(capítulo sendo editado)
TW: automutilação, menções de sangue.
- VIC, NÃO. EU NÃO ESTOU A VER ISSO. - disse ele, correndo até à banheira onde ela estava sentada.
Naquele momento, ele ficou simplesmente sem palavras. Quer dizer, é compreensível, qualquer um ficaria.
Ao ver a sua melhor amiga de anos sentada em uma banheira, com o braço esquerdo cheio de cortes, ele sentiu por uma das primeiras vezes na vida que não sabia o que fazer. Com as pernas começando a tremer ainda mais e com os olhos cheios de lágrimas, o único impulso que ele teve foi abraçá-la.
- É melhor nem olhar para mim Dami. Eu sei que estou horrível.
- Você não está horrível Vic. - diz, segurando na mão que não estava magoada.
Eles ficaram sentados naquela banheira abraçados por uns 30 minutos, nem foi preciso falar, eles se conseguiam entender por simples olhares, ou gestos. O choro dela falava, e o abraço dele respondia.
- Então, quer falar porquê que você fez isso?, perguntou Dami, enquanto observava as feridas.
- Podemos não falar disso?
- Desculpa mas temos, Vic. Pode não ser hoje, mas tem de ser.
- Me dá um pouco de tempo, ok?
- Pode ser.
Em seguida, ele a levou no colo até à cama dela, e se deitou lá com ela. E também conseguiu colocar uma toalha em volta dos cortes, tentando parar um sangramento que ainda estava ocorrendo.
- Eu sei que isso parece estranho, mas pode se manter acordado? É que... eu tenho medo.- perguntou Vic, com uma voz trémula.
- É óbvio, nem é preciso perguntar, Honey. - responde Dam, encostando a cabeça dela ao seu peito.
O apelido Honey saiu da boca dele uma forma extremamente natural, como uma forma de tentar reconfortar a Vic.
Depois de ficar 5 horas acordado com o braço em volta do corpo frágil da Vic, o sono já ia transparecendo nos seus olhos esverdeados de Damiano. Mas entretanto, ela adormeceu, e ele também. Quando ele voltou a abrir os olhos novamente, já eram 7 da manhã. Ele tirou cuidadosamente o seu braço da cintura dela, foi à varanda e tirou um cigarro da sua carteira, que estava quase a acabar. Ao que parece, ele não tinha processado muito bem o que tinha acontecido na noite anterior. Era impossível de processar.
Quando ele estava acabando o seu segundo cigarro, olhou para trás e viu no reflexo da janela a Victoria, já sentada em cima da cama.
- Pode vir, se quiser.
Ela vem ter com ele até à varanda, e tira também um cigarro da sua carteira. Ele notou também que os olhos dela ainda estavam vermelhos, e que a cara dela ainda estava muito pálida. Ela tinha tido um ataque de choro.
- O que se passou, Vic?- ele perguntou, preocupado.
- Pode apenas me abraçar?- ela olhou para ele, com aqueles olhos azuis brilhando.
Quando um abraço apertado se encaixa, é como se o mundo parasse ali. É exatamente isso que ele sentia a cada vez que abraçava a Vic, e vice versa. Um abraço da Vic conseguiria aliviar os problemas do Dam, e um abraço do Dam conseguiria aliviar os problemas da Vic, por mais grandes que eles fossem.
- Victoria, já está quase na hora do café da manhã, e o Nick nos disse para não nos atrasarmos para a prova de looks. Eu preciso de ir para o meu quarto para tomar banho e vestir outra coisa.
- Ok, eu já vou andando. Finja que isso nunca aconteceu, ok?
- É óbvio que não Vic de Angelis, isso foi grave.- ele disse, olhando para ela com um ar sério.- Por falar nisso, eu preciso de ver o seu braço.
- Tem mesmo de ser?
- Sim, tem mesmo de ser.
Quando ele retirou a toalha, reparou que nenhum dos cortes estava infetado, mas não estavam começando a cicatrizar, por isso ele colocou as suas skills médicas em ação: pegou em um creme cicatrizante que guardava na sua mala, passou cuidadosamente no braço pálido dela e voltou a colocar novos pensos.
- Uau, you're being a good girl Vicky..- ele disse, sorrindo.
- Maybe... mas isso é alguma aula de inglês? E não me chame de Vicky, ok?
- Vou continuar a chamar à mesma, você sabe disso.
- Você é mesmo insuportável né? Te odeio, chato. - disse a Vic, dando um sorriso suave.
