Capítulo 10

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Capítulo 10

Eduardo.

Depois que Bárbara saiu para diretoria fiquei sem fala e reação. Pedro e Juliana me olhavam espantados como se estivessem pensando no que falar. No momento eu só quero ficar sozinho, então decidi ir pra “nossa árvore”, que talvez perca esse título de “nossa”. Nunca fiquei tão perdido e desesperado como agora. Ser abandonado é meu destino desde sempre, e estou farto disso! O meu maior erro, foi depositar minhas fichas em função de outra pessoa. Tudo que planejei foi com Bárbara, e agora estou prestes a ser deixado de lado. E para completar, estou perdidamente apaixonado. Sei que sou novo demais, e talvez isso seja apenas uma fase.

Mesmo que seja uma fase, dói...ai como dói. Queria simplesmente não dar a mínima para o que está acontecendo e ser mais macho, mas simplesmente não consigo. E se você no meu lugar? E se a pessoa que você mais ama estivesse prestes a ir embora? O que faria?

Infelizmente não existe um botão de “desligar sentimentos” ou “desligar humanidade”, então para minha tristeza terei que passar por isso querendo ou não. O que posso tentar no momento é convencer a Babi a ficar, e provar pra ela que tudo que precisa está aqui no orfanato ao meu lado. Eu juro que queria entender essa necessidade dela querer conhecer essa tal dona Débora. Ela diz que algo dentro dela diz... mas que droga é essa? Que porra de voz é essa? Só pode ser o capeta né? Por que um anjo não faria isso comigo. Eu acho que ela está exagerando, pois mal conheceu essa mulher, e acha que nasceriam para ser mãe e filha? Só pode ser sacanagem.

Meus miolos estão fritando em busca de um resposta que não existe pra mim. Estar aqui debaixo da grande sombra dessa árvore me traz raiva, um sentimento novo que adquiri por Bárbara e que achei que nunca fosse sentir. Tento me manter equilibrado, mas a raiva só aumenta e começo a socar o tronco da árvore como se isso fosse me ajudar a despejar tudo que estou sentindo. Durante esse momento de fúria Pedro aparece e me segurando pelos ombros gritando.

— Calma cara... o que você tá fazendo?

Diz Pedro um tanto nervoso! Acho que bloqueei qualquer capacidade de compreensão e me concentrei somente na raiva, então passo a socar Pedro que tenta se proteger...

— Caralho Eduardo, você está batendo forte!! Para com isso cara! Sou eu Pedro...seu melhor amigo!

Pedro grita tentando me tirar do transe, mas resolve dar um chute em mim para me “acordar” desse momento de fúria. E acho que funcionou, pois minha canela está queimando de dor. O desgramado me acertou em cheio.

— Ai..ai..Pedro! Me acertou bem na canela direita cara...

— Agora você percebeu que sou eu né?

— Sim...

Falo fazendo uma careta de dor.

— Mas que porra foi essa cara?

— Não sei cara, só estava com muita, mas muita raiva mesmo.

— Percebi, porque me deu vários socos.

— Foi mal cara, acho que tive um piripaque.

— Igual aquele que o chaves tem quando se assusta?

— Acho que sim, só que o meu foi bem mais violento.

Falo sorrindo tentando descontrair um pouco.

— Isso tudo foi por causa da Babi, né brother?

— Está tão óbvio assim?

— Acho que sim.

— Hum...

Um silêncio constrangedor se instala, pois não quero falar sobre isso com Pedro. Sei que o que tive agora foi coisa de gente maluca. Mas quem nunca teve uma crise de nervos? Afinal, foi bem melhor do que a última vez, onde soquei a cara de um colega do alojamento até seu nariz jorrar sangue e a supervisora chegar. É algo incontrolável, como se somente a raiva comandasse os movimentos do meu corpo. Sei que preciso ajuda de um profissional, e até converso com a psicologa do orfanato. Mas evito ir, pois detesto ter que falar de coisas que não tive.

A psicologa diz que meu comportamento raivoso, ou seja o meu distúrbio de raiva está relacionado a ausência de uma família. De alguém que faça o papel de defensor e que me ensine a ter controle sobre meus sentimentos. Na verdade, acho isso uma grande palhaçada, mas quem sou eu pra discordar de uma doutora formada? Se ela diz... eu só concordo.

