O Receptáculo de Téldrin

By AbrahamKirquin

3K 535 1.4K

SINOPSE: Croune Wilan é um garoto pobre, de 11 anos, que mora em um pequeno e excluído vilarejo chamado Quiri... More

PRÓLOGO
1 - O Cliente do Cavalo Branco
2 - OS GAROTOS DE QUIRIATE - PARTE 1
2 - OS GAROTOS DE QUIRIATE- PARTE 2
3 - Uma História Intrigante
4 - Um Passeio de Carroça
5 - Um Bando de Estranhos
6 - Dois Indesejáveis na Taberna
7 - Discussão no Pomar
8 - Carmonélias, Carniça e Lobo
9 - Um Salvador Inesperado - Parte 1
9 - Um Salvador Inesperado - Parte 2
10 - Édrei
11 - O Sinogo
12 - O Patrocinador
13 - Palunfax
14 - O Broche
15 - A Loja Bergarus
16 - A Origem do Receptáculo
17 - Um Diálogo Agradável
19 - O Duelo no Sinogo
20 - O Torneio Mirim
21 - Perseguição Furtiva
22 - O Palácio de Salum
23 - Um Lanche no Telhado
24 - Presentes Para a Viagem
25 - Erioque Conta uma História
26- Caminho Alternativo
27- Uma Noite na Floresta
28- O Quarto Número 5
29 - O Dente de Ibrakul
30- Lítria
31 - O GUIA

18 - Passeio Noturno

42 11 14
By AbrahamKirquin

À noite, Croune trabalhou a ideia de contar a Vanguelb o que tinha ouvido na Loja Bergarus.

Foi no horário da janta, enquanto ele e Vanguelb estavam sentados à mesa, à luz dos candeeiros, que ele teve a coragem de resumir a conversa que teve com Bergarus naquele dia, incluindo tudo sobre a descoberta do passado de Vanguelb.

O velho escutou atentamente, sem interromper. Às vezes abanava a cabeça, quase imperceptivelmente, dando a impressão de não concordar completamente com uma parte ou outra da história.

– Se soubesse que o amigo que iria visitar era Bergarus, teria lhe proibido de sair deste quarto – reclamou Vanguelb. – Pensei que fosse visitar algum colega do Sinogo.

– Pelo menos ele responde às minhas perguntas – indignou-se Croune, olhando para o último pedaço de carne cozida em seu prato. – Coisa que você evita fazer.

– As palavras devem ser usadas com cuidado, por isso não conto tudo que as pessoas querem ouvir.

– Não peço que me conte nada além do que eu preciso saber!

Croune arrastou a cadeira para trás e se levantou.

– Estou apenas preocupado com meu pai. Quer que eu confie em você, mas não confia em mim. Nem tenho certeza se realmente me ajudará a achar meu pai. Agora sei que só está preocupado em se vingar de Shenack!

O quarto foi envolvido por uma quietude nada agradável.

Através da janela, Croune contemplava a noite. Lux ficou às suas costas, sentado, inutilmente balançando a cauda no chão e implorando sua atenção. Vanguelb olhou de esguelha para a janela enquanto mastigava a última porção de comida. Pôs-se de pé lentamente, passou a mão na barba e ajeitou o cinto frouxo.

– Vamos dar uma volta – disse ele. - Pode trazer seu cão junto, se quiser.

A sensação térmica diminuiu consideravelmente ao saírem pela porta da Hospedaria Aurora. A Lua cheia resplandecia no céu estrelado, derramando uma luz prateada sobre os telhados. As avenidas estavam quase desertas, e boa parte do comércio havia cessado a labuta diária.

Caminharam por longo tempo, sem trocarem palavras. Vanguelb, com as mãos presas às costas, seguia ao lado de Croune, a passos lentos. Lux sentiu-se livre para vagar a esmo pela rua, indo de um lado a outro, farejando o chão e levantando a perna traseira para marcar território em alguns postes de iluminação.

– O que é esse broche em seu peito? – perguntou Vanguelb.

– É o broche que eles dão para os participantes do Torneio Mirim – explicou Croune, dando uma ligeira olhada para o objeto preso à camisa.

– Não disse que participaria de um torneio.

– Pensei que não se importaria.

– Não é aconselhável ficar se expondo em público.

Croune encarou Vanguelb, rosto fechado.

– Não vou cancelar minha inscrição – ele falou. – Você mesmo disse que Édrei é um lugar seguro.

– É seguro se você não ficar chamando a atenção. Agora, se pintar o corpo de vermelho, subir em um poste e começar a gritar "Olhem pra mim! Sou o Croune! O Receptáculo está comigo!" é obvio que chamará a atenção... Shenack já está ciente de meu envolvimento e sabe que Édrei seria o primeiro local para onde eu fugiria. Ouvi comentários de que ontem dois mercenários tentaram entrar pelo portão oeste, mas foram barrados pelos soldados. Porém não sou seu pai. Faça o que quiser. Apenas fique sabendo que não hesitarei em pegar o Receptáculo e desaparecer por aí, caso lhe aconteça alguma coisa.

A calçada perdeu claridade por alguns passos, devido a um candeeiro que se apagou por falta de óleo. Lux parou e levantou as orelhas, atraído pelo som longínquo de latidos. Rosnou, latiu duas vezes, rosnou novamente e voltou a bater patas ao lado de Croune.

– Sei que quer algumas respostas, então deixarei que me faça cinco perguntas – falou Vanguelb, cortando o silêncio.

– Qualquer pergunta?

– Sim.

Croune levantou os olhos ao alto. O céu estava tomado de estrelas. Deixou a mente trabalhar em busca de alguma pergunta que valesse a pena. É claro que havia muitas, mas quais seriam as mais importantes? Ponderou por um bom tempo, sem pressa.

Então fez a primeira pergunta:

– Conheceu o Mediador?

– Sim – respondeu Vanguelb, sem desviar os olhos do caminho à frente. – Tem mais quatro perguntas.

Croune sobressaltou-se.

– Mas você não explicou...

– Tem só mais quatro perguntas – reafirmou Vanguelb. – Vou ser bem objetivo em minhas respostas. Formule com cuidado suas próximas perguntas.

Croune bufou. Julgando poder, futuramente, conseguir outra oportunidade de perguntar sobre o Mediador, montou a próxima pergunta e tentou respondê-la a si mesmo, como se fosse a pessoa interrogada – não queria uma resposta tão curta desta vez.

– Como ficou sabendo que eu estava com o Receptáculo?

– Recebi uma carta de Farnac dias atrás, onde ele relatava o ataque a seu vilarejo, sua fuga e o motivo de tudo aquilo estar acontecendo – começou ele. – Pediu que eu o encontrasse aqui em Édrei. Sua intenção era me entregar o Receptáculo de Téldrin para que eu o protegesse. Mas no momento em que fazia o trajeto até o ponto de encontro, fui parado por alguns soldados gordelianos. Perguntaram-me se eu tinha ouvido algum comentário referente a um Ancião Regente ferido na Floresta velha. Soube imediatamente que se tratava de Farnac. A única coisa que disfarçadamente consegui arrancar dos soldados foi a localização onde ele poderia estar.

Vanguelb pigarreou.

– Conheço bem a Floresta Velha, melhor que os soldados, pelo menos – continuou. – Encontrei Farnac ferido. Estava estirado no chão, mas ainda consciente. Coloquei-o em minha carroça, e enquanto estava adormecido tratei de seus ferimentos em minha casa. Quando abriu os olhos, pude lhe fazer algumas perguntas. Falou que tinha deixado o Receptáculo com um garoto chamado Croune Wilan, morador de um vilarejo próximo de onde o resgatei. Aproveitei o tumulto causado pelos mercenários e bárbaros, me disfarcei como vendedor de brinquedos e fui à sua procura.

– Então foi por este motivo que ele quase apanhou! – interrompeu Croune.

– Quem?

– Um amigo meu, Levi Marvele, contou que tinha visto um homem ferido na floresta, certa manhã, mas depois de um tempo, quando voltou, ele não estava mais lá. O coitado quase levou uma surra de um garoto grandão chamado Melquin.

A próxima pergunta de Croune foi como Vanguelb conhecera Farnac. O velho contou que depois que fora exilado, vagou sem rumo por um tempo. Estava desconcertado com tudo que havia acontecido: a acusação injusta que fizeram contra ele, os dias que passou trancafiado em uma prisão imunda até que Shenack decidisse sua sentença, e tudo o mais. Poucos o consideravam inocente. Meses depois de perambular de um lugar a outro, chegou ao vilarejo Gate. Farnac o acolheu em sua própria casa e surpreendeu-o ao falar que esperava ansioso por minha chegada. Disse que sonhara com Vanguelb e que precisava ajudá-lo. "Alguém" em um de seus sonhos lhe pedira que o ajudasse.

