O Receptáculo de Téldrin

By AbrahamKirquin

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SINOPSE: Croune Wilan é um garoto pobre, de 11 anos, que mora em um pequeno e excluído vilarejo chamado Quiri... More

PRÓLOGO
1 - O Cliente do Cavalo Branco
2 - OS GAROTOS DE QUIRIATE - PARTE 1
2 - OS GAROTOS DE QUIRIATE- PARTE 2
3 - Uma História Intrigante
4 - Um Passeio de Carroça
5 - Um Bando de Estranhos
7 - Discussão no Pomar
8 - Carmonélias, Carniça e Lobo
9 - Um Salvador Inesperado - Parte 1
9 - Um Salvador Inesperado - Parte 2
10 - Édrei
11 - O Sinogo
12 - O Patrocinador
13 - Palunfax
14 - O Broche
15 - A Loja Bergarus
16 - A Origem do Receptáculo
17 - Um Diálogo Agradável
18 - Passeio Noturno
19 - O Duelo no Sinogo
20 - O Torneio Mirim
21 - Perseguição Furtiva
22 - O Palácio de Salum
23 - Um Lanche no Telhado
24 - Presentes Para a Viagem
25 - Erioque Conta uma História
26- Caminho Alternativo
27- Uma Noite na Floresta
28- O Quarto Número 5
29 - O Dente de Ibrakul
30- Lítria
31 - O GUIA

6 - Dois Indesejáveis na Taberna

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By AbrahamKirquin

Dois dias depois de Croune ter decidido não sair de casa, o vilarejo voltou à antiga monotonia. A Taberna Moruski não recebeu os novos clientes naquela manhã e a Pousada Pena de Ganso, com seus poucos quartos livres, aguardava os próximos clientes, que pela opinião da Sra. Kraulli, não apareceriam tão cedo.

O Ancião Tristor voltou a aparecer na rua do vilarejo, contente por aqueles homens terem desaparecido. Com tantas pessoas decentes no mundo, foram aparecer logo aqueles baderneiros.

O único motivo que deixou os moradores tristes foi que as vendas voltaram a cair. E o pior é que, mesmo extenuados com os dias de farto trabalho, tiveram que passar um bom tempo arrumando a bagunça deixada pelo bando. Havia barris estirados no meio da rua, canecas jogadas em frente à taberna, vasos quebrados, e até uma lança cravada na parede da Confeitaria Líria – resultado de uma briga que ocorrera na última noite.

Croune, que sabia exatamente o motivo da vinda daqueles homens ao vilarejo, agradeceu em silêncio por terem desaparecido sem suspeitar dele. Perguntou-se por quanto tempo aqueles sujeitos procurariam inutilmente aquilo que estava sob seus cuidados? Tinha que se manter cauteloso. Poderiam retornar quando ele menos esperasse. Torceu, outra vez, para que o Ancião Regente, o qual o incumbira de cuidar daquele objeto estranho, aparecesse naquele mesmo dia e o liberasse daquela responsabilidade.

Entrou pensativo na Confeitaria Líria, pedindo algumas fatias de bolo de milho, para o lanche da tarde, e, a pedido de seu pai, passou na taberna, para encher mais uma garrafa de vinho.

Enquanto o Sr. Moruski ocupava-se com a garrafa, Croune aproveitou para correr os olhos pelo recinto. As mesas estavam vazias e limpas. Realmente não tinha ficado nenhum mercenário ou bárbaro para trás, e ele respirou aliviado. Pegou a garrafa, jogou dois níquens na mão do taberneiro, agradeceu e saiu.

Foi para casa pensativo, mas com uma tranquilidade invejável. Os mercenários tinham partido e o vilarejo voltado à rotina de sempre, e não havia motivos para preocupação. Afinal, o pior havia passado.

Pobre Croune. Ele entrou em sua casa tão confiante, sem ter a mínima noção do que estava prestes a acontecer naquela noite na Taberna Moruski.

Lá estava o Sr. Moruski, esfregando freneticamente seu inseparável pedaço de trapo no balcão, para tirar a mancha de vinho que aquele desastrado caçador havia derramado minutos atrás. Relaxado! – disse o taberneiro em pensamento. Toda vez que aparece faz alguma burrada.

A taberna ainda permanecia aberta, com a esperança de receber os últimos níquens do dia. A intenção do taberneiro era fechar a porta mais cedo, pois andava muito irritado, e supunha que isto era culpa das noites mal dormidas que tivera nos últimos dias.

No momento em que, vitorioso, conseguiu eliminar aquela mancha teimosa do balcão, dois cavalos pararam em frente à taberna. Poucos segundos depois, dois homens entraram pela porta.

Qualquer taberneiro ficaria contente em receber dois clientes daquela categoria, mas o Sr. Moruski, ao levantar a cabeça para ver os donos daquelas passadas lentas no assoalho, não se sentiu nenhum um pouco feliz. Sempre que homens como aqueles apareciam, traziam problemas.

Pelas vestimentas, podia-se afirmar que eram soldados. Usavam botas altas, e as cotas de malha eram visíveis sob as axilas. Carregavam espada no cinto. O desenho de uma águia estava estampado no peitoral.

O Sr. Moruski fez uma carranca e lançou o trapo para cima do ombro assim que pisaram no chão da taberna. Condenou a si mesmo por não ter fechado a porta alguns minutos antes.

Os dois soldados pararam ante o balcão de mogno e um deles jogou um copo para o lado, dando um leve tapinha com as costas da mão, sentou-se em uma cadeira alta e escorou audaciosamente o cotovelo no balcão. O outro, o mais velho, se manteve em pé, com cara de nojo, correndo os olhos de mesa em mesa.

– Vão beber o quê? – cuspiu o Sr. Moruski, secamente.

– Nada – disse o soldado mais novo, evitando olhar para o taberneiro.

– Então, o que querem?

– Informações – disse o mais velho.

– Que tipo de informações?

– Estamos à procura de um homem – disse o mais velho. – Um homem muito perigoso. É provável que ele tenha passado por estas terras. Pode ter pedido ajuda a algum morador, pois está muito ferido. Veste-se como um homem importante e carrega uma bolsa.

O Sr. Moruski desceu o trapo e passou sobre o balcão, limpando uma sujeira inexistente.

– Apenas mercenários e bárbaros – disse em seguida. – Estes foram os únicos que passaram por aqui nos últimos dias.

– Idiotas! – sussurrou o soldado que estava sentado.

Do outro lado do balcão, o Sr. Moruski apertava o trapo entre as duas mãos, tentando evitar o olhar dos soldados – não suportava gente daquela laia. Se as consequências não fossem grandes, ele pegaria o sarrafo de pinos que guardava embaixo do balcão e correria com aqueles dois seres insuportáveis.

– O que você vende em sua taberna, além de bebidas? – perguntou o soldado em pé, dando uma olhada nas prateleiras de madeira atrás do Sr. Moruski, onde variados tipos de garrafas estavam enfileiradas lado a lado.

– Apenas bebidas. O que mais poderia vender?

O soldado que fizera a pergunta era um homem robusto, de olhar inteligente. Não possuía cabelo, e uma cicatriz pavorosa em seu pescoço deixava evidente a sorte que tivera em alguma batalha.

O segundo soldado, o que permanecia sentado na cadeira alta, tamborilava os dedos no balcão. Parecia ser novato, para não dizer inexperiente. Tentava chamar a atenção para si por estar usando aquele uniforme que, sem sombra de dúvida, trazia um grande orgulho para o mesmo. Isto sempre acontecia com os recrutas ao ganharem uma vaga no tão importante exército de Gordélia.

Moruski não era nenhum tolo. Aqueles dois não estavam ali para bebericar alguma coisa em sua taberna velha. Soldados gordelianos não costumavam refrescar a cabeça em lugares insignificantes como Quiriate.

Irritado com o som do tamborilar dos dedos do soldado mais novo, o taberneiro encarou, com sobrancelhas enrugadas, o causador daqueles movimentos irritantes. O recruta entendeu a mensagem, acalmou os dedos hiperativos, mas não demonstrou estar intimidado.

– Onde podemos encontrar uma loja de velharias neste lugar? – perguntou o soldado com a cicatriz.

O Sr. Moruski não pôde evitar a pergunta que surgiu em sua cabeça.

– O que soldados como vocês querem em uma loja de velharias? – perguntou. – Ouvi dizer que há muitas lojas sofisticadas em Gordélia. Creio que eles devem vender produtos melhores e com um bom desconto para soldados, não?

Neste instante, o soldado mais novo, sobressaltado, oscilou o olhar entre o taberneiro e o outro soldado.

– Isto não é da sua conta! – disse. Tirou os olhos do taberneiro e deu uma rápida olhada para seu superior, esperando receber apoio. Mas o apoio não veio. Então ele continuou: – Aqui, quem faz as perguntas somos nós, e não você. Apenas responda o que lhe foi perguntado.

O Sr. Moruski encarou o soldado atrevido. Olhou de soslaio para o sarrafo embaixo do balcão e novamente para o idiota de uniforme. Claro que teria consequências, mas por outro lado, seria muito prazeroso deixar um vergão naquela cara enjoada.

Os dois ficaram se encarando por um curto período. O soldado mais experiente se aproximou e descansou a mão sobre o ombro do novato, forçando-o a se sentar.

– Não se intrometa, Simeão. Se ousar ser grosseiro novamente, vou rebaixá-lo a limpador de curral.

O careca entendeu que não conseguiriam nada arrumando confusão em um lugar como aquele. E o Sr. Moruski não demonstrava ser o tipo de homem que aceitava manter a paciência por muito tempo. Afinal, soldados como eles até colocavam medo em algumas pessoas pelo emblema que carregavam no peito, ou pelas espadas dependuradas na cintura, mas eram apenas dois, e por mais que as consequências fossem sérias para quem ousasse desrespeitar os soldados que representavam o rei Shenack, nada impedia que aqueles moradores, sem muito a perder, fizessem alguma loucura. Se eles quisessem alguma informação, era melhor consegui-la sem causar problemas.

– Sim, temos lojas bem sofisticadas em Gordélia – continuou o soldado mais velho. – Mas o que estamos procurando não encontraremos lá.

Moruski afrouxou o rosto.

– Valfor Gargal é o dono da loja de velharias – respondeu. – Fica aqui ao lado. Mas não encontrarão grandes coisas. A maior parte de suas cacarias são objetos que os outros moradores não usam mais: vasos velhos, ferramentas enferrujadas, utensílios de cozinha e algumas outras coisas inúteis. Não valem nada. Agora, se não forem beber, tenho a intenção de fechar a porta neste momento.

O soldado careca deu uma última olhada nas prateleiras atrás do balcão e nas mesas ao redor.

– Vamos, Simeão! – ordenou.

O novato se levantou, olhando de esguelha para o taberneiro, que replicou um olhar violento. Saíram vagarosamente, sem agradecer – o que não foi novidade.

Mais que depressa, a porta e as janelas da taberna foram fechadas, sem esperar nem mesmo os soldados montarem os cavalos.

– Vermes nojentos! – ofendeu o taberneiro, baixinho, é claro, enquanto colocava a tranca na última janela. – Acham que são donos do mundo só porque carregam uma espada na cintura.

Jogou o pano sujo sobre o balcão.

– Pestes! – continuou. – Se aparecerem novamente, quebro a cara deles!

Apagou o último candeeiro e retirou-se para o interior de sua casa.

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