Capítulo 25

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É demasiadamente terrível se identificar com os personagens dessa fic.

Curtam e comentam, isso ajuda no incentivo e se quiserem e puderem, compartilham a história com os demais. Muito obrigada e boa leitura!

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Meus pertences eram tão poucos que podia levá-los numa única viagem. Quando acordei novamente, por volta do meio-dia, empacotei tudo em duas malas e, deixando a chave na segurança, carreguei-as pela rua deserta, coberta de neve, até o endereço que a velha hippie me passara pelo telefone.

A caminhada era mais longa do que eu contava, e logo fui forçada a me afastar da via principal e cruzar uma região desolada perto do monte Cataract. Meu caminho seguia paralelo a um rio rápido, raso - o Battenkill -, cortado por pontes cobertas aqui e ali em seu curso. Havia poucas casas, e mesmo os trailers horríveis, medonhos, que se vêem frequentemente no interior de Vermont, com pilhas enormes de lenha na lateral e fumaça preta saindo pela chaminé, eram raros e espaçados. Não via carro algum, exceto os ocasionais veículos abandonados, apoiados em blocos de cimento, na frente das casas.

Teria sido um passeio agradável, embora cansativo, mesmo no verão. Mas em dezembro, com meio metro de neve, carregando duas malas pequenas e pesadas, eu até duvidava de minha capacidade para chegar ao final. Minhas juntas dos dedos enrijeceram com o frio, e mais de uma vez fui obrigada a parar para descansar. Gradualmente, a área parecia mais ocupada, e finalmente a estrada saiu onde me disseram que sairia: Rua Prospect, em East Hampden.

Desconhecia aquela parte da cidade, situada num planeta diferente dos locais a que me acostumara - pés de bordo e fachadas de tábua, pracinhas gramadas e torre com relógio. Aquele trecho de Hampden era formado por uma série de caixas d'água, trilhos de ferrovia enferrujados, galpões periclitantes e fábricas com portas fechadas por tábuas e janelas quebradas. Tudo ali parecia estar abandonado desde a época da Depressão, exceto um barzinho sem graça no final da rua que, a julgar pelos caminhões do lado de fora, faturava bem, mesmo naquela hora, início da tarde. Lâmpadas natalinas enfileiradas e enfeites de plástico decoravam o anúncio de cerveja em néon; espiando lá dentro, vi sujeitos alinhados no bar, usando camisa de flanela, todos empunhando copos de cerveja ou destilados. Nos fundos um grupo de jovens corpulentos, com bonés de beisebol, cercava uma mesa de bilhar. Parei do lado de fora da porta com painéis de vinil vermelho e olhei pela abertura mais uma vez. Deveria entrar e pedir informações, tomar um drinque, esquentar o corpo? Decidi que sim, e minha mão já tocava a imunda maçaneta de latão quando vi o nome do bar na janela: Boulder Tap. A julgar pelo noticiário local, o Boulder Tap era o epicentro de todas as contravenções cometidas em Hampden - esfaqueamentos, estupros, sempre sem testemunhas. Não era o tipo de lugar para se entrar sozinha uma jovem da minha idade e tomar um drinque, quanto mais uma estudante universitária perdida vinda do outro lado da cidade.

Acabou não sendo tão difícil assim localizar a residência da tal hippie, afinal de contas. Um dos armazéns, à margem do rio, era pintado de roxo-escandaloso.

A hippie parecia brava, como se eu a tivesse acordado, no momento em que finalmente respondeu às batidas na porta.

- Da próxima vez é só ir entrando, meu -, disse de cara feia. Era una mulher baixa, vestia camiseta manchada de suor e usava dreads no cabelo; dava a impressão de passar muitas noites fumando maconha. Apontou para o quarto onde eu poderia ficar, no alto de um lance de escadas de ferro (sem corrimão, claro), e desapareceu sem dizer mais nada.

Entrei no quarto empoeirado, observando o assoalho de tábuas e o teto alto, com vigamento exposto. Fora a cômoda quebrada e a poltrona de encosto alto no canto não havia mobília. Vi também um cortador de grama, um barril de óleo enferrujado e uma bancada, sobre a qual se espalhavam lixas, algumas ferramentas de carpinteiro e pequenas peças de madeira recurvada, possivelmente pertencentes ao exoesqueleto dos bandolins. O chão estava imundo, cheio de serragem, pregos, embalagens de alimentos, pontas de cigarro e revistas pornô gay da década de 70. As janelas estavam encardidas e embaçadas.

A História Secreta - CamrenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora