Estou vagando há dias pela região, reconhecendo a área e planejando meus próximos passos. Gastei parte dos últimos dias para espalhar melhor os carros com suprimentos, eles nãos servirão de abrigo mas serão meus planos B, C e D caso algo dê errado.
Também cobri bastante área a pé, pois apesar de ser mais demorado acaba por ser bem mais furtivo e me dar uma noção mais detalhada das localidades.
Mesmo já tendo tudo o que precisaria para me manter por um bom tempo eu não abdiquei da idéia de conferir os outros abrigos de Frank. Acabei chegando atrasado em praticamente todos eles e infelizmente em nenhum eu tive a sorte de me deparar com o miserável.
Ele também não deixou nenhuma armadilha ou mensagem parar mim, algo como aquele presentinho que deixei para ele no galpão. Admito que foi um pouco frustrante isso, mas sei que a hora de nos encontrarmos ainda chegará.
Os dias não serviram apenas para o trabalho físico. As noites frias e as madrugadas longas e solitárias serviram como uma companhia para mim e meus pensamentos. Não adiantaria de nada estar suprido com alimentos, carros, combustível, armas e munições se eu não estiver centrado e certo do que estava fazendo.
Estou revendo meus erros e equívocos, percebendo que não posso continuar agindo como ultimamente se quiser encarar de frente meus inimigos. As coisas do galpão facilitaram minha vida, mas em meio a essa guerra estou em clara desvantagem.
De um lado enfrento o comandante e seus grupos de buscas que detém a força bruta e do outro tem o Frank que tem a inteligência e o conhecimento a seu favor. E eu estou no meio dos dois e sem vantagem nenhuma contra eles, então preciso reverter este quadro logo.
Tive a idéia de criar pistas falsas e comecei a por isto em prática há dois dias. A maior parte das coisas são sutis mas tento as deixar bem claras pra um bom entendedor e as formas de fazer isso são muitas. Às vezes canto pneu propositalmente em alguma rua para marcar o asfalto, mas obviamente sigo por outra direção posteriormente. Limpei parcialmente uma casa na tarde passada e deixei apenas a cama desarrumada para aparentar que alguém dormia por ali, mas na verdade passei a noite a 20 km daquele lugar.
Deixei as marcas de uma fogueira numa parte da floresta próxima ao galpão em que pus os zumbis esperando que alguém chegasse até eles. E sempre que julgava seguro deixava algum tipo de sujeira para trás, como embalagens usadas e cascas de frutas. Tudo servindo como um rastro falso para despistar meu verdadeiro paradeiro e também para fazer com que talvez meus dois inimigos se encontrassem.
Se Frank e os grupos de buscas estão a minha procura, fazê-los seguir o mesmo rastro uma hora ou outra fará com que eles se esbarrem e um embate entre eles sempre será bom para mim.
Em meio a uma das minhas caminhadas de reconhecimento e implantação de pistas falsas eu decido parar e me abrigar no interior de um carro abandonado para escapar do sol forte e amenizar o calor. O carro estava largado à beira da estrada e não devia receber ocupação humana desde que deve ter sido jogado ali há meses.
Sentei no lugar do motorista e reclinei o banco para trás, com os pés sobre o painel eu repousei meu boné sobre parte do meu rosto e descansei meu corpo cansado. Os ferimentos da luta com Frank haviam deixado suas marcas, mas a essa altura já começaram a curar.
A costela ainda incomoda um pouco, principalmente quando faço algum tipo de esforço mais pesado ou preciso respirar mais fundo e por vezes acordo a noite quando me viro de lado e apoio o corpo sobre o lado ferido. Não tenho muito o que fazer quanto a isso então apenas descanso quando sinto dor e espero meu corpo cuidar da recuperação.
Os ferimentos no rosto me deixaram ainda mais feio do que antes, se é que fosse possível. E a aparência suja aliada aos cabelos também sujos, já longos e assanhados só pioravam a situação. Mas isso não me importava e eu sou grato por pelos menos os machucados não terem infeccionado, isso já é o bastante para mim.
Depois de certo tempo parado ali me endireitei novamente no banco e estiquei a mão para o lado alcançando a bolsa e retirando uma garrafa com água. Enquanto bebia observei pelo espelho central um zumbi vindo pela estrada e caminhando vagarosamente à cidade mais a frente.
Saquei a faca da bainha em minha cintura mas não saí do veiculo, apenas me mantive quieto bebendo o restante da água e aos poucos o mordedor foi passando ao lado do carro sem desviar a trajetória que vinha fazendo.
Eu o observei passar e naquele momento não senti vontade alguma em matá-lo. Debrucei-me sobre o volante e o vi se afastar e seguir seu caminho. Pensei como se desenrolaria a mesma situação caso fosse o Frank quem eu visse passando por ali, ou o comandante ou qualquer merdinha do grupo de buscas e com certeza as coisas não seriam tão calmas. Naquele momento eu percebi mais uma vez que talvez os zumbis não fossem meu maior inimigo.