Capítulo 32

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Acordei às seis da manhã na quinta-feira, e planejava estudar grego, mas meu Liddell e Scott desaparecera sem deixar traço. Procurei, procurei, e acabei me lembrando, desolada: estava na casa da Lauren. Notara sua falta ao fazer as malas; por algum motivo, não se encontrava junto com os outros livros. Depois de uma busca apressada, porém diligente, desisti, pensando em voltar para pegá-lo outro dia. Isso me deixava em uma situação delicada. A aula seguinte de grego só aconteceria na segunda, mas Vanessa passara um bocado de tarefa, e a biblioteca ainda estava fechada, pois trocavam a classificação, de Dewey decimal para Biblioteca do Congresso.

Desci e disquei o número de Lauren, mas ninguém atendeu, como eu já esperava. Os aquecedores chiavam no corredor, onde ventava pouco. Lá pelo trigésimo toque do telefone, ocorreu-me o seguinte: por que não ir até North Hampden, simplesmente, e pegar o livro? Lauren não está em casa - pelo menos eu pensava isso - e a chave estava comigo. A casa de campo da Robin era muito longe de lá. Se me apressasse, chegaria em quinze minutos. Desliguei e corri para a rua.

Na luz fria matinal o apartamento da Lauren parecia deserto, não vi o carro, nem na entrada nem nos locais rua acima e rua abaixo onde ela preferia estacionar quando desejava evitar que soubessem de sua presença em casa. Só para ter certeza, bati na porta. Pas de résponse. Torcendo para não encontrá-la no corredor, de roupão, a me encarar confusa parada ao lado da porta do quarto, girei a chave cautelosamente e entrei.

Não havia ninguém, mas o apartamento estava uma bagunça - livros espalhados, papéis, xícaras de café e copos de vinho vazios; uma fina camada de poeira cobria tudo, e o resto de vinho nos copos secara, transformando-se numa mancha bordô no fundo. Na cozinha encontrei pilhas de pratos sujos, e o leite azedo, fora da geladeira. Lauren era, de hábito, limpa como uma gata; eu jamais a vira tirar o casaco sem que o pendurasse imediatamente. Uma mosca morta flutuava no fundo da xícara de café pela metade.

Nervosa, como ao entrar na cena de um crime, vasculhei rapidamente os quartos, os passos ecoando fortes no silêncio. Não tardei a ver o livro, em cima da mesa do corredor, um dos locais mais óbvios em que deveria procurar. Como pude deixar de vê-lo?, perguntei a mim mesma. Olhará por toda parte no dia da partida. Lauren a teria visto, e deixado ali para mim? Agarrei-o imediatamente, ansiosa para sair, inquieta, quando meu olhar foi atraído por um pedaço de papel também em cima daquela mesa.

Estava escrito, com a caligrafia da Lauren:  TWA 219
                 795 x 4

Um número telefônico, com o código DDD 617, na letra da Robin, fora acrescentado ao pé da página. Peguei o papel e o estudei. Elas usaram o verso de um aviso de atraso na devolução de um livro, cuja data era três dias antes apenas.

Sem mesmo saber por que, larguei o Liddell e Scott e segui para o telefone na sala da frente com o papel na mão. O código era de Massachusetts, provavelmente de Boston; consultei o relógio e disquei o número, transferindo a cobrança da ligação para o escritório do dr. Pearlman.

Um instante. Dois toques. Um clique. "Você ligou para o escritório de advocacia de Robeson Taft, na rua Federal" -, informou a gravação. -" No momento, não podemos atendê-lo. Por favor, telefone entre nove horas e..."

Desliguei e fiquei encarando o papel. Recordei-me, algo inquieto, da farpa de Dakota, dizendo que Lauren precisava de um advogado. Em seguida peguei o telefone novamente e disquei para o auxílio à lista, pedindo o número da TWA.

- Quem fala é Lauren Jauregui -, expliquei à pessoa que me atendeu na companhia aérea. - Estou telefonando para confirmar minha reserva.

- Um momento, senhora Jauregui. Qual o número da reserva, por favor?

A História Secreta - CamrenWhere stories live. Discover now