Vinte e cinco - Parte I

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Assim que saboreou o álcool, sentiu-se mais tranquila — e mais culpada ao mesmo tempo.

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Juliana sentiu seu próprio coração bater na garganta quando se deu conta que estava atravessando o saguão reluzente do JFK, empurrando um carrinho com suas bagagens pelo principal aeroporto de Nova York, enquanto uma Valentina empolgada tirava fotos da gigantesca bandeira dos Estados Unidos pendurada no teto.

Era difícil de acreditar, mas num dia estava vendendo cartões de loteria em esquinas e no outro levava sua coleção para a New York Fashion Week com a mulher de sua vida ao seu lado. Não pôde deixar de abrir um sorriso com a reflexão.

Ao ver a namorada sorrir, Valentina se escorou no carrinho de bagagens e a beijou rapidamente.

— Dá para acreditar em tudo que está acontecendo? Estou muito orgulhosa de você. — disse Val, como se pudesse ler os pensamentos de Juliana.

O momento que as envolvia foi quebrado assim que atravessaram as portas duplas que separavam o terminal de desembarque dos pontos de táxi, seguidas por Fernanda, e foram surpreendidas por flashes de câmeras fotográficas. Um trio de paparazzis registrava a chegada delas à cidade.

— Ei, vocês são um trisal agora? — berrou um dos fotógrafos, em espanhol. As mochilas enormes nas costas dos rapazes indicavam que eles não eram dali, e também tinham acabado de desembarcar.

— Valentina é minha única namorada, e já está na hora de vocês pararem de tentar conseguir cliques às nossas custas usando boatos e... — começou Juliana, dando alguns passos na direção deles.

— Deixa para lá, Juls. — pediu Valentina, com a voz triste, a segurando pela mão. — Só vamos embora. Não deixe isso atrapalhar o melhor momento da sua carreira até agora.

Fernanda, por outro lado, estava adorando a atenção. Depois de soltar uma sonora gargalhada para o comentário sobre serem um trisal, a empresária jogou beijos para as lentes e posou para os fotógrafos.

— Você precisa ter mais senso de humor, Val. — comentou ela, abrindo um sorriso sarcástico.

— Você tem razão. Talvez eu devesse rir. A ideia de que formaríamos um trisal com você realmente é uma piada. — retrucou Valentina.

— Acho melhor colocarmos as malas no táxi e irmos para o hotel. — interferiu Juliana, antes que o princípio de confusão saísse do controle.

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Quando as três mulheres saltaram do carro na esquina da luxuosa Quinta Avenida com a 58th Street, já estavam infectadas pelo ritmo efervescente e efusivo do ambiente. Nova York era uma cidade de superlativos, em que cada sentimento era amplificado e intensificado de maneira desproporcional.

Fernanda demonstrava o efeito de Manhattan sobre ela berrando sem parar ao celular, gritando ordens descontroladas sobre peças da coleção, araras e elementos do cenário que seriam enviados do México em um avião cargueiro.

Já Juliana e Valentina pareciam habitar um planeta particular, em que tudo se movia em câmera lenta. Desde que se conheceram, a vida não foi fácil para nenhuma das duas, das mais variadas formas. Estar tão longe de casa — e ao mesmo tempo tão perto uma da outra — oferecia a impressão de terem deixado todos os problemas para trás, e finalmente estarem perto de viver o relacionamento calmo que sempre quiseram. Além disso, algo no caos organizado e charmoso de Nova York ofertava uma esperança luminosa e consistente para as duas. Parecia que, independente do que acontecesse, ficaria tudo bem no final.

Conocerás tus sueñosWhere stories live. Discover now