24 - Presentes Para a Viagem

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Na tarde que antecedeu sua partida, Croune foi à Loja Bergarus e encontrou o comerciante atendendo ao balcão. O cliente era um jovem de cabelos encaracolados, magro e de barba escanhoada. Estava experimentando um arco, tencionando a corda e mirando com um único olho aberto. Não se agradou e devolveu-o ao suporte na parede. Testou uma espada longa, uma lança com ponta de osso e um punhal de prata. Acabou optando por ficar com um machado de cabo curto e lâmina cega, dizendo que tinha um tio que era afiador e que não lhe cobraria o trabalho de afiação. Pagou pelo produto e saiu.

A visita daquela tarde começou com elogios por parte do comerciante.

– Me deixou orgulhoso! – disse Bergarus, falando da desenvoltura de Croune no Torneio Mirim. – Ganhei uma aposta que fiz com um ricaço, dono de uma queijaria localizada na Rua Tulipa. Não precisarei comprar queijo por um ano. O velho discutiu comigo. Apostou que você perderia a segunda luta, aquela com o garoto grandalhão.

Croune foi consolado pelo comerciante, o qual tentou convencê-lo de que a perda do prêmio não era motivo para tristeza. Depois de demonstrar que não estava chateado com a derrota na final do torneio, o garoto contou o verdadeiro motivo da visita. Fez um breve relato de sua ida ao palácio e dos pedidos que Vanguelb fizera ao rei. Bergarus não demonstrou maior surpresa do que o dia em que soube que Croune viera para Édrei acompanhado de um estranho.

– Pode ser perigoso lá fora - disse Bergarus. - Mas não posso forçá-lo a ficar. Se acha que deve ir com Vanguelb, vá.

Preferindo não prolongar o assunto concernente à viagem à Perimur, Bergarus começou a contar algumas histórias envolvendo sua loja. A mais hilária delas – a qual pendia mais para uma piada que para um fato verídico – foi a de um anão, vendedor de bugigangas, que tentou lhe passar a perna ao oferecer uma taça de bronze com a afirmação de que o objeto era de ouro.

– Imaginou que eu fosse cair em seu truque – gargalhou Bergarus. – Sou experiente no ramo das negociações. Segurei mais ouro na vida do que ele conseguiria carregar naquela carroça decrépita.

Logo, decidiram tomar chá. Bergarus desapareceu por uns minutos pela porta da cozinha e retornou com uma chaleira transbordando chá de camomila, xícaras, colheres e um pote de mel.

Entre as bebericadas de chá, Bergarus precisou interromper duas vezes a conversa para atender os clientes que entraram em sua loja. O primeiro queria comprar um jogo de facas para seu açougue e não demorou a sair com um cutelo e outras duas facas compridas e bem afiadas. O segundo fez o comerciante perder tempo, pois gastou vinte minutos escolhendo um arco e decidiu voltar na semana seguinte.

Novamente na poltrona, Bergarus apanhou a xícara de chá e cruzou as pernas. Croune retomou parte do assunto referente a visita ao palácio, frisando sua surpresa ao saber que Erioque viajaria com eles.

– Ele realmente é grande, você verá, mas os gigantes são ainda maiores – explicou Bergarus.

– Então, realmente existem gigantes?

– É claro! Nunca vi um, mas Édrei entrou em confronto com alguns, no passado.

– E onde moram os semigigantes? O senhor nunca me contou a história deles.

O Sr. Bergarus respirou fundo e bebeu seu chá sem pressa de tirar a xícara dos lábios.

– Nunca contei porque não costumo iniciar uma história triste sem que me seja pedido – disse. Ergueu a chaleira e serviu meia xícara de chá. Colocou duas colherzinhas de mel e experimentou.

– Eles habitavam no Leste, em uma terra chamada Perzalon – deu início Bergarus, sem entusiasmo. – Lá vivia a única raça de semigigantes. Eram os únicos seres de grande estatura que tinham afinidade com os homens. Sempre foram pacíficos e gentis com os povos à sua volta. Mas certa noite, Perzalon foi atacada por gigantes que vieram do Norte. Eu ainda era jovem, mas fiquei sabendo, anos mais tarde, que foi a batalha mais violenta que já existiu. Milhares e milhares de gigantes e semigigantes se enfrentaram. Os gigantes estavam em maior número, o que lhes deu certa vantagem. A batalha durou muitos dias. Então, os semigigantes caíram.

O Receptáculo de TéldrinWhere stories live. Discover now