Sabe, não adianta ficar com isso agora. Eu não sou nenhuma tonta.

– Óbvio que não é. – Ele sorriu e me deu um selinho. – Eu não saio beijando tontas por aí.

Fiz cara feia para ele, só que logo esbocei um sorriso travesso.

– Ah, é? – Mordi meus lábios. – Você namorou a Kristen e vocês nunca se beijaram?

Maddox gargalhou e eu achei que se os anjos tocassem harpas, a melodia seria exatamente como o som de sua risada. Naquele momento eu quis tirar uma foto sua e guardá-la em um potinho. Ele descansou sua cabeça na minha clavícula e depositou um beijo no meu pescoço.

– Feliz aniversário, Whitford. – Ele sussurrou e eu o puxei para poder beijá-lo novamente.

Meu orgulho era grande demais para poder admitir que aquele estava sendo o melhor de toda a minha vida.

<*>

Acordei com Maria Antonieta miando sobre mim.

Céus, eu estava tão exausta. Provavelmente se não fosse a fome de minha gata, eu não acordaria antes das três da tarde.

Me apoiei com os cotovelos para levantar-me e senti o plástico no meu braço fazendo cócegas. Aquela pequena tatuagem era prova concreta que a noite anterior havia sido real e esplendorosamente maravilhosa.

Fui até o banheiro, lavei meu rosto e prendi meus cabelos em um rabo de cavalo alto. Vesti uma calça de pijama velha e desci a fim de procurar ração para Maria Antonieta. Geralmente ficava na grande dispensa da cozinha e foi até lá que me dirigi.

– Surpresa! – Eu não fazia ideia de que horas eram, mas eu tinha certeza que deveria ser ilegal ter tantas pessoas na sua cozinha gritando tão cedo.

Esbocei um sorriso e terminei de entrar no cômodo. Realmente era uma surpresa enorme encontrar não somente a minha família, Arthur e meu avô ali, como também Sally, Juliette, Oliver, Amélia, Greg e Sam sorrindo para mim. Apolo também estava ali, bonito como o inferno mesmo com uma regata e calça de moletom cinza.

Meu pai foi o primeiro a vir em minha direção, mas parou abruptamente olhando chocado para a minha tatuagem.

– Surpresa? – Sorri torto.

Ele se recuperou e me abraçou calorosamente.

– Feliz aniversário, filhota. – Ele me deu um beijo na testa e ainda me abraçando disse: – Nós teremos uma conversa séria sobre isso depois.

Sinceramente eu não sabia quando seria esse "depois", já o meu dia havia sido repleto de risadas e banho de piscina.

Nós aproveitamos as sobras do jantar de noivado e eu já devia estar com uns cinco quilos a mais de tanta torta de queijo que eu havia comido. Para piorar a minha relação com a balança, Art fez bolo de creme de avelã e morango e eu me acabei em tanto açúcar e carboidrato.

Tirei tantas fotos com meus amigos e família com a Polaroid que Sol havia me dado, que eu tinha certeza que precisaria de um novo quarto só para colocá-las. Vovô e Art me presentearam com a edição completa de colecionador de O Senhor dos Anéis, Sally me deu um par de botas de cano médio e meu pai tinha me dado um colar de ouro com um pingente redondo e com meu nome gravado nele.

Lá pelas seis da tarde nós fomos até a casa de vovô para buscar suas malas e depois os levamos até o aeroponto, onde ele e Art embarcariam rumo a uma semana romântica na Flórida.

Eu não costumava gostar dos meus aniversários, mas o meu dia havia sido tão espetacular que eu já estava quase mudando essa condição.

Já se passavam das onze da noite e eu estava sob uma maratona incansável de Juana Inês na Netflix junto com Apolo na minha cama. Nós realmente havíamos devorado aquela série e secretamente eu desejava que ela não acabasse tão cedo, uma vez que estar deitada sobre o tórax de Apolo debaixo das minhas cobertas não era nem de longe ruim.

O último episódio acabou lá pelas duas da manhã e quando o Maddox desligou a tevê, subitamente senti medo dele ir para o seu quarto e me deixar sozinha. Entretanto, Apolo parecia tão disposto em dormir sozinho em seu quarto quanto eu estava a deixá-lo ir.

Assim que ele se deitou ao meu lado, me aninhei em seu corpo quente e mandei um foda-se bem grande para todas as vezes em que brigamos e que eu quis matá-lo. Seus braços estavam ao me redor, deixando-me ainda mais aconchegada com ele. Maddox me encarava com ternura e eu não pude deixar de sorrir.

– Nosso primeiro encontro e já estamos dormindo juntos. – Brinquei, ele me deu um beijo calmo e demorado, tão bom como se fosse a primeira vez.

– Tecnicamente nós já tivemos outros encontros. – Sorriu.

– Mas esse foi o melhor. – Pontuei, depositando um beijo em seu pescoço.

– Sem dúvidas. – Apolo suspirou e me apertou ainda mais contra seu corpo.

Naquela noite eu não tive pesadelos.

~*~

MEU DEUS! Se vocês chegaram até vocês merecem um prêmio. Foram simplesmente 5.500 fuckings palavras!!!! O QUE VOCÊS ACHARAM PELO AMOR DE NOSSA SENHORA DOS CAPÍTULOS GRANDES?

Eu estava tão ansiosa para postar esse capítulo, mas eu realmente estivesse muito cheia nesses últimos dias. Confesso que estou sentindo falta de postar sempre, só que provavelmente pode demorar um tempinho para ter capítulos novos L Prometo me esforçar ao máximo para não demorar! Enquanto isso, vocês se recuperam desse hahah

Alguém aqui é de SP e vai pro Lollapalooza? Se sim, me levem por favorrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr D:

Amo vocês demais e AAAAA!! Temos novos leitores e eu queria agradecer de paixão por vocês estarem deixando tantas estrelinhas, eu fico feliz pra caramba <3

Beijão e boa semana para vocês!

Com amor, Juliana.

20/03/2017; 03hrs:11min

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