19 - O Duelo no Sinogo

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– A linguagem escrita mais antiga de que se tem conhecimento, e que há muito não é usada, era pobre e confusa – explicou o mestre Scroud, na aula de A Arte da Linguagem Escrita daquela manhã. – Era composta por doze runas e cada runa possuía mais de um significado, o que gerava muita confusão entre os povos antigos. Este conjunto pobre de runas era chamado de Símbolos de Arquimenez. Em outra oportunidade explicarei o motivo destas runas terem sido batizadas com este nome.

O mestre caminhou no tablado, buscando mais informações.

– Entretanto, os Símbolos de Arquimenez foram fundamentais para o que chamamos hoje de Escrita Moderna – prosseguiu – pois tudo tende ao aperfeiçoamento com o passar dos anos.

Aquela aula estava sendo confusa para Croune. Manteve na mente a frase "A falta de concentração e o desleixo são os maiores antagonistas de um indivíduo que deseja ser alfabetizado", ditas pelo próprio Sr. Scroud no primeiro dia de aula, e tentou desviar a atenção de qualquer ruído à sua volta. Mas a ansiedade pelo dia do Torneio Mirim não lhe permitia manter a concentração desejada.

Scroud usou a lousa para rabiscar as doze runas e repetiu por várias vezes o nome de cada uma, fazendo com que os alunos o acompanhassem em voz alta.

– Os dois, aí atrás, querem compartilhar o assunto com a turma? – ribombou a voz de Scroud, quando dois garotos soltaram risinhos debochados na fileira mais próxima das janelas. – Devem estar bem inteirados da matéria de hoje, não? – continuou. – Posso ficar à vontade e fazer algumas perguntas?

Não foi exatamente uma pergunta que esperasse por uma resposta. Scroud simplesmente foi até o quadro e apontou algumas runas, pedindo que as descrevessem pelo nome. Das doze, um dos meninos acertou sete. O outro se atrapalhou tanto que Scroud balançou a cabeça, decepcionado, desistindo logo em seguida, e repetindo seu breve discurso sobre "concentração e aprendizado".

Mais tarde, os trinta e dois alunos foram levados à biblioteca, onde passaram o restante daquela manhã. As altas e extensas estantes que compunham o local formavam um verdadeiro labirinto, e todas eram repletas de livros, grandes, pequenos, quase todos bastante velhos. O teto abobadado era imensamente alto e permitia uma ventilação que ajudava na conservação dos livros. Duas escadas levavam ao patamar superior, o qual circundava as paredes, permitindo que o teto pudesse ser visto pelos que se encontravam lá embaixo. Ali também havia muitas estantes com livros.

A pedido de mestre Scroud, a bibliotecária procurou os livros solicitados e os colocou sobre as mesas.

Croune sentou-se com outros três alunos. Agradeceu por não ter compartilhado a mesa com uma das três meninas que completavam a classe.

A tarefa era simples: com os livros abertos, os alunos deveriam identificar, na página indicada, os Símbolos de Arquimenez, em meio a dezenas de outras runas.

Croune já havia encontrado dois Símbolos de Arquimenez quando alguém tirou sua atenção.

– Ei! – veio a voz atrás de Croune. – Ei, aqui!

Croune se virou e deu com um garoto de tez clara sentado no grupo da mesa ao lado. O garoto olhou para o peito e esticou a camisa na direção de Croune.

–Também vou participar do Torneio Mirim – cochichou. O broche da Loja Bergarus estava preso ao lado dos botões da camisa escura. Ele soltou a camisa.

– Meu nome é Derc. – Esticou a mão para um cumprimento.

– Me chamo Croune.

Apertaram as mãos rapidamente.

O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now