31 de dezembro. Melhor dizendo, o último dia do ano. O último dia de um dos piores anos da minha vida. Finalmente, um ciclo estava se encerrando.
Depois de 5 dias no abrigo, decidi voltar para o hotel. Estava com o meu celular sem bateria há mais de 4 dias, porque me esqueci do carregador, por isso não estava contactando com absolutamente ninguém, o que pode parecer um pouco triste, mas sinceramente aquilo me trouxe uma paz que costumo ter poucas vezes. Tomei um banho, vesti a única roupa limpa que me restava e saí do abrigo. Com os únicos trocos que me restavam, consegui apanhar um Uber até ao hotel. Depois de apanhar um elevador e subir até ao sexto andar, cheguei ao aparthotel, com imenso medo da reação deles. Abri a porta, e vejo o Ethan na cozinha, o Thomas e o Leo no sofá e por fim, o Dam na varanda, fumando um cigarro, todos espantados me olhando. Não consegui dizer nem uma palavra, apenas fechei a porta e fui até ao meu quarto.
Depois de um tempo estando sentada em cima da cama vendo Netflix, decidi ir à varanda para observar as luzes, já que estava quase de noite. A vista era de cortar a respiração. Já se conseguia ver algumas pessoas garantindo os melhores lugares para a passagem de ano, as varandas dos apartamentos estavam cheias de pessoas se divertindo e a Torre Eiffel estava de cores diferentes. Se eu pudesse, acho que ficaria a observar aquela vista para sempre. Até que, sinto aquele cheiro a cigarros novamente, vindo da minha trás.
- Você vai me dizer aqui e agora a razão pela qual você decidiu sair daqui do nada, sem avisar ninguém.
- Eu não tenho de dar satisfação a ninguém sobre onde eu vou, ouviu?
- Victoria, me mostra os seus abraços, AGORA.- disse ele, agarrando o meu braço esquerdo com ainda mais força.
Senti ele afastar as 4 camadas de roupa que estavam no meu braço, e verificar se os meus 2 braços estavam bem. E como de esperado, eles estão 'perfeitos', embora tivessem ainda algumas marcas de cortes anteriores.
- Viu? Eu estou bem, totalmente bem. Além disso, porquê você haveria de se preocupar? Você estava chateado comigo faz quase 1 semana, mesmo de eu ter pedido desculpa imensas vezes.
- Porquê eu haveria de me preocupar? Talvez porque sei lá, você é a minha melhor amiga e a pessoa que eu mais confio na face da terra, não acha? Eu passei esses dias esperando por uma mensagem, uma chamada, ou um simples vácuo, um sinal, mas nem isso você se deu ao trabalho de fazer.
- Damiano, o que você queria que eu fizesse?
- Não sei, esquece assunto. E se você quer saber, a Giorgia não veio por nossa culpa.- disse ele, saindo imediatamente da varanda.
Não, não me surpreendeu saber que ela não veio por causa da minha relação com ele, até porque isso eu já tinha escutado em uma daquelas discussões no studio. Me surpreendeu foi o facto de ele ter quebrado o seu próprio orgulho para ir falar comigo.
Já eram quase nove da noite quando eu me lembrei de um pequeno pormenor: eu ainda não tinha escolhido a roupa que eu iria usar. Tirei a minha mala do armário e fiquei procurando algo que fosse clássico, mas que chamasse minimamente à atenção. Encontrei no fundo da mala uma calça nova que tinha comprado em um Outlet em Amsterdão, e que ainda não tinha usado. Elas eram todas cheias de brilhantes pretos, e ainda eram super largas, como eu gosto. Encontrei também pendurado no armário um bralette preto, que ficava perfeito com aquelas calças. Depois, juntei com isso outro par de sapatos que quase nunca uso, mas levo sempre na mala: um salto alto preto, com uns detalhes em dourado, que a minha estilista recomendou uma vez para um jantar de gala. A seguir adicionei uns acessórios dourados, passei uma make mais pesada e saí do quarto. Sinceramente, estava me sentindo uma deusa naquele momento.
- Vic, eu acho que você está indo na direção errada, o desfile de moda fica a quilómetros daqui.- disse o Leo, enquanto preparava a mesa. - Mas agora a sério, você está linda.
- Obrigada, você está muito bonito também! Onde foram os outros?
- O Thomas e o Ethan estão no corredor, porque o Thomas decidiu usar gravata e se esquecer como se faz o nó da gravata, então o Ethan está o ajudando. O Damiano, não sei. Acho que ele está se vestindo, no banheiro.
- Ok, eu já volto.
