Apesar de toda a situação fiquei extremamente feliz de chegar a minha alcateia, uma pena não ter visto nenhum dos meus conhecidos.
-Ninguém sabe de sua chegada e você está proibida de sair.-engoli em seco sabendo que não veria minha mãe e nem meus amigos.
Estava com tanta saudade deles.
-Nem telefonar.-assim que cheguei os funcionários da casa estavam na sala. Dois senhores de idade e dois jovens. Foi estranho voltar ao lugar onde tudo aconteceu, a casa que ele me rejeitou. Eu sabia que toda vez que passasse por ali iria reviver os piores momentos da minha vida.
Engoli em seco.
Era imensurável o que eu sentia.
-Boa noite senhor e senhora.-ele fez um gesto de mãos.
-Ela não é senhora, ela é apenas mais uma funcionária.-todos olharam com horror na direção dele.-Quero que coloquem ela para fazer os piores serviços, entreguem a ela tudo o que não desejam fazer.-ele colocou minha mala ali.-Se vacilar, vai dormir na calabouço.-assenti indiferente. Ele saiu andando.-Sem burburinhos!-subiu as escadas nos deixando sozinhos. Os funcionários se aproximaram.
-Senhora Amélia, sentimos muito.-uma senhora foi a primeira a falar.
-Não se preocupem com isso, não sou senhora dessa casa e nunca serei.-comentei.
-Sentimos muito.-disse a garota.
-Não se preocupem.-repeti.-Podem me dizer seus nomes? Vocês sabem o meu, estou na desvantagem.
-Eu sou Camila e ele é meu irmão Foxy, essa é nossa madrinha Emilia e esse é seu Sebastião.-sorri.
-A partir de hoje vou trabalhar com vocês, não tenham medo de me dar serviços, dou conta do recado e não me tratem por senhora, por favor.-peguei minha mala.-Onde posso ficar?-perguntei mostrando uma animação que eu não tinha.
-Eu te ajudo.-a senhora pegou minha mala.-Vamos, te levarei até lá.-ela sorriu me guiando para fora da sala.
Pelo menos eles são amigáveis.
-Podemos entrar em contato com nossos antigos chefes, eles podem reverter isso.-ela falava baixinho.-A senhorita pode voltar a ser senhora dessa casa.-passamos por uma cozinha muito bonita que tinha um balcão em mármore claro e algumas janelas altas.
-Não posso voltar a ser o que nunca fui.-ela olhou para a garota que nos acompanhava, Camila eu acho.
-Mas senhora, nos...-interrompi Camila.
-Me desculpem, eu estou um pouco cansada, se não se importam.-ambas sorriram disfarçando o peso que se formou.
-Tudo bem, nos desculpe.-elas me guiaram por um corredor que saía da cozinha, viramos uma curva e paramos na frente de uma porta.
-Este é o nosso quarto, temos uma cama extra, pode ficar com a gente.-a mais nova abriu a porta mostrando um quarto simples, porém aconchegante.-Pode ficar com aquela cama.-ela apontou para uma cama feita, a última das três, mais perto da janela.
-Temos um banheiro, pode ficar a vontade.-assenti pegando minha mala da mão da senhora.
-Obrigada meninas, ficarei a vontade, não se importem de me chamar de Amy, todos me chamam assim.-me sentia bastante confortável com aquelas pessoas, talvez por serem de minha primeira alcateia.
Sim, a alcateia do norte foi a primeira para a qual eu fui, logo depois do meu último assassinato; um lobo.
"-Você é um covarde, um homem sem princípios que merece a morte.-ele me olhou com raiva por eu ter colocado-o de joelhos.
-O que é você? Meu alpha vai atrás de você! Gentinha do submundo não pode nos matar.-sorri sendo um pouco macabra.
-É ai que tá.-estalei a língua.-Eu sou uma loba como você.-estendi minha mão assumindo a meia transformação. Uma tática passada que nos dias atuais não era muito utilizada, exigia concentração e técnica. Seus olhos se arregalaram.
-C-como..? Você usa magia! Isso é... impossível!-foi então que ele começou a ficar com medo, senti a mulher ao meu lado tremer.-Sua inútil! Faça algo!-ele gritou para ela.
-Eu estava pensando em ter misericórdia, mas você acabou de me mostrar que não merece misericórdia, você merece a morte.-dei um passo na direção dele, mas antes de chegar até ele virei a cabeça na direção da moça sem encará-la-Não olhe.-estendi minha mão na direção dela usando minha magia para empurrá-la para longe. Eu sabia que se alguém observasse seu companheiro morrer teria sua alma despedaçada, por pior que ele fosse."
Pisquei os olhos tentando afastar aquelas memórias.
-Não se preocupe com o senhor Jackson, ele não fica muito tempo em casa.-me aproximei da cama.-Não precisa ficar fazendo serviços pela casa, nós faremos isso.-me virei para as mulheres.
-Quero ajudar vocês e isso faz parte da minha saída da casa de rejeitadas.-elas me olharam com certa pena, mas eu permaneci da mesma maneira.
-Deseja comer algo?-balancei a cabeça negativamente.
-Acho que quero apenas dormir, amanhã vocês podem me dizer como ajudá-las.-elas assentiram.
-Vamos te deixar descansar.-ambas acenaram se retirando do quarto, me joguei na cama me sentindo exausta.
Que droga!
"Alguma noticia do supremo?" perguntei
"Está muito preocupada com ele, é apenas porque ele pode te tirar daqui?" Michelle perguntou me fazendo revirar os olhos.
"Não consegui nada, o laço que vocês dividem ainda não é forte o suficiente, principalmente com Jackson por perto." senti um certo desgosto na voz de Lauren.
"Fiz um mapeamento mágico, mas ele está longe de mais, fora do território dos cachorros." ouvi um rosnado de Lauren. "Desculpe Totó." preparei a cabeça porque sabia que elas iriam brigar.
"Pelo menos sou uma adulta." retrucou Lauren.
"Hey! Eu sou uma adulta sim! Minha aparência só parou de evoluir quando você surgiu." respirei fundo, as lembranças lentamente tomando conta de mim.
"-Já faz alguns anos, porque você continua assim?-perguntei a Michelle que estava personificada na minha frente, pedi a ela que interceptasse um campo de energia das fadas, mas isso só era possível se ela estivesse parcialmente fora do meu corpo.
-Desde que essa cadela chegou eu não consigo mais crescer!-ergueu os braços de criança, ela tinha o mesmo porte físico de quando tínhamos 9 anos, eu já estava com 14.
-A culpa não é minha se você permitiu as trevas se aponderarem de você completamente.-respondeu Lauren parando ao lado dela, aproveitando a brecha para se personificar também.
Lauren tinha a pelagem branca, tão brilhante que parecia a lua cheia no céu limpo, tinha quase 2 metros e já era uma loba adulta, apesar de eu ser apenas uma criança, quase morri ao me transformar pela primeira vez.
Já Michelle tinha a aparência de uma criança de 9 anos, cabelos brancos com uma mecha preta que se destacava no branco neve dos fios, sua pele também era muito clara e seus olhos era divididos um de cada cor, um era roxo brilhoso e o outro era preto.
-Pelo menos não sou uma sonsa que finge ser boazinha, mas destroça milhões!-me virei para ambas.
-Parem! Eu mando em ambas, independente se são adultas ou não! Façam o que eu mandei, agora!-elas pararam de brigar, arregalaram os olhos para mim e se voltaram aos seus alfazeres. Me virei para o homem amarrado a uma cadeira que observava toda a briguinha.-Onde nós paramos?"
Balancei a cabeça afastando as memórias. De um tempo para cá, desde que fui rejeitada, fico lembrando o tempo inteiro do passado.
Era involuntário.
Achei que tinha esquecido tudo!
Cobri meu rosto com as mãos tentando manter meu controle mental.
"Fiquem quietas! Vocês estão me dando dor de cabeça." pedi fazendo ambas se calarem. Tenho coisas de mais para lidar nesse momento, não posso ficar me preocupando com a briga delas. Me virei de lado deitando de conchinha, fechei os olhos com força tentando dormir, eu só podia descansar agora e me preparar para o que viria amanhã.
Só espero que o supremo esteja bem, independente de tudo o que ele disse ter sido verdade ou não, eu espero de verdade que ele esteja bem.
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Levantei algumas horas depois do sol nascer, mais tarde do que normalmente acordava na casa das rejeitadas, olhei na direção do banheiro vendo as moças se arrumando.
"Dormi tanto assim?" normalmente sou a primeira a acordar.
"Seu físico estava exausto, optamos por não acordá-la." me levantei assustando as moças.
-Bom dia, desculpe, te acordamos?-balancei a cabeça negativamente.
-Bom dia. Eu mesma que acordei, não fiquem preocupada.-a garota se aproximou.
-Espero que sirva.-me entregou uma roupa.
-Obrigada, vou apenas tomar um banho.-assentiram voltando sua atenção para suas roupas que elas ainda arrumavam. Abri minha mala pegando outra roupa para usar por baixo e cobrir as cicatrizes e então me voltei ao banheiro.
"Nada ainda sobre o supremo?" entrei no banheiro fechando a porta.
"Nenhuma notícia." respirei fundo, eu estava um pouco preocupada, sentia que tinha algo errado. Assim que terminei do banho percebi que elas ainda me esperavam.
-Vamos te acompanhar.-assenti seguindo elas para fora do quarto.-No que a senhorita costuma trabalhar?-perguntou a mais velha.
-Apenas Amy, por favor.-ela assentiu.-Costumava trabalhar mais no jardim, mas sei um pouco de tudo, menos cozinhar.-ela sorriu.
-Já queria você comigo.-disse.
-Ela pode ficar comigo.-se ofereceu a garota.-Ajudamos Sebastião as vezes.-Sebastião era o senhor.-Eu posso te ajudar e ela ajudar Sebastião quando nosso serviço acabar.-assenti.
-Sem problemas.-ela sorriu se aproximando.
-Vai ser bom ter alguém pra conversar.-comentou atraindo o olhar da outra.
-Tome cuidado se o senhor Jackson pegar vocês conversando pode dar uma punição.-assenti adquirindo todas as informações.
Ainda bem que ele me rejeitou, nós nunca daríamos certo.
"Não dá pra saber o futuro, é algo completamente incerto, vocês poderíam se dar bem."sorri cabisbaixa.
"Eu concordo com Amy, eles não dariam certo Lauren. Mesmo com o laço tão forte que vocês dividiam, ele não se importou com ela, enquanto o supremo gostosão mesmo sem ter o laço completamente visível já a amava e cuidava dela." desta vez meu sorriso foi mais verdadeiro. Isso era verdade, pelo menos ele mostrava preocupação, mesmo sendo muito irritante e insistente. Cheguei a cozinha onde os dois moços da casa estavam colocando a mesa.
-Bom dia senhoras.-cumprimentou o mais velho enquanto o mais novo apenas acenou com a cabeça.
-Bom dia!-cumprimentou a jovem que eu conhecia por Camila.
-Bom dia, vou preparar um café.-dizia a senhora já indo para a frente do fogão.
-Bom dia a todos.-cumprimentei me aproximando.
-Aqui senhora.-o mais velho ofereceu uma cadeira, Sebastião.
-Obrigada, mas me chame apenas de Amy. Não sou e nunca serei senhora desta casa.-sorri para tentar amenizar o que eu disse.-Fiquem confortáveis perto de mim por favor, estou aqui para ajudá-los.-vi eles trocarem olhares um com os outros e então concordarem.
-Então Amy, por que não fala um pouco sobre você?-esse era o único assunto que eu queria fugir.
-Eu... morava com minha mãe aqui.-informei.-Nós trabalhávamos cultivando algumas hortas.-expliquei me lembrando do fundo de casa que era lotado de criselis, por exemplo. Eu morria de vontade de cultivar algumas plantas com características mágicas, mas era um risco muito grande.
-Sua mãe é Diana Dreams?-assenti.-Encomendei alguns tornus com ela.-fiquei surpresa, não sabia que mãe atendia encomendas para a casa dos alphas.-Muito gente boa.-sorri.
-Ela é.-apesar do que eu fiz com ela...
Realmente o universo dá retorno a tudo que fazemos, me preocupo com o que ele fará comigo pelas mortes que cometi, além das lembranças que parecem ter sido acordadas.
"Foram bons cincos anos de paz." comentou Lauren.
"Sem mim." disse Michelle."Vocês não tem vergonha de terem vivido bem sem mim?" perguntou soando indignada.
"Foram apenas cinco anos Michelle, ainda pretendo viver mais uns cinquenta anos sem você pra ter certeza." Lauren riu e Michelle fez um som de irritação.
"Não vou te ajudar mais." revirei os olhos.
-Você tem algum dom extraordinário?-quase engoli seco ao ouvir sua pergunta, disfarcei com um sorriso.
-Além de ser um pouco veloz?-perguntei suspirando.-Queria ter pirocinese e fazer as coisas pegarem fogo!-ela riu fazendo todos na mesa a acompanhar. Não que minha magia não pudesse fazer as coisas explodirem ou pegar fogo, mas era muito difícil mexer com os elementos primordiais e gastava muita energia, era bom para quem nascia com o dom.
-Pare de importuná-la, Camila.-pediu a mais velha, seu nome deve ser Emília.-Ela deve estar exausta.-sorri.
