Ponto Crítico - Parte 2

908 157 80
                                    


Muito obrigada pelas mensagens ontem. Eu amo vocês!

_________________________________________



Lena se lançou para Kara e por pouco não esbarrou no fluxo de policiais que avançavam e gritavam para todo mundo se abaixar. Lena obedeceu imediatamente, puxando a loira com ela, mas não ficou parada. Arrastou-se em direção ao bar logo à sua direita, encontrando-se cara a cara com o barman de olhos arregalados, o garoto de faculdade que ela suspeitava ter o vício da cocaína e um negócio paralelo que pagava por ele.

— Tem alguma saída que ninguém conhece? Uma janela, o telhado, qualquer coisa? — gritou para o rosto do barman, o barulho em torno deles tornando impossível fazer qualquer coisa a não ser gritar.

— É a polícia, eu tô numa merda enorme! — Ele começou a balbuciar.

— Então vamos sair daqui! — Lena persuadiu, desejando que o barman fizesse um número de desaparecimento com seu chapéu para todos eles. O homem assentiu com a cabeça, engolindo, entrando mais fundo para trás do bar, e Lena o seguiu engatinhando, empurrando Kara em sua frente. O barman abriu o que parecia ser um grande armário embutido na parede atrás do bar, cerca de um metro de altura por meio metro de largura, e Lena se preocupou por um segundo que o rapaz magrelo fosse entrar e fechar a porta atrás de si, num esconderijo para uma pessoa.

— É parte da reciclagem. Tem uma doca de entrega do outro lado desta parede e uma caçamba de lixo onde guardamos as garrafas de vidro vazias até que sejam recolhidas. Este depósito alimenta a lixeira. Cuidado. Tem muito vidro quebrado.

Então ele sacudiu-se para dentro da abertura, primeiro com os pés, e desapareceu quase imediatamente. Kara não precisou de estímulo e copiou a saída. Logo Lena também espremeu-se para atravessar e caiu num depósito de garrafas de vidro, a maioria delas ainda inteira. A caçamba estava posicionada no ângulo exato entre a parede dos fundos e a parede do depósito de reciclagem. Havia apenas uma saída, e o jovem barman já estava pulando para o chão da doca estreita de abastecimento e seguindo em direção à porta de metal deslizante.

Lena gritou para ele, alertando-o. Sabia o que estaria do outro lado da porta. A polícia não era idiota. Eles teriam gente na saída, e, se ele saísse, os policiais iriam entrar. O homem parou e correu de volta quando Lena desceu da caçamba atrás de Kara e olhou em volta, à procura de outra saída que não fosse tão óbvia e destinada ao fracasso.

Um aporta se abriu em frente a eles, um velho com uniforme de zelador e o rosto macilento saiu para o asfalto, puxando um cigarro do bolso da frente, o bolso com um crachá de funcionário laminado com uma foto, um número de empregado, um código de barras para todo mundo ver. Aparentemente o bar não era o único estabelecimento que usava a saída de carga. O zelador bateu no bolso para procurar um isqueiro, e Kara correu em direção a ele, Lena e o barman em seus calcanhares, enfiando a mão em sua bolsa enquanto isso.

Ela mostrou uma nota de cem dólares para o homem enquanto se aproximava dele.

— Precisamos sair daqui. Você pode nos levar por ali? — Ela mostrou com a cabeça a porta pela qual ele tinha acabado de sair.

O homem olhou como se não entendesse a língua que ela falava e acendeu o cigarro, baforando ao ignorar o dinheiro na mão estendida dela e olhando para o rosto de Kara com a cara fechada. A loira olhou para Lena e deu de ombros, impotente.

Lena pegou a nota dela e segurou na frente dos olhos do homem, que não parecia inclinado a ajudar, ou mesmo reconhecer sua presença. O movimento desviou a atenção do homem do rosto de Kara para a mão que agora segurava o dinheiro. Seus olhos fixaram nos cinco pontos na pele de Lena, entre o polegar e o dedo indicador.

— Você cumpriu pena? — Grunhiu, e seus olhos oscilaram para cima para encontrar os de Lena.

— Cumpri. E você? — Lena respondeu, sem pestanejar.

