15. Alex e Daniel

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Alex

Eu não sei onde foi parar minha sorte que um dia eu tenho a certeza da minha sexualidade e me assumo apenas para uma pessoa e no outro, saio do armário sem querer para três, devo ter atirado pedra na cruz fazendo movimentos pélvicos mesmo.

Quando eu vi aqueles dois gritando aos quatro ventos aquelas coisas com tanta felicidade estampada em seus rostos, como se não se importassem quem ouvisse, ou o que pensariam, como se tivessem orgulho do que são. E eu, que sempre fui meio impulsivo, somado com a alegria momentânea que o álcool me concedeu, decidi me juntar à eles e gritar, apenas gritar, sem me preocupar com o que viria depois.

Mas não sei se sinto orgulho do que sou, quer dizer, óbvio que eu queria ser 100% hétero e preferiria mil vezes estar apaixonado por uma garota linda e amável, e não pelo meu melhor amigo.

- EU GOSTO DE GAROTAS E GAROTOS! - gritei o mais alto que podia e gargalhei, eu me sentia leve como nunca. - Eu gosto do Da... - quase me confesso e tapo a boca logo em seguida rindo alto da minha própria estupidez. - DE GAROTOS E DE GAROTAS.

Mas a realidade veio à tona como um avalanche, aqueles rostos me olhando surpresos, Dave eufórico dizendo que tinha mais um para o vale e o abraço coletivo que, de certa forma foi acolhedor.

Após uns intantes me soltei daqueles 6 braços me envolvendo e tentei os convencer que era tudo um mal entendido, que eu só disse aquelas coisas por pura zoação. O que recebi foram olhares incrédulos e duvidosos, o olhar de Dan foi o pior, como se ele soubesse que eu estava mentindo deslavadamente. Esse garoto me conhece como poucas pessoas e ele sabe disso.

- Tudo bem, Alexander. Cada um tem seu momento para assumir o que quer que seja, mas saiba que ninguém aqui vai te julgar. — Dave disse segurando meu ombro e me olhando sério. — Ainda mais a gente: um gay, outra bi e seu melhor amigo.

- Só... Só finjam que eu não disse nada, ok?

Eles assentiram e foi decidido que iríamos para casa naquela momento. O trajeto até o carro foi silencioso, Daniel não trocou uma palavra comigo.

Já dentro do carro em movimento, a playlist de Dave começou a tocar. Ele e Lisa cantavam normalmente, com aquela animação de antes, talvez genuína, talvez forçada, não sei dizer. Uma música triste preenche o espaço do nada, logo após a de Doja Cat, bem aleatório. O dono do carro informa que é Lana Del Rey, nunca gostei de música triste com voz melosa, mas de alguma forma gostei dessa, não que eu estivesse me sentindo abatido, bem,  talvez um pouco.

Dave estacionou o carro bem em frente à casa de Dan, mas antes de qualquer despedida Lisa se pronuncia:

- Fica tranquilo, Alex, não vamos falar nada à ninguém.

Assinto com um sorriso mais fraco que o café do meu pai, aquelas palavras me aliviaram.

- Tchauzinho, Alex e Daniel! — o garoto no carro se despede acenando com a mão.

- Até mais, meninos. — Lisa sorri.

- Tchau.

- Até amanhã!

Depois de tudo eu só queria ir para casa e sumir, mas quando a BMW dobra a esquina e nos deixa sozinhos na rua, Dan me abraça. Não é um abraço vago, é um abraço completo de afeto, gosto de seu cheiro e ali, em seus braços, eu sinto que poderia ficar bem em qualquer circunstância.

- Por que não me contou nada? — ele me olha com preocupação depois de me soltar.

- ...

- Espera. — o garoto pega o celular em seu bolso, o liga e depois bota de volta onde estava. — São 23:21, meus pais não estão em casa, quer entrar para conversar?

Alex & Daniel [Em andamento]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora