39. Alex

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- Ainda não consigo acreditar que aquilo aconteceu com a irmã do Paul. Sei que transfobia é bem comum, mas estávamos num lugar com tanta gente... Tipo, custa tanto assim respeitar?— digo à minha mãe, ainda com os acontecimentos de domingo bem vívidos na minha memória. Coisas ruins marcam pra cacete na gente.

- Sempre haverá pessoas que irão se achar melhores que outras, seja por qualquer motivo, meu filho: raça, classe social, gênero, sexualidade...— ela aperta meu cabelo contra meu couro cabeludo enquanto trança e eu gruno. — Mas saiba que não gostei nada nada de saber que o senhor anda se metendo em briga por aí e ainda por cima em lugares que não deveria estar.

- Eu sei mãe, eu sei, desculpa! Já ouvi muito sermão nos últimos dias, até do Josh. Não preciso de mais.

- Ah, precisa sim! E o Josh é seu irmão mais velho e tem mais cabeça no lugar. — ela diz e eu reviro os olhos, já que ela não pode ver. Se visse, chegaria logo no murro, Ashley não é mulher de tapas não. — Não esqueça que o sermão foi merecido, viu Alexander? Imagina a vergonha e a preocupação que passei quando soube que você tinha parado numa delegacia com uma identidade falsa. Primeiro que cometeu algo ilegal e isso é inadmissível e, mesmo que não seja um delito grave, sabe que eles só precisam de um pézinho para foder com a vida de pessoas como nós.

Com "eles" ela quis dizer os tiras.

A mãe quase nunca fala palavrão e quando fala é em momentos bem específicos. Quando voltei para casa segunda-feira ela ficou muito, mas muito nervosa, que até ficou tonta. Tontura na gravidez não é algo com que se preocupar, a menos que você tenha mais de 40 anos de idade, portanto meu pai quase teve um treco e eu me senti culpado pra caralho. No final das contas, a mãe teve que ir deitar e o pai ficou para me dar a lição de moral. Ele costuma ser mais brando nessas coisas, mas suas palavras sempre parecem carregar o peso de uma âncora.

No entanto, é verdade, nos encrencamos pra valer naquele dia. Nossa salvação foi o pai de Marie pagando nossa liberdade.

Primeiro de tudo: eu estava com meu namorado dançando adoidado e beijando como se não houvesse amanhã, ou seja, feliz da vida. Aliás, tinha como eu não estar feliz da vida depois do cara que eu amo aceitar namorar comigo?

Sabe, até aquele momento, não fazia ideia de que poderia haver pessoas tão preconceituosas naquele lugar, porque mesmo depois de tanto tempo de casalzinho, ninguém havia nos importunado. Eu até mesmo vi um casal de mulheres se pegando e ninguém se importando também. Apesar daquela massa de brancos e héteros, tava tudo indo bem: música de média qualidade e pessoas brilhando.

Até que percebemos uma confusão se formando. Andrew, que estava perto da gente, foi o primeiro à ir até o local, talvez por ter sabido primeiro quem estava no meio briga. Eu e Dan chegamos depois, vimos Victória caída no chão chorando e Paul caindo no soco com um mauricinho. Drew entrou na briga também. Algo muito escroto devia ter acontecido para ocasionar aquilo, essa foi a primeira coisa que pensei.

Assim que apareceram dois amigos do playboyzinho, olhei para Dan tentando comunicar o que eu queria dizer e fui ajudar meus amigos. Embora saiba como usar os punhos, Daniel odeia brigas, é um pacificador, e acho que, naquele momento, ele sabia que o melhor que poderia fazer era tentar acalmar a irmã de Paul. Ele é bom nisso.

Bem, depois disso a coisa toda se tornou um pandemônio. Seguranças apareceram, policial apareceu e fomos parar na delegacia. Tamo fudido, foi o que pensei. E estávamos mesmo.

Depois de ouvirem a treta toda, na qual claramente começou com a porra de um assédio sexual e transfobia, os policiais pediram nossas identidades, de praxe, uma vez em que quase todos nós tínhamos nos metido em um caso de agressão. Nós damos nossa identidade real na hora, pois provavelmente eles conseguiriam diferenciar uma real de uma falsa rapidamente e seria pior pra gente.

Alex & Daniel [Em andamento]Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu