33. Daniel

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Apesar de eu nunca antes ter viajado para o exterior, eu me senti em casa. Um sentimento de pertencimento enorme. Conheci parentes que sequer sabia da existência, conheci pontos turísticos, conheci a cultura dos lugares onde meus pais nasceram e foram criados e ainda pude ver a felicidade estampada em seus rostos.

A última vez que mamãe foi para o Brasil foi devido à morte da vovó, um motivo triste, e ela só ficou dois dias lá, Papai, por outro lado, nunca mais visitou seu país desde que imigrou para os Estados Unidos. Toda nossa família sabe que demos sorte por ele ter conseguido um emprego em sua área aqui nos, e o fato de chamarmos isso fe sorte é o mesmo de ele nunca ter conseguido uma promoção mesmo depois de tantos anos no trabalho...

Conto detalhadamente tudo o que aconteceu na viagem e mostro as fotos lá tiradas para Alex. Estamos deitados um do lado do outro na sua nova cama - que inclusive é de casal.

- Você voltou mais bronzeado. - ele comenta passando o dedo indicador pelo meu antebraço que está estendido por causa do celular.

- Eu te disse, lá faz muito sol, principalmente no Brasil.

- Você ficou mais bonito. Não sei como isso possível. - ele diz em um tom brincalhão, mas sinto sua mão encontrar a minha e entrelaçar nossos dedos de maneira delicada.

- Valeu... - coro mais por causa do toque do que pelo elogio em questão. - E esses piercings? Não posso passar algumas semanas fora e quando volto te vejo com a orelha furada. Por isso que na última semana você não me ligou em vídeo chamada? — coloco meu celular na estante ao lado.

- É. Sabe aquele dia que eu disse que ia beber com o pessoal do trabalho? Então, sabe aquela mina meio punk de lá? Ela também trabalha num estúdio de tatuagem de um primo da mãe dela, aí ela disse que ia fazer uma tatoo em mim de presente por alguma coisa que eu não lembro agora, acho que era alguma aposta sem sentido. Até aí tudo bem, mas o tio dela, que mora no estúdio, me disse que ela é muito amadora e tudo mais. Bem, e eu não tava bêbado suficiente para deixar ela fazer merda. — ele ri e eu viro a cabeça, conseguindo ver de mais perto a orelha que tem três furos, há dois mini brincos meio que em formato de argola na parte de cima e um brinco masculino no lóbulo, a outra orelha só tem no lóbulo. — Acabei dizendo que queria colocar piercing na orelha, e não me pergunte como, mas ela conseguiu não furar meus tímpanos.

- O que seus pais disseram?

- A mãe não gostou muito, mas o pai disse que isso era importante pra mim, pois era uma forma inconsciente de eu me libertar das amarras da heteronormatividade aos poucos e explorar minha personalidade com base nas últimas descobertas. — ele responde. — Imagina se ele descobrisse que fiz isso na impulsividade do álcool?! — completa, nos fazendo rir.

- Pelo menos te defendeu.

- É verdade... Mas e aí? O que você achou? - pergunta apontando para a própria orelha.

- Achei legal.

- Só legal?

- É, ué.

- Realmente tá só legal? Eu não tô mais bonito do que costumo ser? Mais atraente? Não deu vontade de sei lá, pular em cima de mim e me beijar até que seus pulmões gritem por ar?

- Alex, pelo amor de Díos, você realmente me imagina falando uma coisa dessas!? — digo sarcástico, reprimindo uma risada.

- Na verdade não, mas não custa nada sonhar, não... — antes que ele terminasse de falar, em um único movimento eu fico por cima dele e, com a mesma mão que ele entrelaçou seus dedos, prendo sua mão no colchão ao lado da sua cabeça.

Alex & Daniel [Em andamento]Where stories live. Discover now