Depois desse momento de raiva, resolvo me despedi de Pedro e ir para minha cama no alojamento e deitar um pouco. Ao chegar, percebo que os outros meninos estão brincando no parquinho, então terei um momento de paz. Deito na cama, com as mãos na nuca e fico fitando o teto do quarto até pegar no sono. Acordo um tempo depois, e imagino que Bárbara já tenha terminado a entrevista, então resolvo ir até o alojamento feminino e conversar com ela. Quando entro no alojamento fico igual a um babaca, pois vejo Ju e Babi se abraçando e vestidas com roupas novas. Bárbara está tão linda que fico sem reação, ou melhor, a minha única reação é ficar babando diante da imagem dela. Ela está parecendo uma princesa...Mas logo fico confuso, pois Malu não tem dinheiro pra comprar um vestido daqueles, então resolvo perguntar:

— De quem são essas roupas?

— A Babi ganhou da dona Débora hoje, quando elas saíram pra passear! Não são lindos?

Juliana responde com um sorriso na cara, enquanto a minha simplesmente se fecha. A resposta pra minha pergunta está óbvia. Babi quer ter uma vida boa, quer ser rica e por isso quer me abandonar. É claro!!! Como pude ser tão cego? A raiva de mais cedo está voltando junto com a dor, e minha única reação foi responder:

— Entendi tudo então.

— Entendeu o que exatamente??

Babi pergunta como se não soubesse o que está óbvio. Quanto cinismo!

— Entendi qual é sua Bárbara! Você aceitou dar continuidade a adoção, porque esse casal ai é rico. Eles vão poder de dar tudo que quiser! Isso faz de você uma interesseira!!!

Percebo que a raiva vai crescendo... e tenho que arranjar um jeito de sair daqui, antes que fique enfurecido e faça uma besteira.

— Você só pode estar brincando comigo né Edu... Você sabe que não sou assim!

Babi reponde magoada, mas não dô a mínima, pois tudo se clareou na minha mente.

— Ultimamente eu não sei se te conheço mais Bárbara.

Respondo de maneira sincera, pois realmente acho que a desconheço.

— Se você acha isso de mim Eduardo, é porque não me conhece mesmo.

Bárbara parece realmente estar magoada, mas com certeza eu estou mais. Ela parece estar com vontade de chorar, mas não deixo isso me afetar.

— Eduardo vai embora agora!

Bárbara diz pra mim e pede pra Ju se retirar também. Além de estar sendo abandonado, também estou sendo expulso. Acho que nunca me senti tão traído! Nada é insubstituível, e Babi está fazendo isso facilmente por interesse...é a lei da vida, todo mundo tem seu preço.

— Estou indo mesmo Bárbara, só quero te dizer que nunca fui tão infeliz como estou sendo agora.

Falo isso com toda a raiva e tristeza do mundo, e resolvo ir tomar um banho. Minha cabeça está explodindo de ódio, então bato a porta e saio. Ao chegar no banheiro do alojamento, ligo o chuveiro e deixo a água gelada tentar esfriar meu corpo e minha cabeça. Agora estou mais calmo, e consigo raciocinar melhor. Fico parado com os olhos fechados e a água do chuveiro se mistura com minhas lágrimas. Essa será a última vez que chorarei por Bárbara, pois ela não merece uma gota se quer.

Começo a pensar sobre o que é bom pra mim, e no momento eu decidi algo: Nunca mais vou confiar em outra pessoa e depositar minha felicidade nela. Vou construir mina própria felicidade sozinho! Não deixarei nem uma garota me enganar ou me usar, pois foi isso que Bárbara fez! Me usou até encontrar pessoas melhores. Vou viver minha vida sozinho, e usarei quem quiser sem me ligar emocionalmente, pois fiz isso e olha no que deu? Estou fodidamente perdido e machucado. Agora serei eu que farei com que as pessoas vivam para mim, e jamais me doarei como fiz com Bárbara.



Meu para sempre é você - ATUALIZAÇÕES INTERROMPIDAS TEMPORARIAMENTEWhere stories live. Discover now