Ergui os olhos e a vi. Ela estava com roupas que eu jamais a havia visto usar. Roupas vulgares, maquiagem pesada e um rosto triste, muito triste. Embora as cores fortes em seu rosto fossem gritantes, não conseguiam tirar a atenção dos vários machucados que ela tinha na boca, em volta dos olhos e, descendo, por todas as partes do corpo, expostas pela saia indecentemente curta e pelo top quase transparente que aparentemente ela estava sendo obrigada a usar.

Uma prostituta.

Um objeto, com as marcas de todos os aluguéis pelo uso, sem pudor.

— Eu esperei por você, mas você não veio. Pensei que você fosse me proteger.

O cenário havia mudado, e agora existíamos só nós dois, ainda em nossas posições, enquanto todos os outros haviam desaparecido. Fui tomado por uma esperança ao ver que podia caminhar até ela, mas minha alegria durou o tempo necessário para que eu percebesse que não conseguia me mover. Tentei falar alguma coisa, mas minha voz também não era audível.

Eu estava impotente, e só podia rezar para que ela pudesse ler meus pensamentos. Mas ela não podia.

— Você disse que estaria por perto.

Eu disse... E eu vou estar!

— Você mentiu p'ra mim.

Não menti, eu quero estar! Eu estou aqui!

— É sua culpa. Eu estou assim por sua culpa. Você prometeu me proteger.

Eu vou cuidar de você... Eu vou...

— Não volte mais aqui. Não quero mais ver você, não quero mais falar com você. Finja que não me conhece, que eu nunca existi. Você é igual aos outros.

Me desesperei, ainda preso no mesmo lugar, tentando com todo esforço gritar alguma coisa, qualquer coisa, mas minha voz não me obedecia. Ela não podia me jogar para fora da vida dela daquela maneira! Eu não podia ir!

Mari! Por favor...

Ela se virou e caminhou lentamente para o corredor que dava para os quartos, e eu não pude fazer nada senão olhá-la ir embora.

Por favor!

Por favor não vai...

— Adrien?

Uma voz aveludada conhecida chamou meu nome, tirando-me lentamente daquele sonho. Abri os olhos e vi o rosto de Alya em frente ao meu, me encarando com curiosidade. Aos poucos, me dei conta da dor que sentia no pescoço, proveniente da péssima posição em que me encontrava, com a cabeça apoiada nos braços em cima da mesa da minha sala.

— Você cochilou.

Levantei a cabeça lentamente, ciente que meus músculos gritavam em protesto.

— Desculpe. Tive uma noite péssima.

Lembrei-me da noite em questão. Depois de chegar em casa, tomei um banho e me deitei, fazendo toda força que podia para não pensar em tudo o que tinha ouvido de Marinette. Portanto, obviamente foi a única coisa na qual eu pensei durante a noite toda, o que me impediu de ter um sono normal. Eventualmente o início de um sonho começava a nublar minha mente, mas imediatamente era espantado pela lembrança da conversa que tivemos algumas horas antes, ou pela minha imaginação fértil que teimava em pintar, com os mínimos detalhes, tudo o que me fora relatado.

Como resultado, passei a noite inteira acordado, pensando no que ela tinha sido vítima.

— Você estava resmungando coisas — Alya começou, tentando soar sensível.

Suddenly in Love ♡ AdrienetteWhere stories live. Discover now