Quando dei por mim, já estava tomado por uma falta de ar que dominava meu corpo, o coração disparado, a boca completamente seca e as mãos completamente encharcadas. Respirei fundo algumas vezes debaixo da ducha fria, tentando organizar os pensamentos, mas não obtive muito sucesso. Tentei convencer a mim mesmo que bastava contar tudo pelo que passei sem ela, mas lembrei do que ela havia passado sem mim, e como a situação dela era realmente pior que a minha, essa poderia ser uma péssima forma de tentar fazer com que Marinette acreditasse no que estava dizendo.

Saí do chuveiro mais perdido e com mais medo que antes. Vesti um pijama limpo e, ainda sem saber o que fazer, fiquei observando os carros na rua muito abaixo de mim através da janela do meu quarto. Talvez tenha ficado lá por muito tempo, então senti uma presença atrás de mim e me virei, sem lembrar que só poderia ser ela.

A rápida surpresa fez com que eu sentisse uma repentina alegria em vê-la ali. Ela finalmente havia tido o tempo que precisava para pensar, para encarar a situação. Agora ela estava calma, e nós ficaríamos bem, como deveria ter sido há muito tempo, não fosse minha covardia nojenta.

Lembrei que devia estar tarde, embora eu não soubesse que horas eram exatamente, mas era de se esperar que ela estivesse com fome, já que havia se alimentado pessimamente.

— Está com fome?

— Não. — Ela respondeu, me encarando diretamente nos olhos. Eu já havia desistido de resistir ao poder que eles tinham sobre mim toda vez que ela olhava para mim, então me permiti ficar ali, apenas aproveitando aquela conexão.

— Você precisa comer alguma coisa. — Disse mais para continuar falando do que qualquer outra coisa, apesar da minha verdadeira preocupação com a alimentação dela.

— Não preciso de nada.

— Eu posso preparar alguma coisa p'ra você.

— Por que está me tratando como a sua boneca?

Me surpreendi com seu tom de voz. Saindo um pouco do transe, comecei a notar que ela parecia hostil, então o pavor tomou conta de mim outra vez.

— Eu não estou... — Comecei, mas fui interrompido.

— Por que me trouxe p'ra cá?

— Não é óbvio? — Perguntei, ainda surpreso que ela não tivesse chegado à conclusão tão evidente.

— Não, não é. Não é nada óbvio.

Observei-a melhor e pude notar que ela tremia um pouco. Eu não queria vê-la nervosa, queria que ela se sentisse bem perto de mim. Queria que ela se sentisse confortável...

— Eu quero que você fique aqui.

— Por quê? Para tornar a brincadeira de me ignorar mais divertida?

Ignorá-la? Era isso que ela achava que eu queria fazer? Ignorá-la? Como ela podia dizer aquilo? Era óbvio que não sabia o quão importante ela era, porque eu jamais conseguiria fazer isso. Aliás, se eu tivesse conseguido ignorá-la quando tentei, não teria sofrido tanto.

— Não, claro que não! De onde tirou isso?

— Então me diga por quê?

Por que ela não entendia? Como ela podia não entender? Era algo tão fácil de se perceber...

— Porque você precisa ficar aqui.

— Por que você não me dá motivos?

Suspirei, a quem eu estava querendo enganar de que ela compreenderia tudo e eu não precisaria falar agora. Já havia passado da hora de encarar a realidade de que teria que relatar tudo o que ainda não tinha sido dito, para que eu me sentisse menos pior também.

Suddenly in Love ♡ AdrienetteWhere stories live. Discover now