Capítulo 2

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 Enquanto acompanho a bruxilda, percebo que só o meu corpo se encontra na Terra, pois minha mente está divagando e se chocando com meus próprios pensamentos. Tento encontrar algo bom diante dessa situação mas não consigo encontrar nada.

— Está pensando em que mocinha?

Diz Hilda, com a maior cara de desprezo e divertimento.

— Não é da sua conta.

— Você é muito abusada. Espero que melhore essa cara, pois muitas crianças queriam estar no seu lugar agora. Seus futuros pais adotivos são ricos, vão melhorar a sua vidinha insignificante.

— Ótimo.

Respondo com um nó na garganta. Como essa mulher consegue ser tão cruel? Será que não percebe o quanto estou sofrendo? Acho que não, pois percebo muito divertimento ao destilar seu veneno.

Chegamos ao refeitório e Hilda ordena a Malu pra preparar um lanche pra mim, pois vou de encontro a felicidade. Enquanto Malu prepara, Hilda sai e eu me sento em uma das mesas do refeitório.Estou tão triste pois sinto que também vou perder a companhia da Malu, e do seus mimos.

— Como vai você mocinha?

Pergunta Malu com um olhar triste e perdido.

— Mais ou menos.

Digo, sem querer preocupá-la.

— Está com uma carinha tão tristinha. Não fique assim meu anjo, estou sabendo da sua visita e confesso que também estou triste por talvez perdê-la, mas feliz ao mesmo tempo, pois talvez essa seja a chance de você ter um futuro melhor.

— Mas eu já planejei meu futuro com Edu. Nós vamos cursar na faculdade e depois vamos comprar uma casa pra morarmos com você. Seria o nosso lar!

Malu escuta isso, e percebo que está se segurando pra não chorar. Isso está acabando comigo, pois detesto ver as pessoas que amo sofrerem. E sabendo ainda que é de certa maneira por minha causa.

— Ai minha menina! É muito lindo escutar isso, mas as coisas não são tão simples assim. Eu sei que você e Edu seriam capazes pra realizar isso, mas talvez demore um pouco. Com uma família bem de vida tudo seria mais fácil.

— Eu sei Malu, mas tenho medo de ir e nunca mais ver vocês.

— Você pode pedir seus pais adotivos pra vir nos visitar sempre!

— É verdade, mas vamos pensar que tudo será como Deus quiser.

— Agora come e depois escove os dentes para receber a visita.

Malu coloca o sanduíche natural com suco de laranja na mesa. Eu estou sem fome, mas como sem hesitar. Não quero aquela megera reclamando na minha cabeça. Malu diz que vai se arrumar, pois seu turno já está no fim e tem que pegar dois ônibus pra ir embora. Ela mora em uma comunidade na zona oeste, e o orfanato fica no Centro. Ela diz que tem que ser apressar pois o Rio de Janeiro está muito perigoso. Enquanto como, penso como devo me comportar nessa visita e chego a conclusão que serei eu mesma. Confesso que estou um pouco nervosa, mas creio que tudo dará certo. Acabo de comer, vou ao banheiro, escovo os dentes, arrumo o cabelo e saio para a sala de visitas. Sento em um dos sofás e fico refletindo. O nosso orfanato é simples, mas é aconchegante. Se chama “ Criança feliz”. Grande ironia, já que a maioria das crianças que chegam aqui, nunca se encontravam nada feliz. Aqui já vi e vivi de tudo, crianças que já nasceram infectadas com AIDS, com problemas respiratório, com deficiência, problemas psicológicos e até mesmo com a alma ferida. Apesar de tudo isso, existem crianças que conseguem superar e encontrar a felicidade. Nós recebemos bastantes doações, visitas de pessoas voluntárias e igrejas também. Aqui , aprendi a viver. Não tive tudo na vida, mas tive momentos felizes e aprendi o verdadeiro significado do amor. Subitamente, saio do meu devaneio, quando a bruxilda diz que minha visita está aqui e me chama para sua sala, pois é mais reservado. Enquanto a sigo, começo a suar frio de tanto nervosismo. Não sei porque estou assim, mas tento manter a calma. Hilda, abre a porta da sala e pede para aguardar sentada que a visita já está presente e já vai entrar. Porém antes de sair, ela começa a dar ordens.

Meu para sempre é você - ATUALIZAÇÕES INTERROMPIDAS TEMPORARIAMENTEWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu