31 - O GUIA

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Croune abriu os olhos e notou que estava deitado em um campo florido, rodeado por colinas uniformes. O céu estava limpo, sem nuvens. Pássaros voavam muito acima de sua cabeça, sob o imenso lençol azul, soltando guinchos distantes. Uma luz pálida, mais forte que o brilho do sol, reluzia no firmamento, derramando seu brilho pela planície colorida.

Levantou-se e tocou o gramado fresco com os pés descalços. Onde estavam todos? Para onde fora Erioque, Vanguelb, Artenon, Guepardo do Norte? Lembrava-se de ter adormecido em um lugar bastante diferente daquele. Havia uma árvore perto de sua cama e, deste lado, bem ali, uma fogueira iluminava o acampamento.

A mente de Croune ficou ainda mais emaranhada quando olhou à sua direita e focalizou a Figueira das Reuniões, com seus galhos centenários, no topo de uma colina. Uma espada de madeira descansava em seu caule. E sob a sombra de um dos galhos viçosos um cão de pelagem negra brincava com um fêmur de carneiro despreocupadamente. O que Lux, sua espada de madeira e a Figueira das Reuniões estavam fazendo naquele lugar? Quanto tempo ficara dormindo?

Uma brisa suave soprou, balançando as flores e acariciando seu cabelo.

Croune – retumbou uma voz, que parecia vir de todas as direções ao mesmo tempo. Continha o timbre de um trovão, contudo, não causava incômodo aos ouvidos, pois conseguia, sabe se lá como, ser forte e ao mesmo tempo delicada.

Croune girou à procura do portador da voz. Não encontrou ninguém.

Olá! – disse para o vazio. – Sabe onde estou?

A voz prontamente respondeu:

– Está em um sonho.

Mas é claro, disse Croune consigo mesmo, aquilo tudo só podia ser um sonho.

Mas não um sonho comum – continuou a voz tonitruante.

Croune ficou sem entender o que aquela voz quis dizer. Como geralmente acontece em um sonho comum, algumas coisas estavam fora do lugar: a Figueira das Reuniões não era para estar ali, Lux deveria estar em Édrei e sua espada de madeira ficara em Quiriate.

E existem sonhos que não são comuns? – perguntou, achando que o próprio dono da voz, por estar invisível, fosse uma prova plausível de que aquilo era um sonho bem normal.

Estas são suas boas lembranças, Croune – disse a voz, como se conhecesse seus pensamentos. – Alguns desses pequenos detalhes lhe trazem conforto, por esse motivo estão em seu sonho.

Croune ainda não estava convencido. Olhou para os ferimentos em seus braços e tocou-os com a ponta dos dedos, de leve, depois com mais força. Não sentiu dor nenhuma.

Ainda me parece um sonho bem comum – afirmou.

A brisa tocou os ouvidos de Croune outra vez.

– Em um sonho comum, você não percebe que está sonhando – disse a voz. – Acredita que tudo à sua volta é real e não se pergunta como foi parar em um lugar diferente. Também não se lembra de onde estava quando dormiu. Mas você percebeu que não deveria estar aqui. Entendeu que deveria abrir os olhos e ver seus amigos, a fogueira no bosque, o desjejum sendo preparado.

A voz estava certa. Croune se lembrava de onde estava quando dormiu. O bosque era o lugar onde deveria ter acordado.

Quem é você? – perguntou.

Sou o Guia – respondeu prontamente a voz. – Precisava falar com você, lhe mostrar algo, por isso lhe trouxe aqui.

Sempre que a voz de trovão desaparecia, a brisa suave aquietava-se. Croune foi o próximo a falar.

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⏰ Last updated: Dec 13, 2020 ⏰

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O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now