9. Daniel

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Meus olhos começam a doer, os deixo entreabertos e há muito luz, coloco meu antebraço no meu rosto para me proteger da claridade, é aí que percebo que estou acordando. E por que diabos está tão claro?

Tiro o antebraço do meu rosto e começo a abrir as pálpebras devagar, noto que a janela está aberta, então é daí que saiu toda essa claridade, mas por que está aberta?

Me levanto como um lesma da cama, me espreguiço e me alongo. Vou até meu celular e vejo que acordei 10 minutos antes do alarme, muito bom. Mudo de direção e vou até à janela para sentir um pouco dos raios solares e assim me despertar por completo. Eu gosto desse calorzinho proporcionado pelo sol da manhã em meu rosto, e sem perceber começo a sorrir por essa sensação.

Quando me viro noto o colchão que estava no chão ao lado da minha cama está arrumado. Sei que Alex sempre acorda cedo a fim de fazer sua corrida, mas por que ele não me acordou para abrir a porta? Então vejo um papel dobrado em cima da escrivaninha com o dizeres "me leia".

"Bom dia, Daniel. Saí mais cedo para correr, hoje à tarde ou amanhã te entrego suas roupas.
Ps: é, eu saí pela janela me pendurando na árvore. "

Então é por isso que a janela estava aberta. Alexander seu energúmeno!

Depois que leio bilhete, eu empurro o colchão para debaixo da minha cama com um plástico por cima para não empoeirar. Como sempre fecho as cortinas logo após e tiro minha samba-canção ficando apenas de cueca e então meu olhar passa pelo espelho, fico me observando por alguns instantes.

Sim, eu gosto do que vejo: da cor da minha pele (minha mãe dizia que tenho a mistura das cores dos descendentes do incas e dos nativos do Brasil), dos músculos sutis distribuídos pelo meu corpo magro, da minha altura (1,78m, uns 5 centímetros mais baixo que Alex), das minhas sobrancelhas grossas, do meu cabelo meio comprido e castanho, do meu nariz um pouco grande demais para o "padrão", talvez, apesar de gostar da minha aparência, eu queira ser como Alexander, ele sim é bonito, tudo nele é de se admirar, não um acoplado de detalhes razoavelmente aceitáveis como eu.

Mas a questão não é essa, eu sempre fui um cara inseguro com relação às outras pessoas, como se não fossem gostar de mim depois de eu me exteriorizar, não fossem gostar de fato do Daniel, por esse motivo acabei virando um cara tímido, sem muito jeito com socialização e tentando me camuflar entre as pessoas. Por isso eu valorizo tanto minha amizade com Alex, ele é uma das pessoas que mais me conhece e permanece junto a mim, apesar da nossa entrada à adolescência e nossos jeitos distintos.

Pelos deuses, devaneei demais, daqui a pouco perco a hora enquanto penso na vida. Tiro a cueca, amarro a toalha na cintura e vou ao banheiro para, enfim, começar meu dia oficialmente.

Depois do banho me visto com a roupa de escola de sempre, coloco os óculos, ajeito a mochila e desço para o andar de baixo onde minha mãe já está terminando de fazer o café da manhã e meu pai, como sempre, lendo o jornal como um pleno cidadão americano.

Nunca mencionei, mas meu pai trabalha como engenheiro de civil numa construtora e minha mãe dá algumas aulas online de língua portuguesa e inglesa na internet, ela fez faculdade de Letras língua inglesa no Brasil e tem até mestrado, assim como meu pai.

Depois de comer e me despedir de meus progenitores e de minha irmã caçula, vou para frente de casa esperar minha carona. Se passa 5 minutos até eu ver Josh saindo da casa à frente.

- Eai, bro, bom dia! - ele diz levantando a mão em saudação.

- Bom dia! - respondo sorrindo e me aproximando, acordei com um humor maravilhoso hoje.

Bem, diferente de Alex pelo jeito, ele sai da casa logo depois do irmão e está com uma carranca daquelas e quando me olha ele apenas desvia o olhar.

Alex & Daniel [Em andamento]Where stories live. Discover now