Capítulo 1

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Gente, para não deixar vocês tão confusos com a estória, deixo-lhes algumas informações. As palavras a seguir são memórias e narrativas reflexivas da personagem principal.
Sendo somente isso, boa leitura!

(...)

No último ano de faculdade, comecei a sair com Mark Dearbold, e no semestre final mudei para seu apartamento fora do campus: na rua Saint Saens, a poucos metros da casa da Lauren, onde as rosas viravam mato no quintal ( não fiquei muito tempo mora...

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No último ano de faculdade, comecei a sair com Mark Dearbold, e no semestre final mudei para seu apartamento fora do campus: na rua Saint Saens, a poucos metros da casa da Lauren, onde as rosas viravam mato no quintal ( não fiquei muito tempo morando ali para vê-las florescer, pensei, as rosas com cheiro de framboesa) e o rottweiler que sobreviveu a suas experiências químicas latia para mim quando eu passava pela frente da casa. Mark arranjou um emprego numa companhia de artes de Los Angeles. Pensávamos que estivéssemos apaixonados. Falamos em casamento. Embora tudo, em meu subconsciente, me prevenisse contra isso (durante a noite eu sonhava com acidentes de carro, atiradores na rodovia, olhos brilhantes de cães furiosos em estacionamentos suburbanos e com ela me olhando de longe tentando, eu acho, me passar alguma mensagem), depois de uns oitos meses juntos, Mark e eu rompemos. Considerava-me uma pessoa opaca e pouco comunicativa, ele disse. Nunca sabia o que eu estava pensando.

Depois disso tudo, assim que terminei meus estudos na faculdade, passava a maior parte do tempo na biblioteca, lendo teatrólogos jacobinos. Webster e Middleton, Tourneur e Ford. Era uma especialização obscura, mas os universos traiçoeiros onde se moviam, à luz de velas - plenos de pecados sem punição, de inocência destruída -, me atraíam. Até os títulos das peças eram estranhamente sedutores, passagens secretas para algo belo e perverso que existia debaixo da superfície da mortalidade: O descontente. O demônio branco. O coração partido. Lia-os detidamente, faço anotações nas margens. Os jacobinos sem dúvida entendiam de catástrofes. Compreendiam não apenas o mal, mas os truques extravagantes que o mal utilizava para se apresentar como sendo o bem. Sentia que eles iam ao fundo da questão, à podridão essencial do mundo.

Sempre apreciara Christopher Marlowe, e pensava muito nele também. "Gentil Marlowe", um contemporâneo o apelidara. Era um estudioso, amigo de Raleigh e Nashe, o mais brilhante e instruído dos eruditos de Cambridge. Ele se movimentava nos círculos literários e políticos mais altos; e de todos os seus amigos poetas, ele foi o único citado por Shakespeare, diretamente; contudo, ele também foi um falsificador, um assassino, um sujeito de companhias e hábitos questionáveis que "morreu praguejando" numa taverna aos vinte e nove anos. Naquele dia, seus companheiros eram um espião, um batedor de carteiras e um "servente alcoviteiro". Um deles esfaqueou Marlowe, fatalmente, pouco acima do olho: "de tal ferimento o citado faleceu. Marlowe morreu instantaneamente".
Sempre penso neste trecho de Doctor Faustus:

"Creio que meu mestre planeja morrer em breve,
pois me deixou todas as suas posses..."

Quando eu escrevia minha tese sobre a tragédia poética dos jacobinos, recebi a seguinte carta da Robin:

A História Secreta - CamrenWhere stories live. Discover now