45. Alex e Daniel

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Alex

Não esqueceram. Os boatos persisitiram e foram ficando cada vez mais longe da verdade. Se eu já tava achando ruim antes, agora parece que jogaram uma tonelada de esterco por cima.

No dia seguinte do início de tudo — no caso, ontem — um grupo de mórmons fanáticos simplesmente se juntaram num complô fodido, rodearam Marie, e começaram a falar de Deus, assassinato, bíblia e que se Deus dá a vida, só Ele pode tirar e toda essas coisas de "pró-vida". Foi um bagulho muito intenso e muito estranho, ao ponto que Andrew teve que intervir pra afastar aqueles malucos da namorada.

Além disso, foi uma encheção de saco comigo, Dan e Paul — já que meio que andamos com a Marie. Só queria mandar todo mundo se foder, sacou? Porém foi ainda pior com Kayla, que quase ia caindo na porrada com uma menina do colégio, se não fosse por uma professora passando no exato instante.

Marie não aguentou tanta pressão e saiu da escola mais cedo alegando cólica, mas Andrew não foi junto dessa vez, devido ao treino de basquete, ou melhor, o treinador em si que começou a implicar. O foda é que o Andrew sempre foi muito responsável e dedicado ao time, não dá pra negar, então meio que a situação fica bem escrota.

No entanto, escrota mesmo tá a escola, nunca vi ela tão empenhada em tornar a vida de uma garota num inferno desse jeito.

Não sei como Marie está de fato, mas ontem à noite ela mandou um áudio com uma voz que indicava choro dizendo que o pai ainda não sabia de nada, ou simplesmente tava muito ocupado trabalhando e tava sem tempo para brigar com ela.

Isso foi mais ou menos às 22:30, e Dan estava na minha casa, deitado em meu peito enquanto conversávamos com o pessoal do grupo "grupo" apenas por meio do meu celular, embora ele também tivesse acesso às mensagens pelo seu próprio aparelho.

- Sabe o que eu acho que torna tudo ainda pior? — Daniel perguntou retoricamente.

- Hum. — instiguei.

- É que a gente viu como ela ficou depois do aborto, parecia uma pessoa totalmente diferente...

- Verdade, parecia que sei lá, uma luz tinha se apagado dentro dela.

- É... — ele concorda pensativo. — Nossa, foi bem poético o que você disse agora. — dou um risinho nasalado, mesmo que as circunstâncias não sejam nada engraçadas.

Ficamos um tempo assim, apenas deitados e sendo atualizados da situação da Marie tanto na escola quanto na casa dela. A garota ainda é um assunto nos grupos do colégio e os boatos são cada vez aumentados. Nós tentamos defendê-la nesses grupos, mas ninguém se importa quando alguém diz que é mentira sobre algo que tira a monotonia da escola.

Marie disse estar bem com toda essa merda, mas sabemos que não está e não sei o que pode ser feito pra melhorar essa situação. Muita gente pode achar que sou um narcisista ou egocêntrico, mas me preocupo com meus amigos e Marie deixou de ser só a "namorada de Andrew" há muito tempo.

Enfim, do nada meu pai bateu na porta do meu quarto. Já era quase meia-noite. Sorte que a porta estava trancada e ele não presenciou o filho e o melhor amigo dele abraçados numa cama.

- E aí, meninos! Querem... hum... assistir ao jogo do Hunt?

- Hunt? — perguntei, fingindo que tava comendo um Doritos no chão — Eles jogam hoje? E nesse horário??

- É uma reprise que tá passando no ESPN.

- Não pai, valeu! Temos que acordar cedo que amanhã tem aula. — disse, ainda meio confuso, Dan estava observando tudo sentado no colchão que ele tirou debaixo da cama em tempo recorde.

Alex & Daniel [Em andamento]Where stories live. Discover now