Capítulo 51

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não sei vocês, mas eu estou com muito medo de sair e cansada demais de ficar em casa;

                                ***
Estávamos na primeira semana de abril, uma época desagradável para todos. Dakota, que se mostrara relativamente calma até então, ficou furiosa com Lauren, que se recusou a levá-la de automóvel até Washington, D.C., para ver uma maldita exposição de moda da Dior. Os gêmeos recebiam telefonemas diários de enganos possivelmente propositais. A mãe da Robin descobrira sua tentativa de retirar dinheiro do fundo de investimento, e a cada dia enviava uma carta preocupada.

- Meu Deus -, ela resmungou, quando abriu a última carta e a leu com repugnância.

- O que ela diz na carta? -, perguntei.

- "Minha querida. Estamos preocupados com você" -, Robin leu com voz neutra. - "Embora eu não me considere uma autoridade da juventude atual, e embora você esteja passando talvez por algo que eu seja velha demais para compreender, sempre achei que você poderia buscar a mim para resolver seus problemas. Odeio tocar neste assunto, e não diria nada se seus avós não tivessem insistido, mas, querida, você sabe o quanto eles te amam, e como já viram este tipo de coisa antes. Por isso, telefonei para Betty Ford Center, querida, que tal? Eles prepararam um apartamento exclusivo para você, querida" por favor, me deixe terminar -, ela disse, quando comecei a rir. - "Sei que odeia a ideia, mas não precisa sentir vergonha, trata-se de uma doença, querida, foi o que me disseram quando estive lá, e agora sinto-me muito melhor, você nem imagina. Claro, não sei o que você anda tomando, querida, mas sejamos práticas, seja lá o que for, é caríssimo, e eu gostaria de ser muito sincera, preciso dizer que não podemos pagar, você sabe como é o seu avô, e temos impostos da casa a pagar, e tantas outras coisas..."

- Acho melhor você ir -, falei.

- Está brincando? Fica em Palm Springs, ou algo do gênero, e além disso eles te prendem lá e te obrigam a praticar aeróbica. Minha mãe vê televisão demais -, ela disse, olhando novamente para a carta.

O telefone começou a tocar.

- Merda -, ela disse, com uma voz cansada.

- Não atenda.

- Se eu não atender, ela é capaz de chamar a polícia -, ela disse, apanhando o telefone no gancho.

Saí (Robin andava de um lado para o outro: "Estranho? Como assim? O que quer dizer? Eu, falando de um jeito estranho?") e caminhei até a agência do correio, onde encontrei, em minha caixa postal, uma surpresa. Vanessa, em um recado elegante, me convidava para almoçar com ela no dia seguinte.

Vanessa, em ocasiões especiais, convidava a classe para almoçar na sua casa; ela cozinhava muito bem; quando ela era jovem vivia na Europa, dos juros do fundo de investimento, e conquistou a reputação de ser também uma excelente anfitriã. Esta foi, de fato, a base para conhecer tanta gente famosa em sua época. Gertrude Stein, em suas memórias, cita as "sublimes festinhas" da Vanessa Ives, e há referências similares em cartas de pessoas como Marlene Dietrich, a duquesa de Windsor e Maria Callas. Greta Garbo, famosa como convidada difícil de agradar, disse a Mercedes de Acosta que Vanessa era a inglesa mais charmosa que já conhecera - um elogio dúbio, admito - e Elsa Maxwell, ela mesma uma anfitriã de destaque, certa vez escreveu-lhe pedindo a receita de sole véronique. Mas, apesar de saber que Vanessa com frequência convidava Lauren para almoçar à deux, jamais recebera um convite para comer a sós com ela, e isso ao mesmo tempo me deixou orgulhosa e levemente preocupada. Naquele momento, qualquer coisa ligeiramente fora da rotina me parecia ameaçadora e, por mais que me sentisse lisonjeada, não pude deixar de pensar que ela tinha outro objetivo que não o prazer da minha companhia. Levei o convite para casa e o estudei. O estilo leve, indireto em que fora redigido pouco contribuiu para dissipar minha sensação de que havia algo por trás. Deixei um recado com a telefonista, confirmando minha presença para o dia seguinte, à uma hora.

- Vanessa não sabe nada do que aconteceu, certo? -, perguntei a Lauren quando a encontrei.

- Como? Claro que sabe -, Lauren disse, erguendo os olhos do livro.

- Ela sabe que vocês mataram o tal sujeito?

- Não precisa falar tão alto -, Lauren disse mordaz, virando-se na poltrona. E depois, em voz baixa. - Ela foi informada do que pretendíamos fazer. E aprovou. No dia seguinte fomos de carro até sua casa de campo. Relatamos os acontecimentos. Ela ficou encantada.

- Contaram tudo a ela?

- Bem, não vi razão para deixá-la preocupada, se é isso que deseja saber -, Lauren disse, ajustando os óculos antes de voltar à leitura.

A História Secreta - CamrenOnde as histórias ganham vida. Descobre agora