e vamos de Capítulo 56

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Antes de tudo, gostaria de lhes recomendar gentilmente que ouvissem qualquer música do The Neighborhood ao ler esse capítulo, e em especial A Little Death deles, que é muito foda.

Dionísio [é] o Mestre das Ilusões, capaz de fazer com que uma trepadeira brote do madeiramento de um navio, e em geral permite a seus seguidores que estes vejam o mundo como ele não é

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Dionísio [é] o Mestre das Ilusões, capaz de fazer com que uma trepadeira brote do madeiramento de um navio, e em geral permite a seus seguidores que estes vejam o mundo como ele não é.

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Só para constar, não me considero uma pessoa ruim (embora ao dizer isso eu realmente soe como uma assassina!). Sempre que leio sobre assassinatos nos jornais, impressiona-me a obstinada, quase tocante segurança com que estranguladores, pediatras adeptos de injeções letais, enfim, depravados e culpados de todas as descrições recusam-se a admitir o mal em si mesmos; sentem-se compelidos, até, a afirmar um tipo espúrio de decência. "Basicamente, sou uma boa pessoa." A frase é do último assassino sequencial - destinado a cadeira elétrica, ao que dizem -, que com o machado encarnado despachou recentemente meia dúzia de enfermeiras no Texas. Acompanhei seu caso com interesse pelos jornais.

Muito embora eu jamais tenha me considerado uma ótima pessoa, tampouco consigo me convencer de que sou má de modo espetacular. Talvez seja simplesmente impossível alguém pensar em si nestes termos, sendo nosso amigo texano um bom exemplo. O que fizemos foi horrível e, apesar disso, não creio que qualquer um de nós seja exatamente mau; atribuam tudo à minha fraqueza, ao orgulho da Lauren, ao excesso de exercícios de prosa em grego - a qualquer coisa.

Não sei. Suponho que deveria ter uma ideia melhor de onde eu estava me metendo. Contudo, o primeiro assassinato - do fazendeiro - havia sido tão simples aparentemente, uma pedra jogada no lago, afundando sem deixar ondas na superfície. O segundo também foi fácil, pelo menos no início, e não tive pistas do quanto se mostraria diferente depois. O que consideramos um peso ordinário, dócil (baque súbito, queda rápida até o fundo, águas escuras cobrindo tudo, sem deixar traço), foi de fato uma carga em profundidade que explodiu sem aviso prévio sob a superfície lisa, e suas repercussões ainda não cessaram totalmente, até agora.

No final do século XVI o cientista italiano Galileu Galilei realizou uma série de experiências sobre a natureza dos corpos em queda, largando objetos (a acreditar do que dizem) do alto da torre de Pisa para medir a aceleração conforme caíam. Suas descobertas foram as seguintes: os corpos adquirem velocidade durante a queda. Quanto mais um corpo cai, mas depressa ele se move. A velocidade de um corpo em queda livre equivale à aceleração da gravidade multiplicada pelo tempo da queda em segundos. Em resumo, considerando-se as variáveis do nosso caso, o corpo específico em queda viajava a uma velocidade superior a dez metros por segundo quando bateu nas pedras.

Percebe-se, portanto, a rapidez do fato. Impossível passar o filme em câmera lenta, ou examinar os fotogramas um a um. Vejo agora o que vi então, passando com a rapidez enganosa e fácil de um acidente: cascalho voando, braços estendidos, agitando-se, uma das mãos tentando agarrar um galho sem sucesso. Uma revoada de corvos assustados a sair do mato, crocitando negros contra o céu. Corte para Lauren, voltando da beirada. Depois o filme se rompe no projetor, a tela fica preta. Consummatum est.

A História Secreta - CamrenWhere stories live. Discover now