6 - Dois Indesejáveis na Taberna

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Dois dias depois de Croune ter decidido não sair de casa, o vilarejo voltou à antiga monotonia. A Taberna Moruski não recebeu os novos clientes naquela manhã e a Pousada Pena de Ganso, com seus poucos quartos livres, aguardava os próximos clientes, que pela opinião da Sra. Kraulli, não apareceriam tão cedo.

O Ancião Tristor voltou a aparecer na rua do vilarejo, contente por aqueles homens terem desaparecido. Com tantas pessoas decentes no mundo, foram aparecer logo aqueles baderneiros.

O único motivo que deixou os moradores tristes foi que as vendas voltaram a cair. E o pior é que, mesmo extenuados com os dias de farto trabalho, tiveram que passar um bom tempo arrumando a bagunça deixada pelo bando. Havia barris estirados no meio da rua, canecas jogadas em frente à taberna, vasos quebrados, e até uma lança cravada na parede da Confeitaria Líria – resultado de uma briga que ocorrera na última noite.

Croune, que sabia exatamente o motivo da vinda daqueles homens ao vilarejo, agradeceu em silêncio por terem desaparecido sem suspeitar dele. Perguntou-se por quanto tempo aqueles sujeitos procurariam inutilmente aquilo que estava sob seus cuidados? Tinha que se manter cauteloso. Poderiam retornar quando ele menos esperasse. Torceu, outra vez, para que o Ancião Regente, o qual o incumbira de cuidar daquele objeto estranho, aparecesse naquele mesmo dia e o liberasse daquela responsabilidade.

Entrou pensativo na Confeitaria Líria, pedindo algumas fatias de bolo de milho, para o lanche da tarde, e, a pedido de seu pai, passou na taberna, para encher mais uma garrafa de vinho.

Enquanto o Sr. Moruski ocupava-se com a garrafa, Croune aproveitou para correr os olhos pelo recinto. As mesas estavam vazias e limpas. Realmente não tinha ficado nenhum mercenário ou bárbaro para trás, e ele respirou aliviado. Pegou a garrafa, jogou dois níquens na mão do taberneiro, agradeceu e saiu.

Foi para casa pensativo, mas com uma tranquilidade invejável. Os mercenários tinham partido e o vilarejo voltado à rotina de sempre, e não havia motivos para preocupação. Afinal, o pior havia passado.

Pobre Croune. Ele entrou em sua casa tão confiante, sem ter a mínima noção do que estava prestes a acontecer naquela noite na Taberna Moruski.

Lá estava o Sr. Moruski, esfregando freneticamente seu inseparável pedaço de trapo no balcão, para tirar a mancha de vinho que aquele desastrado caçador havia derramado minutos atrás. Relaxado! – disse o taberneiro em pensamento. Toda vez que aparece faz alguma burrada.

A taberna ainda permanecia aberta, com a esperança de receber os últimos níquens do dia. A intenção do taberneiro era fechar a porta mais cedo, pois andava muito irritado, e supunha que isto era culpa das noites mal dormidas que tivera nos últimos dias.

No momento em que, vitorioso, conseguiu eliminar aquela mancha teimosa do balcão, dois cavalos pararam em frente à taberna. Poucos segundos depois, dois homens entraram pela porta.

Qualquer taberneiro ficaria contente em receber dois clientes daquela categoria, mas o Sr. Moruski, ao levantar a cabeça para ver os donos daquelas passadas lentas no assoalho, não se sentiu nenhum um pouco feliz. Sempre que homens como aqueles apareciam, traziam problemas.

Pelas vestimentas, podia-se afirmar que eram soldados. Usavam botas altas, e as cotas de malha eram visíveis sob as axilas. Carregavam espada no cinto. O desenho de uma águia estava estampado no peitoral.

O Sr. Moruski fez uma carranca e lançou o trapo para cima do ombro assim que pisaram no chão da taberna. Condenou a si mesmo por não ter fechado a porta alguns minutos antes.

Os dois soldados pararam ante o balcão de mogno e um deles jogou um copo para o lado, dando um leve tapinha com as costas da mão, sentou-se em uma cadeira alta e escorou audaciosamente o cotovelo no balcão. O outro, o mais velho, se manteve em pé, com cara de nojo, correndo os olhos de mesa em mesa.

O Receptáculo de TéldrinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora