Eu estava sentado e olhando sempre para frente. A vergonha daquele garoto, o Christian, estar na minha sala e que eu vou ter que olhar para sua cara o ano inteiro.
Tenho a impressão que ele está me olhando e dou algumas viradas disfarçadas para ver, e ele esta concentrado na explicação de Marcus e anotando coisas em seu caderno.
-Pessoal, eu vou passar esse texto na lousa, sobre oque eu acabei de explicar. Copiem por favor. - Diz Marcus já colocando o título na lousa. E é quando sinto dedos me cutucando pela esquerda. E viro e olho para Christian, ele aponta o bilhete que tinha deixado na minha mesa. Congelo na hora, fico imaginando oque tem ali e por que ele deixou aquele pedaço de papel na minha mesa, será que não tem nada? Pois na quinta serie, um cara que eu gostava fez isso, estávamos fazendo uma prova e ele me deu um papel fechado pelas bordas dobrado, gelei na hora também e abri pensando que o cara iria se declarar pra mim. Quando abri era um papel escrito:
"Passa a resposta da questão 8 e 9."
Eu como sempre tolo, passo e devolvo a folha com as respostas da prova de inglês ainda colocando um emoticon de sorriso no final. Quando lembro disso fico imaginando o quanto tolo eu já fui.
Olho para Christian que olha para mim e depois vira o rosto disfarçando, pois o professor Marcus estava na nossa fileira se aproximando. Guardo o pedaço de papel no bolso da minha blusa de frio e volto a copiar o texto da onde eu parei.
Era típico do senhor Marcus fazer essas rondas em volta da sala inteira, para ver se seus queridos alunos copiavam os seus lindos textos de Química. Ele dá volta na sala inteira, olhando no caderno de seus alunos onde se encontravam no texto, e em seguida volta para a lousa e continua a escrever.
Enfio a mão no bolso da minha blusa cinza e pego o papel dobrado, o abro e vejo escrito em letras lindas e caprichadas diferente das minhas.
"Azul é a cor mais fria é um livro muito bom, você não vai se arrepender de ler"
Ele é gay? Ele gosta da temática gay nos livros? Fiquei me perguntando olhando para o papel sem o ler novamente, em seguida respondo de caneta preta em baixo.
"Parece ser bom mesmo!"
Devolvo o papel para ele e aquele pequeno pedaço de papel acaba virando um Chat.
"Quantos anos você tem e qual é o seu nome?"
"Clark, Will Clark tenho 17 anos e você é o Christian não é?"
"Christian Collins, 18 e entrei atrasado na escola lol"
"A sim..."
Devolvo o papel querendo que aquele chat físico continuasse, porém Christian jogou o papel no lixo. Acho que não tinha mais oque falar então jogou. Voltando para seu lugar ele sorri pra mim e por um momento o me apaixono por aquele sorriso, mas tinha o pensamento firme em saber que ele deveria ser apenas um amor platônico. Que coisa estranha, ver a pessoa em um dia e já sentir algo muito forte.
Alissa estava se divertindo com suas amigas que eu me sentia deixado de lado por ela, pois ela era a minha "MELHOR AMIGA" daquele grupo de meninas. E bem hoje que precisava conversar com ela, só pra ter alguém pra olhar a não ser para frente com vergonha de olhar para o lado. Viro o rosto devagar e dou de cara com Christian olhando para mim, logo após ele vira, pois o professor esta vindo em nossa direção, eu logo continuo a escrever e Christian também.
Depois de dar uma volta em toda a classe, Marcus volta para frente da lousa, entrelaça as mãos uma na outra. - Pessoal, vamos ter que fazer um trabalho em dupla, dupla viu? - Alissa olha para trás e sorri para mim que retribuo, nos com certeza vamos sentar juntos! - eu decidi mudar o método de dupla, dessa vez o coleguinha vai juntar com o coleguinha do lado e pronto. Simples não? - Diz ele com um enorme sorriso no rosto, pois conseguiu me separar de Ali.
Ali junta com Amy, as duas parecem estar se dando tão bem, e eu parecia estar sentindo ciumes da minha BFF como dizíamos na infância.
Sinto um dedo me cutucando nos ombros, me viro e vejo Christian me olhando dizendo:
- Acho que eu sou com você...
- Acho que sim. - Christian junta a sua mesa na minha até as suas laterais se chocarem e ficarem juntas.
