Capítulo 61

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Eu gostaria de dizer que são as músicas da Lana Del Rey que me ajudam a escrever esses capítulos, mas eu estaria enganando vocês, pois são as músicas de aberturas de animes que me ajudam nessa empreitada. Alguma Otaku por aqui?
***

Já estavam todos lá quando cheguei para jantar na casa dos gêmeos naquela noite, reunidos em volta do rádio, ouvindo a previsão do tempo como se fosse um boletim da guerra recém-chegada do front.

- Quanto à previsão para os próximos dias -, disse a voz ágil do locutor, - esperamos tempo frio na quinta-feira, com céu nublado e possibilidade de pancadas de chuva, elevando a temperatura para...

Lauren desligou o rádio.

- Com um pouco de sorte -, ela disse - a neve derreterá até amanhã à noite. Onde esteve esta tarde, Camila?

- Em meu quarto.

- Ainda bem que veio. Preciso de um favorzinho seu, caso não se importe.

- De que se trata?

- Gostaria de levá-la ao centro amanhã, depois do jantar, para que assistisse aos filmes no Orpheum e nos contasse o enredo. Importa-se?

- Não.

- Sei o quanto isso te atrapalha, durante a semana, mas realmente não creio que seja aconselhável, para qualquer um de nós, voltar lá. Charlie ofereceu-se para preparar sua lição de grego se quiser.

- Se eu usar o mesmo papel amarelo que você -, Charlie disse, - e a caneta-tinteiro, Vanessa jamais notará a diferença.

- Obrigada -, falei. Charlie possuía um talento impressionante para a falsificação, segundo Christian, isso desde a infância - assinaturas perfeitas no boletim da quarta série, justificativas impecáveis para faltas na sexta. Eu procurava sua ajuda sempre para fazer a assinatura do dr. Pearlman no meu livro de pontos.

- Falando sério -, Lauren disse -, odeio pedir que faça isso. Temo que os filmes sejam horrorosos.

De fato, eram muito ruins mesmo. No primeiro, um filme de estrada dos anos 70, o sujeito abandona a esposa para cruzar o país de carro. Acaba se desviando da rota e vai parar no Canadá, onde se envolve com desertores do serviço militar; no final volta para a mulher e os dois se reconciliam numa cerimônia hippie. O pior de tudo foi aguentar a trilha sonora. Músicas acompanhadas de violão, abusando da palavra liberdade.

O segundo filme, mais recente, tratava da guerra do Vietnã. Chamava-se Fields of shame - superprodução com vários astros. Os efeitos especiais, contudo, eram realistas demais para o meu gosto. Soldados perdendo a perna e coisas do gênero.

Quando saí, vi o carro da Lauren estacionado adiante, na rua, com as luzes apagadas. No apartamento dos gêmeos, depois, encontrei o grupo reunido em torno da mesa da cozinha, mangas arregaçadas, estudando grego. Quando chegamos eles se agitaram, e Christian se levantou para fazer café, enquanto eu lia minhas anotações. Nenhum dos dois filmes tinha enredo decente, encontrei alguma dificuldade em passar a ideia geral.

- Mas eles devem ser terríveis -, Robin disse. - Sentirei vergonha se descobrirem que vimos filmes tão ruins.

- Não entendi nada -, Christian disse.

- Nem eu -, Charlie disse. - Por que o sargento bombardeou a aldeia onde viviam os inocentes?

- Isso mesmo -, Christian disse. - Por quê? E o que fazia o menino com o cachorrinho no meio de tudo?

Charlie havia feito um serviço de primeira com a minha lição de grego, e eu admirava o resultado, antes da aula do dia seguinte, quando Vanessa entrou. Parada à porta, olhou para o lugar vazio da Dakota e riu.

A História Secreta - CamrenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora