- Vamo, Alex! Não quero chegar atrasado! - Josh me chama.

Meu irmão liga o rádio e dá partida no carro, enquanto eu aperto o cinto de segurança.

- Hoje acordou bem feliz, hein irmãozinho? - ele olha pra mim com um sorriso convencido. - Seguiu meu conselho, não foi?

- Irmãozinho meu ovo. - O encaro entediado. - Mas sim, eu segui seu conselho, me declarei e no fim, acabou dando tudo certo.

- Que bom, tem que ouvir mais a voz da experiência. - ele bagunça meu cabelo como se eu fosse uma criança.

- Porra Josh, não toque no meu cabelo!Para deixar perfeito assim dá trabalho. - me olho no espelinho do retrovisor para colocar os cachos no lugar. - Saiba que 4 anos de diferença não é nada e sua vida amorosa é mais parada que a estação de trem da cidade, então você não tem experiência nenhuma.

- É o que dizem, treinador não joga.

- Mas também não se acovarda. E como anda com aquela menina que tu gosta praticamente desde que entrou na faculdade?

- Começou a namorar um cara do último ano de Biomedicina. - ele responde sem mudar a expressão. - Eu posso viver apenas com a amizade dela, já tá bom.

- Já superou assim tão fácil? A pessoa que eu gosto também é uma grande amiga minha e tu mesmo me incentivou a me declarar, por que não fez o mesmo?

- Nós somos irmãos, mas somos diferentes, Alex. Eu consigo lidar com esse tipo de situação, mas você não. Sabe, acho que é a primeira vez que te vejo tão apaixonado por alguém, dá para ver pela forma que você mudou, pela forma que sorri ao falar dela. Você iria se despedaçar se não tentasse, te conheço, irmãozinho. E é meu dever como irmão mais velho, proteger sua felicidade.

Ficamos um bom tempo em silêncio depois desse breve discurso. Mesmo que tenha soado tão sentimental, não deixo de me preocupar pela maneira como ele disse que sabe lidar com aquele tipo de situação. Quantas vezes ele engoliu os próprios sentimentos e fingiu não ligar? Que idiota...

- Poético. - digo por fim e nós dois rimos. - Mas não seria a mãe que deveria dizer algo assim pra mim?

- Pode ser, mas não era ela que te acalmava quando rolava tiroteio na nossa antiga vizinhança ou quando relampeava e você ficava com medo, ou quando faziam bullying contigo no primário, você sempre falava comigo primeiro.

- É, é verdade... - digo nostálgico. - Mas espera, eu tinha medo de relâmpago?

- E muito, mas você foi se acostumando e por volta dos 6 anos perdeu o medo, acho.

- Humm.

Quando enfim chego na High Schol, saio do carro e me despeço:

- Você tem que se arriscar mais, "irmãzão" - ironizo. - Você também merece ser feliz, é idiotice guardar tudo para si. Até mais tarde, boboca! - dou um soquinho em seu ombro e me direciono ao prédio.

Como de costume, várias pessoas me cumprimentam, acenam ou sorriam, principalmente garotas, mas sinto que tá faltando algo, Daniel. A partir do momento que nos tornamos amigos, sempre chegamos na escola juntos - menos quando um de nós ficava doente ou quando eu matava aula - e é estranho chegar sem ele.

Procuro por Dan com o olhar, mas o que encontro são alguns caras do time de basquete reunidos conversando, eles me chamam, e vou até eles. Me indagam do porquê eu não ter ido à festa no sábado e eu respondo que só estava muito cansado.

A melhor decisão que eu poderia ter tomado era não ir. Se eu fosse, teria enchido a cara, ficado com uma garota aleatória e adiado o momento da minha declaração e Deus sabe por quanto tempo eu teria adiado.

Alex & Daniel [Em andamento]Where stories live. Discover now