9 - Um Salvador Inesperado - Parte 2

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Croune entrou pela porta dos fundos, saltou por cima dos móveis caídos e invadiu seu quarto. Retirou a bolsa com carmonélias do ombro e jogou-a no chão. Apressado e trêmulo, arrastou o criado-mudo para o lado, ajoelhou-se, retirou as tábuas do assoalho e puxou o embrulho com as duas mãos. O saquinho com o colar veio sentado sobre o couro velho.

Não dando importância ao buraco no assoalho, ficou de pé, e o saquinho marrom caiu no chão. Recolheu-o e ficou olhando para ele, por um tempo. De repente, resolveu guardá-lo no bolso da calça, pensando em oferecer seu conteúdo aos soldados, caso ficassem bravos pelo que ele fizera.

Com o fardo embaixo do braço, saiu correndo porta afora.

O sol tinha se despedido, e a noite se aproximava.

A porta da casa do Ancião estava entreaberta e ele entrou sem pedir licença. Lux desta vez conseguiu penetrar na sala requintada.

Sentado em sua poltrona, o ser rechonchudo mordiscava um biscoito de milho. Jogou o último pedaço do petisco goela abaixo e espalmou as mãos, para tirar os farelos dos dedos. A presença de um cão sujo em seu belo tapete escarlate era um mero detalhe naquele momento, pois seus olhos estavam fixos no embrulho que o garoto trazia nas mãos.

– É isto que eles tanto querem? – perguntou.

Croune balançou a cabeça. Não se deu ao luxo de sentar-se.

– Os soldados procuraram em todos os cantos de sua casa. Escondeu muito bem... Mas o importante é que está aí. Agora, me dê ele.

Fez um sinal com a mão, pedindo que o invólucro lhe fosse entregue. Croune recuou um passo.

– Primeiro, quero que soltem meu pai – disse.

O Ancião esticou os lábios em um sorriso torto.

–Você me entrega este objeto, eu falo com eles, e então seu pai é solto – planejou o Ancião. – Não quero que converse com aqueles miseráveis, entende? São pessoas más e perigosas. Faço isto por você.

– Não vou dar nada antes de ver meu pai, Sr. Tristor.

O Ancião mudou a fisionomia do rosto. O pequeno sorriso de animação foi substituído por uma carranca. Levantou-se com um impulso, desprendendo uma ponta do casaco que ficara presa ao cinto. O medalhão usado pelos Anciões Regentes balançou sobre a barriga avantajada.

– Primeiro irão pedir o que está em suas mãos – comentou. – Depois soltarão seu pai.

– Como vou ter a certeza que não me enganarão?

– Eles são homens honestos, Croune. Não querem fazer mal a ninguém. Se entregarmos o que estão procurando, libertarão seu pai.

– O senhor acabou de dizer que eles são pessoas más. Como quer confiar neles agora?

Tristor fez silêncio.

– Então, confie em mim... – prosseguiu o Ancião Regente. – Somos amigos, não somos? – Deu três pequenos passos em direção ao garoto, com um sorriso forçado estampado no rosto, e uma das mãos esticada. – Muitas vezes ignorei suas travessuras, não é mesmo? Sempre gostei de você. Pode confiar em mim.

– O Sr. Moruski disse que não devo confiar no senhor – jogou Croune.

– Moruski disse?

Tristor soltou uma risada irônica.

– Aquele homem interage com ladrões e bêbados diariamente, como quer que ele confie em alguém – disse Tristor. – Vamos, passe isso pra cá!

O Receptáculo de TéldrinOnde as histórias ganham vida. Descobre agora