Marcus começa a explicar o trabalho, o trabalho que eu não acreditava não estar fazendo com Ali e também estar fazendo com Christian. "Pessoas o trabalho é o seguinte...". Marcus explica e eu nem presto atenção, como sempre estava no mundo da lua.
O sinal toca, isso dizia que aquela aula acabou e isso era oque eu mais queria naquele momento. As aulas de Marcus eram perfeitas para mim, eu amo Química, mas naquele dia não sei oque deu em mim que eu não consegui prestar atenção na aula e não conseguia ter animo para estudar. Algo estava atraindo minha atenção.
Mais tarde no intervalo, Ali não me espera e desce para a lanchonete que tem logo ao lado do colégio. Chego até lá, a porta dupla está lotada de adesivo de comida e era oque me dava fome, mais fome no momento. Abro a porta e olho ao redor, ando mais um pouco e avisto à esquerda Amy, Cindy, Ali e Viviane. Não acreditei naquilo, a minha melhor amiga não senta comigo na aula de Química, desce para o intervalo com as meninas e não me espera, e ainda junto esta Viviane, a menina que eu odiava, quer dizer, odeio. Aquela menina bonita dos cabelos castanhos que já foram loiros, estava na maior amizade com Alissa e as meninas e parecia que elas se conheciam a muito tempo. Não sei oque Viviane está fazendo ali com elas, não sei mesmo, era pra mim estar naquele lugar, comendo Pizza. Não é nem muito pela Pizza que eu fiquei chateado e na hora fiz uma cara de cãozinho sem dono, foi mais por Alissa estar com elas, eu e Ali, costumava a comer juntos sozinhos nos intervalos, eu ouvindo suas fofocas e contando sobre meu dia, porém nem sempre falava sobre os meus emocionantes dias, parece que para as pessoas eu sirvo mais para ouvir. Quando conto algo para alguém, algo de importância para mim, essa pessoa sempre ouve menos e depois começa a contar sobre suas coisas de maior importância para ela, eu fico ouvindo o dobro do que a pessoa ouviu dos meus desabafos, e ainda até mais.
Me viro e olho para a porta de entrada e saída, pois pensei que não podia sair e que eu não deveria fingir que não vi aquilo. Caminho até o balcão aonde está uma jovem morena muito linda. Me sentei em uma cadeira alta, aquelas que existem na maioria dos restaurantes e bares, pedi um refrigerante.
-Só isso moço? - Diz a menina.
-Uhum! - Balanço a cabeça. - Qual é o seu nome mesmo?
-Ashley Meyer e o seu? - Diz ela rindo e pegando o refrigerante no congelador.
-Will, qual é a graça?
- Nada, só achei estranho sua educação! Nem todos que entram aqui entram e pergunta o meu nome.
- Questão de educação! - Digo olhando e virando a cabeça para ver Alissa com suas novas amigas.
-Hum... Já percebi! - Ashley diz olhando para as meninas e depois para mim.
-Percebeu o que?
-Você gosta de uma daquelas garotas ali!
-Gosto muito de uma!
-Percebi! - Ashley ri.
-Ela é minha melhor amiga e no primeiro dia de aula parece estar me trocando por aquelas ali. - Digo com um tom de voz meio chateado. Ashley coloca o refrigerante super gelado e escorrendo pingos de água pela lata em minha direção no balcão rústico. -Ah eu te entendo muito bem, já fui trocada por uma amiga, super amiga, ela acabou me trocando por uma garota que tinha carro aos 16 anos, e nem tinha carteira de motorista.
-Hoje em dia as pessoas estão interesseiras, tenso. - Digo abrindo a tampa da latinha e bebendo. - Fazer o que não é?!.
-Pois é.
Ashley passa um pano no balcão até seu chefe gritar de dentro da cozinha.
"Ashley preciso de você aqui agora!"
- Preciso continuar trabalhando, até depois Will! - Ashley se desculpa apressas.
-Tudo bem desculpa se eu te incomodei, até e bom trabalho! Depois passo aqui de novo!
-OK, até! -Diz ela correndo para a cozinha.
Me levanto com o refrigerante na mão e vou até a porta de entrada, olho e vejo as meninas se divertindo em uma mesa em frente a parede, mostrando mensagens uma a outra, rindo que até pareciam BFF. Alissa olha em minha direção rindo do que Amy tinha falado e me avista. Na hora ela perdeu a expressão de animada. A olho por segundos e saio bebendo o refrigerante.
