Capítulo 12

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Capítulo 12

Bárbara

Ao entrar no alojamento, dou graças a Deus por estar sozinha. Olho para a carta e resolvo abrir logo! Percebo que minhas mãos estão trêmulas de tanta ansiedade. Sinto o cheiro de papel velho, e quando abro a carta vejo que têm uma pulseirinha e uma pétala de flor roxa. Não sei o que significa mas depois pergunto ao jardineiro do orfanato. Só sei que já gostei dessa flor, e da pulseirinha! Percebo que isso me afetou e uma lágrima cai, mas resolvo ler a carta.

Filha,

Não sei como se chama agora, mas sei que já está com 15 anos. Sei que deve se sentir sozinha, mas não se esqueça que estarei sempre com você. Se estiver lendo essa carta é porque não estou mais viva. Me perdoe por não estar aí ao seu lado e por não ter te criado, mas saiba que você foi a melhor coisa que me aconteceu. Junto com a carta está uma pulseirinha, que minha mãe, sua avó me deu antes de morrer, e eu estou lhe dando para se lembrar que você teve uma mãe que lutou por você e que te amou muito. Está também uma pétala de cravo roxo...esse cravo representa muitas coisas pra mim, que você já entenderá. Primeiramente, quero que saiba que estou fazendo um esforço muito grande pra escrever essa carta, e que estou em um hospital público e muito doente. Estou com 6 meses de gravidez, com você bem aqui dentro de mim! Estou lutando por você meu amor! Acho que você deve estar um pouco confusa, mas tenha calma. Antes de mais nada, venho lhe dizer que sempre fui pobre e tive uma vida difícil! Sua avó morreu quando tinha 11 anos,e desde sempre me virei. Quando sua vó se foi, eu fui morar com uma amiga dela, pois não tínhamos mais ninguém aqui no Rio para tomar conta de mim. Porém eu sofria muito, pois o marido dessa amiga não queria me sustentar e ele era um bêbado violento.Uma vez, ele tentou me violentar quando sua esposa tinha saído para trabalhar. Aquilo foi a primeira experiência horrível que tive com um homem. Eu cheguei a contar para sua esposa, mas ela não acreditou em mim, e disse que eu estava me oferecendo pra ele! Aquilo me deixou muito abalada, então resolvi fugir dali. Peguei minhas poucas roupas, e algum dinheiro que tinha na certeira do desgraçado, e peguei um ônibus qualquer que me levasse longe dali. O ônibus me deixou na Central do Brasil, o pior lugar para ficar sozinha nas ruas. Ao chegar por lá, fiquei em um abrigo por algum tempo, e depois fugi e fui viver minha vida. Com 17 anos, comecei a me prostituir para sobreviver! Eu entrei nessa vida, pois não tinha estudos .Eu cheguei a esse ponto, porque as vezes nem tinha o que comer. Comecei quando uma amiga minha que estava nessa vida me deu a ideia, então resolvi aceitar. Minha virgindade foi leiloada em um bordel muito movimentado por sete mil reais. Na época eu fiquei muito entusiasmada, pois nunca ia ganhar tanto dinheiro. Mesmo sabendo que 60% iria para o dono do bordel. Emfim, depois de um homem de meia idade comprar minha virgindade e ter o produto, eu percebi que ser prostituta seria a pior coisa que passaria na vida. Mas aquilo seria temporário, pois pretendia pagar meus estudos. Eu era a prostituta mais desejada do bordel, e dava muitos lucros para o dono. Cheguei a ter um cliente casado, que estava se apaixonando por mim exigindo coisas que não podia oferecer. Ele estava se tornando possessivo e obcecado por mim! Cheguei até a dizer que não queria mais tê-lo como cliente. Então, teve uma crise de raiva e foi embora, quando voltou mais tarde, estava bêbado e alterado. Não sei o que deu nele, mas fiquei com muito medo e nojo. Me fez lembrar do esposo asqueroso que tentou me violentar quando mais nova! Ele entrou no quarto dizendo que eu estava o deixando louco, e que eu seria dele a todo custo. Então, ele rasga minhas roupa e o pânico no meu olhar aumenta! Eu tentei gritar mais tinha muito barulho e música, então ninguém me ouviu. Ele coloca um pano na minha boca, enquanto se despia. Eu tentei fugir, mas a porta estava trancada! Ele me segura pelos braços, abre minhas pernas violentamente e tira tudo o que mais temia: Vontade própria. Ele satisfaz seu desejo asqueroso,mas percebo que logo se arrepende. Eu me jogo em um canto da parede e choro, tentando encontrar minha dignidade. Foi um dos piores momentos da minha vida, e eu nunca desejo isso pra ninguém. Um mês depois, descobri que estava grávida. Eu tinha engordado e andava muito enjoada. Eu sabia que uma hora teria que ir embora do bordel, pois a regra principal é não engravidar. Então resolvi procurar o babaca que me violentou, e ele disse que o filho não era dele. Mas eu tinha certeza que era, pois sempre me preservei em todas as relações e ele foi único que tinha feito comigo sem camisinha. Decidi então juntar dinheiro pra quando fosse embora, mas só durou alguns meses. Eu passei tanta coisa até aqui, e agora estou tão doente e sinto que não sobreviverei para te criar. Meu amor, não pense que te desprezei e rejeitei, pelo fato de ter vindo ao mundo dessa maneira. Mas lhe digo, que sempre te amei e que ia lutar para te dar uma vida digna. Escrevi essa carta para te alertar! Não deixe os homens usar você meu amor! Não confie em homem algum! Viva sua vida e construa sua felicidade contando apenas com você...Essa pétala de cravo roxo representa isso, a solidão. Eu conheci esse cravo através do único que amei, e que decidi entregar meu coração. Porém ele também me enganou dizendo que era solteiro quando era casado. E quando decidi dar um basta, ele se despediu deixando esse cravo. Ele representou tudo o que sentia...solidão. Descobri que ela me fazia bem, pois me tornava imune perante aos homens e suas mentiras. Queria lhe dizer só uma coisa, se conseguisse viver para te criar, queria que seu nome se chamasse Anne, pois sempre achei esse nome lindo. Emfim, saiba que te amo muito e sempre cuidarei de você aonde estiver!

Meu para sempre é você - ATUALIZAÇÕES INTERROMPIDAS TEMPORARIAMENTEKde žijí příběhy. Začni objevovat