2 - OS GAROTOS DE QUIRIATE - PARTE 1

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A pedido dos leitores, estou colocando, hoje, um capítulo extra, dividido em duas partes.  Divirtam-se em Quiriate. 

Boa leitura.


Quando Croune conseguiu avistar o vilarejo, o movimento na rua havia aumentado. Os comerciantes ainda ajeitavam as mercadorias mais bonitas e chamativas embaixo de curtas varandas para protegê-las do sol, e algumas crianças corriam aos gritos atrás de um cachorro sarnento. Sob a sombra de algumas casas, pardais se roçavam na terra fresca, observados por um gato traiçoeiro, escondido no beco entre duas casas. E, como todas as manhãs, um caçador entrava assoviando pela porta da Taberna Moruski para satisfazer o maldito vício.

Croune estava com a mente confusa. Tudo que ocorrera minutos antes lhe deixara em parte intrigado e em parte preocupado. Que pessoas más estariam atrás de um Ancião Regente? Ladrões, certamente – imaginou Croune. Ladrões gostam de roubar pessoas importantes. Sabem que podem conseguir mais dinheiro que se roubassem uma pessoa qualquer. Todas as ameaças que recebeu se repetiram em sua mente e outra vez arrependeu-se de ter entrado naquela maldita floresta.

Seus pensamentos foram interrompidos assim que passou pela casa do Ancião Regente, quando foi surpreendido pelos gêmeos Luy e Balfeu, os filhos do Sr. Valfor Gargal, o vendedor de velharias. Os dois comiam um pedaço de bolo ao lado do poço, na entrada do vilarejo.

– Ei, Croune, o que foi aquilo que achou no chão? – perguntou Luy, limpando a boca com o antebraço.

– É! O que era? – questionou Balfeu, curioso. O único detalhe que o diferenciava do irmão era uma pinta escura, do tamanho de um grão de feijão, na bochecha direita. – Deixa a gente ver.

Croune continuou andando.

– De que estão falando? Não achei nada – respondeu.

– Achou, sim! – disse Luy, caminhando como um caranguejo ao seu lado. – Passou voando por nós e pegou alguma coisa no chão. Bem ali, ó.

– Verdade! – confirmou o outro.

Croune parou de repente. Os meninos pararam juntos.

– Não estou mentindo. Não achei nada. – Croune retirou o saquinho marrom do bolso da calça. – Um cliente do meu pai, que também é um grande amigo meu, deixou cair isto.

Luy curvou a cabeça na direção do saquinho.

– E o que é? – perguntou.

– Um monte de dinheiro.

– Legal! – sorriu Balfeu, esticando a mão para tocar no saquinho. – Agora esse dinheiro todo é seu, não é?

Croune recolheu o saquinho, evitando o toque do menino.

– Não! Corri atrás dele para entregar, mas ele sumiu na floresta. Agora vou esperar ele voltar para devolver. Não sou ladrão.

Os olhos de Luy correram até o embrulho que Croune segurava.

– E isso? Também é dinheiro?

Croune girou o corpo subitamente, para afastar o embrulho do menino.

– Não é da sua conta – exasperou-se, percebendo que não devia ter dado atenção àqueles enxeridos. Voltou a caminhar a passos largos.

– Achou na floresta, não foi? – questionou Balfeu, acompanhando-o. – Deixa a gente ver.

– Como sabe que achei na floresta?

– Porque não estava carregando nada quando passou por nós, e disse que tinha ido à floresta atrás do seu amigo. Então...

O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now