— Cumpri. — Outro grunhindo de forma afirmativa. — Faz muito tempo.

— O bar tá cheio de polícia — Lena disse. — E eu não estou muito a fim de voltar para a cadeia.

O homem apagou o cigarro no muro de concreto e concordou com a cabeça uma vez.

— Vocês dois estão fugindo porque são culpados? — Ele perguntou, olhando para Kara e Lena.

— Não. Estamos fugindo porque não somos. O que está acontecendo lá dentro não tem nada a ver com a gente.

Ele assentiu de novo, como se fizesse sentido.

— Vou deixar vocês dois passaram. Ele não. — Usou um movimento do queixo para indicar o barman agitado.

— O-o quê? — O barman saltou nervosamente.

— Você está traficando. Já te vi por aí. Vendendo cocaína. Para moleques. Você sai por ali. Arrisque. — Ele usou o queixo mais uma vez para apontar em direção à entrada da doca. — Não vou te ajudar. 

O homem gritou uma série de palavrões quando percebeu que estava sozinho.

— Vou contar para todo mundo que te vi! Estou dizendo! Vou contar que Kara Danvers veio aqui hoje atrás de um tirinho. — Ele disse, apontando para Kara, ameaçando dedurar como se tivesse nove anos e tivesse sido esnobado no parquinho.

Lena se virou para ele com um xingo e um direto bem colocado na mandíbula trêmula, e o barman se amontou no chão. Apagado. Pela segunda vez em cinco minutos, o tempo de Lena na prisão tinha vindo a calhar.

— Se ele contar, pode ter certeza que eu também vou dizer o que sei — disse o zelador, passando o crachá de funcionário no leitor de cartão ao lado da porta pesada, destravando a fechadura. Segurou a porta aberta para as duas, e pareceu quase satisfeito quando lançou um último olhar para o traficante inconsciente deitado no concreto.

— O carma é uma vagabunda, mas tenho certeza que gosto dele esta noite. — Foi tudo o que o homem disse, e a porta se fechou atrás deles. Era um prédio de escritórios. Cubículos e sistemas de telefonia lotavam a sala grande pela qual o zelador os levou. Quando chegaram ao saguão de entrada, ele desativou o alarme, enfiou a mão no bolso e devolveu a nota para Kara, insistindo que não gostava de suborno mais do que gostava de traficante de drogas. Mas concordou e pegou de voltar quando ela autografou com uma caneta permanente preta que tirou da bolsa, dizendo-lhe que era um presente.

Kara deu um grande sorriso ao velho ex-presidiário quando soltou a caneta de volta na bolsa, e ele deu um passo para trás, deslumbrado por um instante, levantando a mão em despedida quando se esgueirou pela porta da frente para a rua escura. Lena sabia como ele se sentia, e foi atrás da garota que não tinha trazido nada além de confusão para a sua vida e calor para o seu coração desde o instante em que a tinha conhecido.

Andavam depressa, mas se aproximavam do estacionamento com cautela, tentando permanecer nas sombras, sem saber o que iriam encontrar. E o que encontraram foi o caos. O caos podia ser bom porque daria cobertura, mas, pelo que elas podiam perceber, ninguém estava autorizado a sair. Algo importante estava acontecendo, e Lena duvidou que a batida policial fosse culpa do barman. Aquilo era grande — muita droga, muitos jogadores. O bar era um ponto quente para mais do que a música, altas horas e comida, pelo visto, como o motorista do posto tinha insinuado. Não reabriria num futuro próximo, e Kara e Lena também não chegariam ao carro do Hank em um futuro próximo.

— Que horas são? — Lena perguntou a Kara. Não conseguia ver o visou do relógio, e ela era a única pessoa com um celular. Seu modelo descartável estava no Charger, e o telefone com que tinha começado a viagem estava na Blazer, o primeiro carro que tiveram de abandonar. Ela xingou.

— Três. São três da manhã — ela respondeu. — Vamos ter que deixar o carro, não vamos? — Como de costume, ela estava lidando com aquilo numa boa.

Lena olhou para ela com sobriedade.

— O que você acha de pegarmos um ônibus?

Part Of Me | SupercorpWhere stories live. Discover now