Eu precisava de um banho, o que podia ser uma boa forma de dar a nós dois a oportunidade de nos separarmos de uma forma simples. Se ele também não sabia como ir embora sem que me machucasse — e se ele estava preocupado com isso — então poderia simplesmente partir enquanto eu estava trancada ali. Não haveria drama ou desconforto, então quem sabe assim não fosse o melhor final para nós dois?

Entrei debaixo do chuveiro, sentindo a água gelada machucar minha pele, e me permiti demorar mais do que o normal ali. Ao contrário do que imaginei, eu não estava ansiosa para sair logo e me certificar de que ele ainda estava no meu apartamento. Eu estava calma de alguma forma inexplicável, talvez porque tivesse aceitado a situação. Isso não significava que a dor no meu peito tivesse diminuído em nada, mas era a hora de lidar com ela, afinal de contas.

Lavei os cabelos e me ensaboei várias vezes, sentindo com isso dores em alguns lugares do meu corpo. Então lembrei do creme que eu usava em situações assim, que ainda estava guardado dentro do armário com espelho em cima da pia, e imaginei qual seria a reação dele se eu decidisse usá-lo. Pelo que me lembrava, aquele perfume fazia coisas estranhas com ele, mas meu objetivo não era tornar as coisas mais difíceis para ninguém. Muito pelo contrário.

Me sequei e vesti as roupas limpas. Penteei os cabelos molhados e peguei as roupas que usava antes, emboladas agora em meus braços, então destranquei a porta e saí.

Minha razão tentava me convencer que ele não estaria mais ali. Meu lado sentimental torcia para que ele estivesse me esperando em qualquer lugar daquele minúsculo cômodo. O fato era que essas eram as duas únicas opções que eu pensava ter, mas ao entrar novamente no pequeno quarto/sala/cozinha, fui, mais uma vez, pega de surpresa pelas mudanças no ambiente.

Ele estava lá, sentado no sofá. Minhas malas, roupas e sapatos, não.

Além dele, as únicas coisas que ainda permaneciam na sala eram minha mochila, agora aberta e vazia ao lado dele, e meu par de all star vermelho ao lado da porta, que passaria despercebido se não fosse uma cor pouco discreta.

Fiquei imóvel, dando tempo ao meu cérebro para encontrar uma explicação para aquilo. Antes que isso pudesse acontecer, Adrien se levantou e veio em minha direção, tirando das minhas mãos a bola de roupas sujas e enfiando na mochila. Calmamente, passou por mim e entrou no banheiro, então pude ouvir o barulho de muitas outras coisas sendo jogadas dentro dela, o que eu tinha certeza serem os poucos produtos que estavam guardados no armário.

Quando ele voltou, tentava empacotar junto com as outras coisas a toalha úmida que eu acabara de usar. Quando meu cérebro finalmente conseguiu processar uma possível explicação para tudo aquilo, meu corpo começou a tremer de uma forma violenta e involuntária, enquanto ele agora me olhava e tentava fechar o zíper da mochila em suas mãos.

— Tem alguma coisa na geladeira ou nos armários?

Não consegui responder, mas fiz que não com a cabeça.

Meu corpo estava completamente tomado por uma descarga elétrica muito forte para que eu conseguisse me acalmar. Aquilo que eu estava pensando era uma explicação, e embora fosse aceitável e até plausível, eu lutava comigo mesma para desacreditar nela, enquanto me mantinha na mesma posição desde que havia entrado de volta ali. Não era aquilo, simplesmente não podia ser aquilo.

Ele veio para minha frente e novamente me olhou nos olhos, sem nunca deixar de lado sua postura rígida.

— Vamos.

Senti sua mão segurar com firmeza a minha, a firmeza que meu corpo agora não tinha. Meus tremores ficaram ainda mais óbvios depois de sentir seu toque quase despreocupado em mim, como se fosse algo tão banal, e eu possivelmente estaria envergonhada da minha patética falta de controle se estivesse me importando minimamente com isso.

Suddenly in Love ♡ AdrienetteWhere stories live. Discover now