-Tudo bem, podem perguntar o que quiser, estou disposta.-ela se sentou a mesa com os olhos fixos em mim.
-Como a senh... digo, você, veio parar aqui? Não deveria estar na casa das rejeitadas?-assenti.
-Foi o que achei também, mas por um acidente de uma funcionária tive que ficar sem minha loba por um tempo e isso ocasionou na minha entrada na "equipe de leilões".-vi os olhos confusos.
-É uma equipe que faz leilões?-perguntou o garoto pela primeira vez, o irmão de Camila, acho que seu nome era Foxy. Balancei a cabeça negativamente.
-São garotas rejeitadas que são leiloadas a alphas.-eles fizeram sons de horror como se tivessem levado um susto.-E foi assim que vim parar aqui, Jackson me comprou.-me servi de um pouco de suco que estava a mesa. Ouvimos o barulho de café derrubando no fogão.
-Meu café!-levantou a senhora rápido.
-Por que ele fez isso?-perguntou Camila.
-Também não sei, ele quer apenas me tirar da minha paciência, por isso não se preocupem. Façam o que ele pedir, esse é um assunto entre mim e ele.-vi eles olharem pra mim com certa tristeza, talvez pena.-Querem perguntar mais algo?
-Era ruim lá? Sempre ouvi falar da casa das rejeitadas, mas nunca soube de verdade do que acontece lá.-o senhor mais velho tocou no braço dela.
-Não a importune mais com esse assunto.-pediu ele.
-Tudo bem, não me importo de responder.-me voltei a ela.-Pelo contrário, era ótimo, eu vivia com outras garotas e me ocupava com algumas aprendizagens, eu tinha um instrutor muito legal também e as vezes cometia algumas travessuras com os professores. Era similar a um internato de garotas.-vi os olhos dela brilharem.
-Que incrível!
-Mas se você fosse pega recebia punições horríveis.-ela passou a prestar mais atenção em mim.-Existe uma mulher que se chama Cassandra, eu e ela não nos demos muito bem e por uma briga ela me puniu com ficar um bom tempo sem minha loba interior. Não pude me transformar, nem me comunicar.-fiz um biquinho fazendo ela mudar para uma expressão triste.
-Nunca imaginei que seria assim.-cruzei os braços.
-Agora você já sabe como é ela e o que eles tanto escondem, é bom, mas não queira ir pra lá.-sorri dando mais gás a aquele clima.
-E essa mulher não foi punida?-perguntou o irmão dela tão interessado quanto ela.
-Acho que sim, mas não sei qual foi a punição dela.-dona Emília apareceu com o café coado o colocando a mesa no exato momento em que alguém pisou os pés ali, senti meu estomago revirar. Todos ficaram de pé.
-Bom dia senhor.-permaneci sentada pouco me importanto para a presença daquele infeliz ali.
-Fique de pé!-ordenou ele me fazendo ficar de pé. Se aproximou.
-Ops.-respondi ficando com o olhar erguido em sua direção. Senti meu coração bater mais forte, mas me contive o máximo que pude.
-Que roupa é essa? Não cansou de cobrir seu corpo?!-ele me cercou e depois parou bem perto de onde eu estava sentada, empurrando minha cadeira, ficando frente a frente comigo.-Todos já sabem de suas cicatrizes, eu já contei mesmo, não tem porque usar essas roupas horrorosas.-olhei para baixo vendo meu suco em cima da mesa. Será que eu poderia..?
Voltei meu olhar para ele usando minha velocidade absoluta, percebi que todos estavam com a atenção voltava para ele, ergui dois dedos apontando para o copo que eu usava para beber suco, voltei a velocidade normal no exato momento que o copo virou e atingiu as calças dele. Ele deu um pulo assustado.
-Nossa parece que você vai precisar trocar de roupa antes de mim.-ele ficou enfurecido e tentou me acertar um tapa, mas eu fiz uma referência para ele naquele exato momento me desviando em questão de segundos de ser atingida no rosto. Apontei para fora da cozinha.-É melhor o senhor ir logo.-ele bateu o pé e saiu da cozinha, todos olharam boquiabertos pra mim.
-Vamos voltar a comer, ele vai demorar um pouco pra voltar.-fui até a pia procurando um pano qualquer e limpei o estrago que eu mesma fiz.
-Você tem telecinese?-sorri.
-Bem que eu queria, Camila.-respondi levantando o copo.-Talvez tenha sido o universo pregando uma peça com ele.-sorri.