Cheguei ao corredor, e lá estavam eles, vendo se conseguiam fazer um nó perfeito. Os dois estavam bem vestidos, principalmente o Thomas, que se esforçou ao ponto de usar uma gravata. Ao voltar para a sala, me apercebi da quantidade de barulho que o meu salto alto fazia a cada passo que eu dava, mas até que eu gosto disso, porque me faz sentir ainda mais poderosa. Enquanto estava sentada no sofá vendo umas coisas no celular, senti uma porta barulhenta do banheiro abrir. Olhei de longe, e vi o Damiano. Ele estava vestindo uma calça cinzenta, um blazer da mesma cor e uma camisa de botões branca por dentro. Por mais que eu estivesse chateada com ele, não conseguia parar de olhar para aqueles olhos cor de mel. Depois de algumas conversas aleatórias na varanda e alguns copos, estava a começar a me sentir levemente alterada. Por uns momentos, senti que estava genuinamente feliz. Quando fui ver as horas, só faltavam 5 minutos para a meia-noite, e o Damiano, que tinha saído da varanda 10 minutos antes, ainda não tinha voltado. Como ninguém reparou que ele não estava presente, fui à procura dele.
Sussurrei o nome dele por todos os quartos do apartamento, e não encontrava nem um rasto de Damiano David, até que, senti um pequeno barulho vindo do andar de cima.
turn on music: Dark Paradise
Enquanto estava subindo as escadas, comecei a sentir os meus pés a doer um pouco por causa do salto alto, mas decidi ignorar essa dor e continuar o meu caminho. Abri a porta do banheiro, e lá vi ele, sentado na beira da janela gigante que tinha ao pé do chuveiro.
- Você sempre conseguiu me encontrar, certo?
- Parece que sim.
O ambiente estava muito estranho. Para além de estarmos ainda um pouco chateados, estávamos em um banheiro, um lugar em que já aconteceram tantas coisas más entre nós. Foi em um banheiro que ele descobriu o meu vício, que ele já me viu quase a morrer, enfim...
- Dam, você vai continuar assim?
- Assim como?
- Chateado...
- Eu não estou chateado.
- Ok, se você o diz... Eu sei que esse não é o momento certo para falar sobre isso, mas... porquê que <<nós>> somos um problema para a Giorgia?
- Ela acha que... o que eu e você temos é... estranho.
- Como assim, estranho?
- Eu também não sei, eu não entendo. Ela acha isso meio anormal...
- Mas sabe uma coisa, a gente não precisa de ser normais, certo?
- Sim, Vic, isso eu já sei. Nós nunca fomos normais. - disse ele, saindo da janela.
E era verdade: a minha relação com ele nunca foi normal.
Senti os nossos corpos a se aproximarem, os nossos olhares a se complementarem e as minhas curvas a se encaixarem junto do corpo dele. Ao juntar o meu nariz ao dele, senti aquele forte bafo a álcool. Ele estava bêbado, muito bêbado.
Depois, ele me colocou em cima do lavatório, voltou a me olhar e... juntou os seus lábios os meus, muito suavemente. Senti aquele sabor do batom de cereja, do meu batom de cereja, e o seu lábio superior no meu lábio inferior. No início fiquei sem saber o que fazer. Eu não sabia o que aquilo significava, até porque eu nunca imaginei que uma coisa daquelas poderia acontecer. À medida que cada segundo passava, o beijo estava ficando cada vez mais intenso.
- D...Desculpa.- disse ele, se afastando um pouco de mim.
Voltei a olhar para aqueles lábios suaves que eu tinha sentido ainda há pouco, me segurando para não o beijar. Mas eu não consegui.
- Você não precisa de se desculpar, Dami.
Senti ele me pegar no colo de novo, ao mesmo tempo que me encostava à porta e que beijava o meu pescoço. Movimentos fortes, mãos a apertar o meu quadril e um incrível controlo sobre mim: eu não conhecia aquele Damiano, e nunca imaginei o conhecer assim. Entretanto, quando ele estava quase a tirar a minha parte de cima, algo nos interrompeu: o som dos fogos de artifício. Um novo ano tinha acabado de começar.
Por uns momentos, o barulho das pessoas se conseguia ouvir melhor que o barulho dos fogos. Fomos rapidamente, para o andar de baixo, onde estavam o Leo, o Thomas e o Ethan. Naquele momento, só pensava: "Mas o que raios acabou de acontecer?"
Voltamos para a varanda, onde tudo parecia estar normal. Apesar da minha cabeça já estar às voltas há imenso tempo, não deixar de tomar o meu copo de champanhe. Quer dizer, os copos de champanhe.
Depois de um pouco de festa e risadas, o Leo foi para o seu quarto e nós fomos todos nos dormir. Eu estava tão cansada que simplesmente tirei o meu salto alto e me deitei na minha cama. Uns minutos depois, senti o Dam se sentar na cama. Eu até queria lhe dizer alguma coisa, talvez lhe dar um abraço, não sei... Mas a minha cabeça estava tão estonteada que acabei adormecendo segundos depois.
-
oiii
uau, que capítulo! finalmente, um acontecimento importante para toda a história. vocês esperavam que isso acontecesse agora?
tks for reading <3
mel.