Viraram em uma esquina. A rua era mais estreita e repleta de lojinhas idênticas, diferenciadas apenas pela cor das paredes e pelo formato das placas de identificação posicionadas acima das portas.

Um candeeiro apagou-se ao longe, próximo ao final da rua. Um guarda caminhou até ele para alimentá-lo com óleo e instantes depois estava aceso novamente.

– A comida daqui é horrível! – disse Vanguelb, olhando para cima, para a placa de um restaurante ao seu lado. – Se um dia estiver com muita fome, prefira dividir a comida com os porcos em um chiqueiro do que levar um garfo à boca nesta espelunca cheia de relaxados.

Fez uma cara de nojo ao olhar para o vidro escuro do restaurante fechado. Lux atravessou a rua correndo e começou a latir para um gato que estava tranquilamente deitado no telhado de uma das lojas. O felino ignorou os latidos estridentes e permaneceu acomodado sobre as telhas, provocando seu inimigo com o rabo a balançar como uma cobra inquieta.

– Quero saber tudo sobre como o Receptáculo chegou até Farnac.

Vanguelb levantou uma das sobrancelhas.

– Isto não é uma pergunta – disse e voltou a relaxar o rosto e olhar para frente. – E quem lhe garante que eu saiba explicar esta exigência que fez?

– Eu sei que sabe.

– Como tem certeza?

Croune deu de ombros.

– Você disse que conversou com Farnac antes de ele morrer. Se for sábio, como o Sr. Bergarus disse que é, deve ter perguntado como ele conseguiu o Receptáculo. Pelo menos teria sido uma de minhas primeiras perguntas se eu estivesse em seu lugar.

– Vou considerar sua "ordem" como uma pergunta, para não perdermos muito tempo... – disse Vanguelb. – ... Farnac me contou que certa noite teve um sonho. Não aqueles sonhos que mais parecem uma barafunda de lembranças, mas um sonho bastante real. No sonho, uma voz falava com ele. A mensagem resumia-se em um estranho que lhe entregaria algo de extrema importância. Esse "algo" não poderia cair em mãos erradas; protegê-lo, se necessário com a própria vida, seria uma obrigação. Naquela mesma noite bateram à sua porta e lhe entregaram um invólucro de couro. O desconhecido apenas disse: "Você sabe o que tem de fazer." E partiu sem dizer mais nada.

– E o que aconteceu com Farnac depois? – indagou Croune, curioso.

– Esta é sua última pergunta?

Croune pensou um pouco. Havia outras perguntas a serem feitas, mas não podia deixar aquela para depois. Balançou a cabeça, confirmando.

– Farnac mudou depois daquele dia – respondeu Vanguelb. – Ainda era jovem e inexperiente e tudo aquilo o deixou um tanto perturbado e confuso. Temeroso de que estivesse colocando seu vilarejo em perigo, procurou os conselhos de Nibaz, um dos mais conceituados Anciões Regentes, o qual aconselhou-o a não se envolver com os negócios de Shenack, mas afirmou que respeitaria sua decisão, prometendo apoiá-lo no que fosse preciso. De alguma forma, Farnac se convenceu que deveria proteger o Receptáculo, pois foi o que ele fez por muitos anos.

Croune sabia que seria inútil dizer "O que aconteceu depois?". Desejava fazer outras perguntas, mas Vangueb se recusaria a respondê-las.

Depois de perambularem por mais alguns minutos, estavam novamente na rua da Hospedaria Aurora, caminhando em total silêncio. As únicas palavras que Vanguelb disse antes de entrarem pela porta da hospedaria foram: "Vai fazer frio esta noite!" 

Continue Reading

You'll Also Like

2.9K 546 109
Descrição no primeiro capitulo. Autor: 竹慕白
10.9K 580 15
é uma coleção de imagines cheia de amor, treta e momentos criados. Cada história te coloca como protagonista, vivendo romances e aventuras com brasil...
10.8K 3K 26
Uma guerra inexplicável se instaurou em um mundo habitado por bruxos, fadas, elfos, humanos e dragões. A luta entre os primeiros e os últimos citados...
140K 7K 70
"Depois de muito relutar, de muito brigar e de muito desdenhar, me vejo aqui, completamente entregue à loucura que é amar ele."