4 - Um Passeio de Carroça

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O Sr. Bergarus encostou sua carroça na beira da rua e amarrou seu cavalo em um palanque exclusivo para os clientes, posicionado em frente à Untuárica Wilan.

O comerciante de Édrei era um homem forte, com cerca de cinquenta anos, braços largos e barriga avantajada. Usava calças largas e um colete de couro. Um chapéu de aba longa cobria o cabelo levemente grisalho.

Foi à traseira de sua condução e esticou um pelego grosso, conferindo se os quatro cantos do bagageiro estavam bem forrados. Bateu na porta do galpão e aguardou.

Assim que a porta se abriu, o portador de dois braços finos e curtos se lançou na direção do cliente, apertando-lhe a cintura. O homem deu um pequeno passo para trás – resultado do impacto.

– Sr. Bergarus, que bom vê-lo! – disse Croune, a bochecha colada na barriga farta do homem.

– Também é bom vê-lo, pequeno soldado – sorriu Bergarus, as mãos alisando carinhosamente o cabelo desajeitado do menino. – Como você cresceu, garotão. Está quase pronto para usar uma espada. – Pegou os braços de Croune e apalpou-os. – Vejo que andou ganhando um pouco de músculo. Seus bíceps cresceram. O que anda fazendo?

– Estou treinando com minha espada de madeira todos os dias – respondeu Croune, com o cotovelo dobrado, olhando para seu próprio bíceps.

– E como está se saindo?

– Sou o melhor em Quiriate.

O complacente homem deu dois tapinhas no ombro ossudo de Croune.

– Com certeza é. Não tenho dúvidas.

Croune agarrou Bergarus pela mão.

– Venha, entre, Sr. Bergarus, meu pai está terminando de embrulhar sua encomenda. Vai ficar para o almoço?

– Infelizmente, não. Tenho pressa. Minha demora é meu prejuízo, e meu prejuízo, o lucro dos meus concorrentes. Mas prometo que não vou demorar a aparecer novamente.

O Sr. Bergarus não aceitou sequer o vinho fresco que o Sr. Lucios ofereceu antes de começarem a carregar a mercadoria. Ficou dizendo que estava atrasado para um compromisso em Édrei, onde se reuniria com alguns dos maiores comerciantes do reino para trocarem ideias sobre os preços que colocariam nas mercadorias na semana da Festa das Cabras, evento que ocorria uma vez a cada cinco anos.

– Como andam as vendas, Bergarus? – perguntou Lucios. Terminava de embrulhar, com algumas camadas de papel, a última garrafa de epigastrolínio, uma infusão indicada para problemas intestinais.

– Melhores a cada dia, Lucios. As coisas andam muito corridas ultimamente. O bondoso rei diminuiu os impostos sobre as mercadorias, uma estratégia boa para aumentar as vendas. Pagando menos impostos, conseguimos comprar mais. Diminuímos os preços e os clientes surgem aos punhados.

O comércio em Édrei era gritantemente mais agitado que em Quiriate, e o Sr. Lucios estava informado deste detalhe. Durante o dia era quase impossível caminhar pelas ruas. Comerciantes espalhavam-se por toda parte, gritando e anunciando seus variados produtos promocionais; e pessoas se apertavam, entre reclamações e xingamentos, brigando pelas melhores ofertas. A busca pelos produtos da Untuárica Wilan também se avolumara nos últimos meses, e estavam sumindo rapidamente das prateleiras da Loja Bergarus, Armamentos e Variedades.

Bergarus sacou um pedaço de papel do bolso de sua camisa e entregou-o a Lucios.

– Aí tem uma lista do que vou precisar para a próxima remessa – disse. – Virei buscar no fim do mês. Se precisar aumentar o pedido, mando uma mensagem.

O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now