15 - A Loja Bergarus

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À tarde, Lupos guiou Croune à Loja Bergarus, como haviam combinado.

O auxiliar de cozinha da Hospedaria Aurora demorou bons minutos para fazer uma lista com os produtos que precisava que Lupos comprasse na fruteira no lado leste de Édrei, e quando apareceu uma mulher à procura de um quarto teve que deixar a pena e o tinteiro de lado e se deter em atendê-la, pois Dona Diná estava ocupada demais na cozinha – isto tudo prolongou a partida das crianças e aumentou a ansiedade de Croune.

– São as iniciais de "Loja Bergarus" – explicou Lupos, enquanto caminhavam pela rua da hospedaria. Estava com o broche de Croune na palma da mão e passava o dedo nas letras em alto-relevo. – L e B. Loja Bergarus, entendeu?

– É claro que entendi – retrucou Croune, indignado com a pergunta.

–Todo patrocinador estampa sua marca em alguma coisa. No ano passado a Confeitaria Pão Doce mandou confeccionar faixas com a frase "O melhor pão de Édrei" e os competidores precisaram lutar com aquela coisa vermelha presa em alguma parte do corpo. Um broche é algo muito menos chamativo... Pegue.

Croune pegou o broche e prendeu-o no lado esquerdo do peito.

– Botou de cabeça para baixo – disse Lupos.

Croune bufou, constrangido, desprendeu o broche e recolocou-o da maneira correta.

– Não é obrigado usar o broche antes do torneio, sabia? – disse Lupos.

– Eu sei. Mas quero evitar perdê-lo. E o Sr. Bergarus ficará feliz em ver que estou usando.

Enfiou a mão no bolso e puxou um pedaço de papel.

– O que está escrito aqui? – perguntou. Lupos pegou o papel que o capitão do Exército Mirim dera a Croune.

– Os participantes devem usar o broche no dia do torneio... – declarou.

– Isto eu já sei – interrompeu Croune.

Lupos continuou:

– Todos os participantes deverão se apresentar no ginásio Meligan às 14h do dia 15 deste mês – que é na semana que vem. Em caso de atraso, o participante será imediatamente desclassificado, e se...

– O que é aquilo? – interrompeu Croune.

Lupos levantou a cabeça e avistou um número grande de pessoas paradas à beira de uma avenida, à frente, e outras correndo para lá, curiosas, querendo entender o motivo do ajuntamento. Lupos e Croune se aproximaram e foram se espremendo entre a multidão, em meio a empurrões e pedidos de desculpas, e quando alcançaram a borda da avenida, conseguiram ver a razão do ajuntamento.

Uma espécie de transporte, com eixos, quatro rodas e base, carregava uma estátua grande, dourada e muito esquisita, puxada por quatro cavalos. A escultura tinha a forma de um homem e as mãos descansavam nos braços do trono em que estava sentado. A cabeça, no entanto, onde uma coroa repousava, era o que definitivamente deixava aquele monumento estrambótico, pois continha todas as características de um macaco. Uma dupla de homens, vestidos com turbantes e vestes brancas, acompanhava, nas laterais, o movimento lento do veículo. Tinham as mãos unidas abaixo do queixo e estavam compenetrados em algum tipo de prece. À frente, um grupo de oito homens, com passos sincronizados e vestidos de igual forma, liberava o caminho para a passagem da estátua dourada.

– Quem são estes homens? – perguntou Croune.

– Não sei – disse Lupos. – Nunca os vi aqui em Édrei.

– E aquilo? – Croune apontou para a estátua.

– É uma estátua, eu acho.

– Eu sei que é uma estátua. Mas representa o quê?

O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now