10 - Édrei

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Croune acordou com os olhos pesados. Fez uma cara feia ao notar que sua boca descansava na crina do cavalo, e quando enfim se localizou, levou imediatamente a mão ao lado do corpo e conferiu a presença da bolsa.

– Como foi a noite? – perguntou Vanguelb. – Não são muitos que conseguem dormir sobre o dorso de um cavalo em movimento.

Croune esfregou os olhos remelentos.

– Felizmente meus braços sustentaram os balanços que seu corpo fez nas últimas horas – continuou Vanguelb. – Estava ficando cansado.

Ainda costeavam a Floresta Velha. O terreno era plano e as sombras das árvores protegiam suas cabeças do sol matutino. Pararam na borda da floresta para o desjejum. Vanguelb pegou o cavalo, levou-o um pouco mais para dentro da floresta e voltou com ele preso a uma carroça de madeira, velha e com algumas bugigangas dentro.

Estavam prontos para partir quando um som baixo, quase abafado pelo farfalhar das folhas das árvores, chamou a atenção de Croune.

– Ouviu isso? – disse ele, permanecendo imóvel, para não perder os detalhes do som que ecoou novamente por entre as árvores. – LUX! É ele!...

Croune correu desesperadamente, tropeçou em uma raiz exposta e caiu de quatro pés, mas se levantou com a mesma rapidez com que se desequilibrara e continuou correndo. Olhou para baixo assim que alcançou a borda de um barranco entre árvores e deu com a figura de um cão de pelagem negra, peito branco e pernas embarradas.

– LUX! – berrou Croune com um sorriso no rosto.

A cauda de Lux aumentou o balanço quando ele olhou para cima. Cão e garoto rolaram pelo chão quando se encontraram.

– Pensei que tinha perdido você para sempre! – Croune apertou o cão com um abraço enquanto o animal lambia incessantemente seu rosto. – Que bom que me encontrou! Que bom!

Croune pôs-se em pé, com parte de sua roupa suja pelas patas embarradas de Lux. Conforme o cão se contorcia de felicidade, emitindo sons incessantes de alegria, as pernas de Croune eram fustigadas pela cauda inquieta.

– Ele precisa comer alguma coisa – falou Croune quando retornou à entrada da floresta.

– Não temos tempo a perder – Vanguelb disse.

– Mas ele está com fome.

– No caminho cuidaremos disso.

Não se demoraram a partir. Croune tomou assento ao lado de Vanguelb e Lux se aconchegou na parte traseira da carroça, entre embrulhos e potes, de bruços, língua de fora e pernas esticadas.

Seguiram por uma trilha durante duas horas e o assento da carroça não era nada confortável – um dos poucos motivos que levava Croune a manter-se acordado. Suas pernas estavam cansadas de permanecer na mesma posição. Porém, um pensamento lhe tomava mais a atenção do que as pernas formigantes: conheceria Édrei. Ah, se seus amigos soubessem para onde ele se encaminhava agora. Rudi e Nevery sentiriam ciúmes se ficassem sabendo daquele detalhe!

– Espero que não pregue os olhos – disse Vanguelb. – Tente, pelo menos, não cair da carroça se adormecer. E tire a alça do ombro ou acabará deslocando o braço se ficar o tempo todo com esta bolsa dependurada.

– Não está pesado – afirmou Croune. Mesmo assim, descansou a bolsa sobre as pernas.

Vanguelb segurou as rédeas com uma das mãos, com a outra tateou o fundo da carroça. Puxou um dos pequenos pacotes que continha um pedaço de bolo de milho e alcançou-o a Croune que desembrulhou-o e comeu. Vanguelb também pegou um para si. Retirou o envoltório, com a ajuda dos dentes, e comeu a metade. A sobra jogou por sobre o ombro, um pouco relutante, e Lux enfiou o focinho entre a bagagem, catando os pedaços destroçados e devorando-os com poucas mastigadas. Beberam alguns goles de água para tirar os farelos dos dentes.

O Receptáculo de Téldrinजहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें