Capítulo 48

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Espero que vocês não achem ruim que esse capítulo seja longo. Foram mais de 3 mil fucking palavras! Quero esclarecer qualquer dúvida de vocês aqui mesmo, caso tenham, por favor comentem que irei responder educadamente na hora ^.^ Boa leitura.

Desaforos religiosos, ataques de mau humor, insultos, coerção, dívidas: apenas detalhes, irritantes por certo, mas ao que parece incapazes de levar cinco pessoas ao assassinato

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Desaforos religiosos, ataques de mau humor, insultos, coerção, dívidas: apenas detalhes, irritantes por certo, mas ao que parece incapazes de levar cinco pessoas ao assassinato. Mas, ouso dizer, só depois de matar uma pessoa me dei conta do quanto um assassinato é um ato complexo e enganador, não necessariamente provocado por um motivo único, dramático. Atribuí-lo a tal motivo seria fácil demais. Existiu, decerto. Mas o instinto de autopreservação não é tão decisivo quanto se crê. Afinal, Dakota não representava um perigo imediato, e sim um risco lento, paulatino, do tipo que pode, pelo menos em teoria, ser adiado ou afastado de várias maneiras. Posso imaginar facilmente nosso grupo lá, no local e momento determinados, de súbito ansiosos para reconsiderar a decisão, talvez até dispostos a conceder uma última chance, desastrosa. O medo de pôr nossas vidas em risco poderia nos ajudar a levá-la até a forca e colocar o laço em seu pescoço, mas um ímpeto mais urgente se fazia necessário para seguir em frente e tirar a cadeira.

Mas, espera! Vocês mesmos devem estar perdidos com a minha narrativa confusa e oblíqua. Peço desculpas, irei esclarecer alguns detalhes.

Sim, nós matamos a Dakota e eu gostaria de poder afirmar que agi levada por um motivo trágico, avassalador. Mas mentiria se dissesse isso; mentiria se afirmasse que, naquela tarde de domingo de abril, eu agi devido a um impulso do gênero. Ela apenas, sem se dar conta, nos deu o ímpeto que faltava.

Uma questão interessante: o que eu estava pensando, quando vi seus olhos arregalados de incredulidade ("Espera aí, pessoal, é uma brincadeira, não é?") pela última vez? Não pensei que ajudava a salvar meus amigos, certamente que não; nem pensei no medo; nem na culpa. Mas nas pequenas coisas. Nos insultos e nas insinuações homofóbicas, nas pequenas crueldades. As centenas de humilhações que se acumularam no decorrer dos meses, sem retribuição. Pensei nelas, e em mais nada. Foi só por causa delas que consegui observá-la sem um pingo de arrependimento ou piedade quando ela enfim se calou para sempre.

Mas antes do ato em si, Lauren, eu acreditava, tinha um plano. Não sabia qual. Ela sempre desaparecia sozinha em missões misteriosas, que talvez não tivessem nada demais. Era o que eu buscava acreditar. Mas na época, ansiosa para acreditar que alguém pelo menos controlava a situação, eu as enchia de esperanças significativas. Com frequência ela vinha no meu quarto mais tarde do que de costume, com os sapatos molhados e os cabelos desgrenhados pelo vento, os punhos e calça escura impecável manchados de barro. Ela encheu meu quarto de livros misteriosos, em idiomas do Oriente Médio que parecia ser árabe, os quais ela lia horas a fio em silêncio nas madrugadas que se seguiram.

A História Secreta - CamrenWhere stories live. Discover now