1 - Um novo começo para Yumi

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Era manhã de domingo, o sol banhava a estrada com luz e calor. Em um hotel de beira de estrada mixuruco uma garota olhava fixamente para o teto, deitada na cama empoeirada do quarto. Seus cabelos longos e castanhos estavam esparramados pelo travesseiro e ela brincava com uma mecha sem perceber. Seus olhos cor de mel fitavam uma mancha de mofo no teto por tempo a mais que uma pessoa normal olharia. Quem olhasse de longe poderia jurar que a garota estava tendo algum tipo de pensamento profundo, mas só ela sabia que não pensava em nada, apenas fitava a mancha como se olhasse o nada. Seu transe foi interrompido quando seu namorado se jogou na cama, balançando o colchão.

— Já está pronta para ir? — Perguntou Gustavo enquanto calçava seus sapatos.

Yumi tirou seus olhos do teto e os pousou no garoto. Sua pele era bronzeada e nitidamente macia, seus cabelos eram castanhos e cacheados e seus olhos tão negros quando jabuticaba. Ele era bonito, Yumi pensava, mas não conseguia sentir mais aquela atração por ele. Não sentia vontade de pular em seus braços e beijá-lo como se não ouvesse amanhã, e a garota tinha quase certeza que o namorado sentia o mesmo.

Gustavo a olhou por uns segundos depois de colocar os sapatos, esperando uma resposta. Yumi, que tinha virado a noite pensando no assunto, já tinha uma resposta, talvez até tivesse certeza que quisesse aquilo, mas não tinha coragem para manifestar sua ideia, não para ele. Ela levantou o tronco e se colocou sentada na cama, suspirou e disse por fim:

— Sabe, eu estive pensando... — Hesitou

— No que? — Perguntou ele sem mostrar interesse ou atenção.

— O que você acha da gente ficar mais uns dias?

Gustavo, que estava mexendo no celular, parou e a fitou por longos segundos. Depois soltou uma risada forçada, como a que alguém dá quando uma pessoa conta uma piada que não é engraçada.

— Só você, Yumi. — E então passou os dedos no cabelo da garota, bagunçando-os. — Vamos?

Yumi não teve forças nem coragem para dizer que não era piada, que estava falando mais do que sério e que esteve pensando nisso desde o momento que pisaram na Coréia. Sem tentar mais uma vez entrar no assunto, ela pegou suas malas e eles se dirigiram para o carro, onde colocaram tudo no porta-malas e iniciaram a viagem de volta.

Gustavo dirigia, apesar de Yumi ter alugado o carro. Ela olhava fixamente para o fim da estrada que sempre aumentava de tamanho. Se sentia triste e sozinha, talvez fosse pela morte do pai de consideração, ou talvez ela realmente já não se sentisse feliz há muito tempo. Yumi não sabia dizer. Depois de tantos perrengues na vida, ela se acostumou a aceitar qualquer coisa que a deixasse perto de ter uma vida consideravelmente normal.

Ainda olhando fixamente a estrada, Yumi percebeu uma grande placa se aproximando a medida que eles se deslocavam. Quando chegou perto o bastante para ela conseguir ler, leu: "Posto Mojuha há 3km". Mesmo que tivessem acabado de sair do hotel, talvez fosse bom dar uma parada, comprar uns doces e continuar a viagem. Yumi às vezes sentia vontade de beber álcool para saber se é verdade o que dizem, que deixa você mais feliz, mas ela não cedeu a tentação e começou a comer chocolate sempre que se sentia angustiada. Funcionava um pouco, o doce parecia correr por suas veias e amenizar o estresse, mas não era de efeito muito duradouro.

Quando, uns dois quilômetros depois, avistou um pontinho que julgou ser o posto, Yumi resolveu em fim comentar com Gustavo.

— Ei, — O chamou. — o que você acha da gente parar naquele posto de gasolina ali em frente?

— O tanque já tá cheio. — Respondeu com rispidez.

— Não é pra comprar gasolina. Eu estava afim de uns doces.

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