13 - Palunfax

90 14 35
                                    

Lux roçou-se na cama de Vanguelb, contorcendo-se como uma cobra. Parou uma fração de segundo, as patas para cima, exibindo seu peito branco e a barriga quase nua. Sacudiu freneticamente as pernas para coçar as costas nas cobertas emboladas, fazendo com que pelos negros desgrudassem de seu corpo e planassem em pontos esparsos da cama bagunçada.

Ficou imóvel uma segunda vez, barriga para cima.

Suas orelhas enrijeceram subitamente e o pescoço esticado se encolheu e o nariz apontou para a porta do quarto quando ela se abriu. Levantou-se em um movimento rápido e saltou para o chão, a cauda agitada.

Quando o rosto de Croune surgiu na porta, ele empinou as patas dianteiras e emendou uma sequência de lambidas no rosto do garoto, dando uma velocidade maior para o movimento de sua cauda.

– Me deixe entrar, me deixe entrar! – insistiu Croune, tentando se livrar dos empurrões de Lux.

Entrou e fechou a porta.

Lux saltou sobre a cama de Vanguelb e deitou-se no travesseiro.

– O que está fazendo aí? – perguntou Croune. – Sabe que Vanguelb não gosta que suba em sua cama. Desça, desça!

Empurrou o cão para o chão e começou a arrumar a cama, espalmando as cobertas para tirar os pelos. Afofou o travesseiro e esticou o cobertor.

– Bagunceiro! – exortou. Lux estava com um olhar despreocupado, deitado na cama ao lado. – Nessa cama você pode subir – falou, apontando para sua cama. Correu o dedo para a cama já arrumada de Vanguelb. – Nessa não, entendeu?

Curvou-se e cheirou as cobertas de Vanguelb.

– Viu o que fez? As cobertas estão com o seu cheiro. Torça para que ele não tenha um bom olfato.

Antes de o almoço ser servido, Croune demorou seus pensamentos no Torneio Mirim. Ele tinha capacidade suficiente para ganhar o prêmio. Duvidou que qualquer outro garoto conseguisse vencê-lo em um duelo. Relembrou a facilidade com que ganhava as disputas em Quiriate. Chegou, por duas vezes, a permitir que dois garotos o enfrentassem ao mesmo tempo para que a disputa ficasse em um nível de dificuldade elevada. Desejou ter sua espada de madeira naquele momento. Poderia treinar no quarto, nos horários vagos – que não eram poucos. Decidiu descer no início da tarde, e procurar perto do estábulo por algum sarrafo que servisse de simulacro.

"Seria o níquen mais mal gasto da minha vida", Lupos tinha dito. Croune pensava diferente. Era habilidoso com uma espada e um níquen era um preço singelo para demonstrar suas técnicas.

Pensando nos níquens que possuía, enfiou a mão no bolso da calça e retirou a chave velha. Agachou-se diante do baú de madeira, abriu-o e pescou a bolsa no fundo, onde havia guardado o Receptáculo, o colar e suas moedas. Para sua surpresa, ela foi levantada com uma flacidez e leveza inesperadas.

Abriu a boca da bolsa e encontrou três objetos circulares, de bronze, e um saquinho marrom. Ali estavam seus níquens e o saquinho com o colar esquisito – nada mais.

Atônito, curvou-se e tateou loucamente o fundo de madeira.

Nada.

Jogou a bolsa sobre a cama e saiu do quarto correndo.

Dona Diná estava conversando com um hóspede no balcão de atendimento. O homem explicava sobre seu desagrado com a cama dura que estava em seu quarto, e pedia gentilmente que o problema fosse resolvido o mais rápido possível. Croune parou atrás dele, ansioso.

A conversa foi rápida, terminando com a afirmação da hospedeira de que iria resolver o problema até o final do dia. O homem fez uma mesura e subiu as escadas.

O Receptáculo de TéldrinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora