Ouvimos mais um disparo e quando olhei para o lado esquerdo vim um zumbi despencar no chão sem metade da cabeça.
- Que porra é essa? – Edinho falou enquanto olhávamos sem reação aquilo. – Você ta vendo alguém aí?
- Não. Não to vendo ninguém.
- Olha direito, esses tiros não estão saindo do nada.
Antes que eu respondesse mais disparos acertavam os zumbis que se aproximavam, até que ouvimos uma voz:
- AQUI! Venham! Rápido! - Era uma voz feminina que gritava e logo a voz de um homem passou a acompanhar seu aviso.
- De onde ta vindo isso? – Edinho que estava de costas pra eles perguntou.
Comecei a puxá-lo sem acreditar no que via e nem me atentei a respondê-lo. Puxava o mais rápido que podia enquanto uma mistura de sons confundia minha cabeça, tiros, grunhidos e gritos se misturando num turbilhão de sons que impediam que eu me concentrasse em cada um deles.
O homem que acompanhava os gritos da mulher veio até mim correndo para me ajudar a puxar o carrinho e agora que eu estava mais aliviado pude me atentar melhor no que fazer, então soltei o carrinho e saquei a pistola da cintura passando a acertar os zumbis que chegavam mais perto independente do lado.
Caminhava de costas para entrada do prédio onde nossos salvadores estavam enquanto disparava até que senti uma mão me pegando pela parte de trás da gola e me puxando pra dentro. Esbarrei no corpo de uns zumbis que estavam pendurados em frente à entrada e me assustei, tentei me desvencilhar da pegada e ouvi uma voz feminina dizer:
- Vem logo pra dentro, para com isso.
Assim que entrei no prédio fui empurrado pelas costas contra a parede e tive a arma que estava na minha mão tomada por alguém.
- Quem são vocês e o que estão fazendo aqui? – Uma voz grossa masculina que ainda não havia ouvido me indagou em tom agressivo.
Ainda com o rosto imprensado contra parede respondi:
- Calma. Não estamos aqui para causar problemas.
- Tarde de mais pelo visto. – Uma nova voz, dessa vez feminina, falou em tom irônico.
- Sofremos um acidente aqui perto enquanto fugíamos dos mordedores e acabamos encurralados nessa rua. – Edinho falava com dificuldade enquanto tentava amenizar a situação.
- Mordedores? – Alguém disse confuso.
- É assim que os chamam? – A mulher que nos chamara pra dentro indagou.
- De que isso importa? Que merda. – O homem que me mantinha contra a parede falou. – Revistem esses merdas logo.
O homem começou a apalpar meus bolsos e cintura e jogava pra fora tudo que encontrava: um isqueiro, um canivete, dois pentes de munição, uma faca tática e um pacote pela metade de pastilhas de menta.
- E essa merda aqui. – Ele falava enquanto batia de leve no arco. – Tira isso e joga no chão.
O obedeci calado e tirei o arco vagarosamente enquanto me virava de frente pra ele. Soltei o arco em seus pés e disse:
- Satisfeito agora?
Ele apontou uma pistola entre meus olhos:
- Quase.
- Já chega! – A dona da segunda voz feminina falou enquanto baixava a mão dele da minha frente e continuou. – Por que vocês estão aqui?
- Sofremos um acidente eu já disse. – Edinho se esforçava pra falar.
- Essa mentira eu já escutei. Quero que me digam a verdade – Ela falou em tom mais sério me encarando.
- Sofremos um acidente.
Ela olhou pra baixo enquanto dava um breve sorriso de canto de boca:
- Vocês se acidentaram? Foi isso?
- Sim. – Respondi.
- Então me digam onde estão suas mochilas, suprimentos, roupas ou qualquer coisa além de armas e munições.
Hesitei e desviei o olhar da direção dela.
- Ficaram no carro.
O homem em minha frente sorriu esnobe e disse que aquilo era papo furado.
- Carro? – Ela continuou incrédula. – Isso foi um acidente de carro? – Ela falou enquanto apontava pra Edinho. – Todos esses arranhões foram de um acidente de carro e você não sofreu nada?
Olhei pra baixo sem resposta e apenas respirei fundo com um suspiro no final.
- Foi o que eu pensei. - Ela finalizou.
Puxei o ar inspirando fundo e enchendo meus pulmões de ar antes de falar:
- Tudo bem. Nós nos perdemos do nosso grupo.
- Grupo? – A primeira garota voltou a falar dessa vez com um tom assustado.
- Mais que droga. – O homem que acompanhava as reações dela desde a hora que nos vimos emendou.
O Homem que estava a minha frente voltou a apontar a arma para minha cabeça e a tensão voltou a tomar conta do ambiente.
- NÃO! – Edinho gritou.
- CALADO! – O homem com a arma retrucou.
- Não somos uma ameaça. Nosso grupo nos deixou para trás quando ele sofreu um acidente de moto e eu voltei para ajudá-lo, eles se foram. Nos deixaram para trás. – Falei com toda sinceridade dessa vez olhando para os olhos da mulher que me interrogava.
Ela assentiu com a cabeça e apenas disse:
- OK.
Respirei aliviado ignorando a arma ainda apontada para minha cabeça e disse que precisava de ajuda para cuidar dos ferimentos de Edinho. A mulher concordou e falou para o homem mais uma vez baixar a arma e pediu a ajuda de todos para levar meu tio para cima.
Com dificuldade o levamos para um apartamento no primeiro andar e conduzidos pela mulher que parecia dar as ordens por ali o deixamos em cima da mesa da sala.
- Ta. Agora Natália. – A mulher falou enquanto rasgava o resto das roupas em cima dos ferimentos de Edinho. - Eu quero que você vá até o nosso apartamento e me traga sal, açúcar, álcool, gases, garrote e qualquer coisa que sirva para me ajudar aqui.
- Tudo bem. – Ela falou enquanto se apressava para ir.
- Eu vou te ajudar. – Falei.
- Nem pensar. Você não vai sair desta sala. – O homem que me apontara à arma falou.
- Eu vou com ela. – O outro homem prontificou-se.
- Tudo bem. Agora vão rápido. – A mulher disse enquanto terminava de despir os ferimentos do meu tio.
- Qual seu nome? – Perguntei.
- Bárbara. – Ela respondeu sem desviar a atenção do meu tio. – Foi você quem fez esse garrote?
- Sim fui eu.
- Aperte-o mais.
Fiz o que ela disse enquanto meu tio gemia e bufava de dor.
- Ele está perdendo muito sangue, o pulso está fraco e ele está começando a hiperventilar.
- O que ta acontecendo com ele? – Falei desesperado enquanto via meu tio começar a perder a consciência e ter princípios de convulsões.
- Ele está entrando em choque. – Ela respondeu. – Eu preciso das coisas que eu pedi AGORA!
No instante que ela terminou de falar eu esbocei uma reação de sair correndo para buscar aquelas coisas mas fui impedido antes mesmo de dar o primeiro passo pelo homem que mais uma vez me apontava a arma.
- Qual é cara?! Eu preciso salvá-lo.
- Você fica AÍ. – Ele falou aumentando abruptamente o tom de voz.
Por um instante eu pensei em partir pra cima dele e socá-lo até que ele engasgasse com os próprios dentes mas antes de fazer mais qualquer coisa a moça e o rapaz entraram correndo pelo apartamento com tudo em mãos.
- Me passa o sal RÁPIDO! – Bárbara falou com uma das mãos estendidas.
- Bárbara olha, eu encontrei água esterilizada. Você pode fazer um soro não é? – O rapaz falou em tom sugestivo.
- Isso! Isso mesmo. Obrigado Clayton. É por isso que eu te amo.
O rapaz então entregou a garrafa e ajudou a preparar uma solução de água e sal que foi injetada no braço do meu tio. Enquanto isso ela pediu para eu e Natália limparmos as feridas com álcool e derramar açúcar posteriormente. Eu não fazia idéia de como aquilo funcionaria e nem como ela sabia de todas essas coisas mas agora com certeza não era a hora de fazer perguntas.
Continuamos lutando para salvar a vida do meu tio enquanto o outro homem até agora sem nome apenas ficava em pé atrás de nós alternando sua atenção entre mim e os zumbis que se aglomeravam pela rua.