Ando até uma lata de lixo, jogo a lata de refrigerante lá, e vou em sentido a rua para atravessar. Sinto alguém vindo atrás de mim, uma respiração que conseguia sentir de longe. Ali entra em minha frente dizendo:
-Will vamos lá com a gente, estamos comendo Pizza.
-Não quero obrigado. Estou sem fome e o intervalo já está acabando. - O intervalo acaba, o sinal toca em uma grande frequência. - Viu? Eu estou indo. - atravesso a rua e os carros passando atrapalha a visão de Alissa.
Entro na sala e me sento em meu lugar, o último da sala. Todos estavam chegando do intervalo em grupo ou dupla de amigos, vejo Josh entrando, o cara que eu já gostei da quinta a sétima série, jurava que ele era gay, até Moranguinho ficar com ele na saída da escola. Ele entra beijando Ana e abraçando a, depois da quinta série, ele virou um dos maiores pegadores do colégio, todo meu encanto por ele foi sendo derramado na piá como água e simplismente acabou.
Christian aparece na porta da sala, dando um aperto de mão em um outro cara, deve ser um de seus amigos. Olha para ele e logo atrás vejo Alissa e suas 3 novas amigas entrando na sala na maior animação. Ali ri das coisas que Amy diz e quando olha para mim, ela muda sua expressão, não sei porque disso Eu não preciso de pena de ninguém, nem quero que ninguém tenha pena de mim, se ela não quer ser mais minha amiga, que não seja mas não precisa me olhar com cara de mãe protetora. Não é que não faça diferença de ela não ser mais minha amiga, faz sim e muito, mas eu odeio quando fazem isso, já sofri por amizade como sofri por amor, sou muito sentimental por dentro nessas duas partes.
Enquanto Christian ainda conversa com seu amigo, Carl entra na sala pedindo licença a ele. Na sala havia apenas eu e mais duas pessoas sentadas. Carl vai até minha direção, puxa a cadeira do lugar de Christian e senta do meu lado dizendo:
-E aí cara, falou com ela? - Pergunta Carl para mim. Olho para Christian, sem virar a cabeça digo:
- Conversar, conversar mesmo não. Apenas falei e ela não disse realmente se gostou ou não que você foi falar com ela.
-Ah, conheço ela e sei que um ela está me querendo assim como quero ela. - Fico sem falar nada e Carl percebe. - o que você tem? Você a Ali não estavam juntos no intervalo?
- Não, hoje não deu.
- Mas... Ah foi culpa minha, ela deve ter brigado com você por ter passado o número para mim!
-Não, você não tem culpa! Ela apenas arrumou novas amigas. - Senti um tom dramático em minha voz. Christian observa aquilo de longe ainda com seu amigo.
-Mas como assim Clark? Vocês eram melhores amigos! MELHORES.
-Ah sei la já estou acostumado com amizades assim, deve ser uma fase também e já passamos por isso uma vez quando éramos crianças.
-Crianças? sei que não somos adultos mas crianças? Essa época passou a muito tempo! Tem algo de errado aí.
- Não se preocupa Carl. - Viro meu rosto e sorrio para ele, tentando deixar o clima melhor. Carl levanta faz sinal de abraço. -Vem cá amigo! - ele quer me abraçar, ele sorri na hora e eu digo:
-Não precisa disso Carl.
-Precisa! Você é meu amigo cara!
-Deixa disso cara!
-Vem cá logo cara! - Eu me levanto e o abraço como pedido por ele, que me abraça muito forte. Aquele abraço sim me confortou, era um abraço muito gostoso e as palavras dele me deixaram feliz, deixou meu dia feliz.
Christian olha aquilo, a expressão de felicidade muda e ele finalmente se despede de seu colega. No final da sala, o abraço termina, solto minhas mãos de Carl e digo:
-Obrigado! Obrigado mesmo. Eu não precisava mas obrigado!
- Que nada, eu sei que você precisa sim! - Carl senta na cadeira, sempre sorrindo.
Christian chega até nos olhando com uma cara de raiva. -Tem como você me dar licença? Esse é o meu lugar! - Christian estava estranho, não parecia aquele cara que estava sempre sorrindo na aula de Química.
Carl o olha surpreso e levanta sério. -Depois nos falamos Clark. - ele vai e senta no seu lugar que fica do outro lado da sala.
Olho para Christian e não entendo o por que de ele fazer isso. Para quem estava se divertindo com os amigos, rindo e já seduzindo corações de algumas garotas, ele não parecia estar normal.