- Também te amo.- ele disse, substituindo um dos pensos.
Depois de ele voltar para o seu quarto, viu que o Leo já não estava lá, e tomou um banho. Enquanto a água passava pelo seu corpo, ele não parava de pensar no que tinha acabado de acontecer. Porque era grave, muito grave. Após esfregar um pouco o seu sweater que tinha um pouco de sangue, ele pegou na primeiras peças de roupa que viu à frente, o que geralmente não acontece por ele ser muito vaidoso.
De acordo com o relógio do seu celular, ele estava atrasado 10 minutos. E quando ele olhou para trás, viu Vic, saindo do elevador. Assim, eles foram juntos, até à receção
- Damiano e Victoria, não se podiam atrasar mais? - disse o manager.
- Houve um problema...- Damiano disse, suspirando.
- Que tipo de problema?
- Uhh....
- Ele ficou... sem voz. Mas agora já está tudo resolvido.- disse Vic, interrompendo Damiano.
- Ok, estão desculpados. É melhor irmos andando para o lugar do concerto, o Nick já está lá com a Chantal, vos esperando.
Durante a viagem de carro, o Dam já nem conhecia a Vic. Ela estava super feliz, nem parecia a mesma de há umas horas atrás. E foi esse motivo que o levou a pensar que ela já estava escondendo que estava mal há algum tempo, e apenas nem ele nem o Ethan e o Thomas não se terem apercebido. E o sentimento de culpa por isso, era gigante.
A questão que ainda estava rodando sem parar pela cabeça dele era do porquê que a Vic tinha ficado tão incomodada com aquele toque de há uns dias atrás, mas ele ainda não tinha ganhado coragem suficiente para ir falar com ela sobre esse assunto. Poderia ser alguma cicatriz, algum trauma. Tudo o que ele queria era ver o seu pequeno anjo seguro, não lhe causar algum gatilho.
Enquanto a banda estava fazendo os famosos testes de som, ele reparou nos olhos da Vic. Eles estavam extremamente vermelhos e inchados, de novo, exatamente como estavam há umas horas atrás. Mas, ao mesmo tempo, ela parecia estar feliz, se há coisa que ela é boa a fazer é fingir que está bem, quando na verdade não está.
O concerto foi incrível, os fãs os receberam com imenso carinho, como sempre. Só houve algumas coisas durante ele que alertaram o Damiano: a maneira que a Vic ficou quando estavam tocando a Coraline, o olhar cansado dela e também uns picos de energia aleatórios. Por exemplo, do nada ela estava super quieta e logo em seguida já estava muito energética, e isso geralmente não é um bom sinal.
No fim do concerto, o Ethan, a Vic, o Thomas e o Leo foram dar uma volta, já o Dami preferiu ir para o hotel descansar. E lá ficou ele, na cama do seu quarto, só com uma sweatshirt e uma bermuda vestidas, maratonando The Big Bang Theory por umas boas horas.
Ao fim de um tempo, o Leo acabou voltando para o hotel para o quarto que partilhava com o Dam.
- Então, a festa estava boa?
- Não fizemos nada de especial, tivemos andando aqui pelas ruas de Berlim e a seguir fomos ao Hard Rock Cafe. - disse ele, meio ofegante.
- Onde está a Victoria? - perguntou o Dam, preocupado.
- A Vic não veio connosco. Na verdade, não a vejo desde o fim do concerto.
- AH NÃO, isso é impossível. Ela me disse que ia com vocês. Onde será que ela está?
- Mr. Protective, a Victoria é uma adulta. Ela tem direito de ir para onde quiser quando ela quiser.
- Leo, vc não entende, ela está... desculpa não te posso contar. - diz, tremendo levemente a voz. - onde você estacionou o carro que alugámos?
- Acho que foi nessa rua no fundo à direita.
- Onde está a chave do carro?
- Well, acho que em cima da mesa.
- Obrigado Leo, até já!
- Hey Damia, convém vc se calçar né? - diz o Leo, debochado.
- Aaah, sim, convém.
Ele calçou um dos seus pares de Dr. Martens, pegou nas chaves e no seu celular, e saiu rapidamente do hotel.
Por sorte, conseguia se avistar o carro estacionado pela saída do hotel, o que ajudou o Dam a começar indo à procura da Vic.
Por os inúmeros bares que ele passou, nem um sinal da Victoria. Ele só queria saber se a sua 'baby girl' de olhos claros estava bem e segura.