12 - O Patrocinador

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Após uma semana frequentando o Sinogo, Croune já se sentia um garoto inteligente. Tinha assistido a duas aulas de "Aritmética", com a mestra Felícia Petrone – uma moça bonita, de cabelos lisos –, o que estendeu sua contagem até o número trinta, com breves gaguejos quando entrava na casa dos vinte. Em sua segunda aula de "História das Culturas", o mestre Galatiel gastou algum tempo explicando as funções desempenhadas por um Ancião Regente, as roupas esquisitas usadas em Tagliory, e as festas anuais realizadas em Sitna.

– A "Festa Anual da Colheita do Trigo" é a festa mais importante em Sitna e acontece durante a primeira quinzena de cada ano – explicou o mestre Galatiel, caminhando entre as fileiras de carteiras e gesticulando com floreios de mãos. – Neste período, os cidadãos comem apenas alimentos fabricados com trigo e toda a cidade se reúne na rua principal para apreciar o desfile de sairatens, também conhecidos como cavalos gigantes. Estes enormes cavalos, por serem extremamente fortes e resistentes, substituem os bovinos no trabalho do campo. Os primeiros sete dias da festa são gastos no embelezamento dos animais. E acreditem: eles perfumam os pelos dos sairatens com bálsamos caríssimos.

Mestre Galatiel era um homem baixo, ao ponto de sua estatura ser motivo de chacotas silenciosas entre as crianças. Um metro e meio seria uma suposição até generosa para o homenzinho que usava pincenê. Entretanto, entre os mestres do Sinogo, diziam ser ele o mais intelectual e respeitado. Não era um homem exageradamente sério, mas também não possuía a audição tão aguçada como a de mestre Scroud, que conseguia captar o movimento de um átomo no fundo da sala. Tolerava breves cochichos e costumava não deixar de fora nenhuma pergunta a ele dirigida, fosse ela sobre o assunto da aula ou não – o que dava às crianças motivos para se desviarem do tema do dia, caso ele fosse chato.

Ele parou atrás da turma e virou-se para o tablado.

– Durante os sete dias seguintes, os sairatens desfilam pelas ruas da cidade, passando por avaliações de beleza, força e agilidade. No décimo quinto dia é anunciado o sairatem campeão, eleito pelo povo.

Um barulho de cadeira sendo deslocada ressoou próximo à porta, enquanto mestre Galatiel enveredava em sentido ao tablado, com seus passos curtos.

– Sim? – disse ele, ainda caminhando. Uma menina levantara a mão na primeira fileira.

– Existe algum prêmio para o campeão? – perguntou ela.

– O sairatem ganha fama – respondeu Galatiel. – E o dono do campeão recebe trinta aguiluns e muitas sacas de trigo.

– O senhor já viu um sairatem? – perguntou um garoto.

– Algumas vezes. Tive a oportunidade de viajar à Sitna faz alguns anos.

– E realmente são grandões como dizem?

– Preciso saber qual o tamanho de algo grandão para poder responder sua pergunta.

O menino deu de ombros e esticou o beiço inferior, deixando perdurar uma vaga busca por uma maneira correta de descrever o que estava falando.

– Sei lá! – disse. – Uma vez me disseram que eles eram do tamanho de um dragão.

– Dragão? E que tamanho tem um dragão?

O menino deu de ombros novamente.

– Primeiro – disse o mestre –, dragões existem apenas nas histórias de fantasia. Segundo, as dimensões deste ser fantasioso variam de acordo com a criatividade de quem está contando a fábula. Podem ter o tamanho de uma criança como você, ou as proporções do Sinogo. Mas quanto aos sairatens, saiba que eles não se alteiam acima de dois cavalos normais. Um garoto de seu tamanho não se sentiria confortável em cima de um.

O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now